“Se o governo usar melhor o que nós sabemos, em vez de criar empecilhos para a pesquisa, ainda dá tempo de salvar a floresta”.
(Willian Overal, entomólogo americano e ex funcionário do Museu Emílio Goeldi).
A matéria nos mostra claramente, que apesar de termos a maior biodiversidade do mundo, com forte potencial para se produzir e atender os vários setores industriais, esbarramos na falta de técnica para descobrir e explorar essa imensa riqueza.
Nós, amazônidas não temos projetos de pesquisa nem científicos eficientes, capazes de serem considerados qualificados, nossa demanda de cursos superiores voltados para a área nem se aproxima dos números do resto do país.
A biopirataria nos cerca de todos os lados. Cientistas e pesquisadores estrangeiros “invadem” nossa floresta e “roubam” o que poderíamos estudar. Burlam licenças e saem do país sem sequer terem nos dado satisfações. A burocracia é outro empecilho, fazendo com que muitos de nossos profissionais desistam de seus projetos. Com isso é crescente a demanda de estudiosos estrangeiros por aqui.
Boa parte do que sabemos sobre a nossa terra se deve a eles.
Para salvar a nossa floresta é necessário conhecer o bioma amazônico, mas infelizmente estamos de mãos atadas para tal.
Camila Emília Nonato de Barros 4 JLN11
VELHO ESTIGMA, NOVA ROUPAGEM
Thaís Luciana Corrêa Braga 4 JLN11
O tesouro escondido na selva – com esse título a Veja inicia a quinta matéria de sua edição especial Amazônia. Só essas cinco palavras já são o bastante para mostrar o preconceito e a ignorância da revista em relação ao que se propôs estudar.
“O”, artigo definido: remete a algo único, só, determinado; logo, conhecido. “Tesouro”, substantivo de significação relativa, mas geralmente atribuído a algo valioso. “O tesouro” ao qual a reportagem faz menção é a biodiversidade da Amazônia – o que, logo de cara, revela o desconhecimento do caráter multifacetário da região. Se o título fosse realmente justo, deveria ter sido colocado no plural, pois há muito mais do que variedade de espécies animais aqui. “Escondido”, forma verbal no particípio passado do verbo esconder. Além de não passar a idéia de movimento, significa que algo está guardado, encoberto, alguém precisa revelar, mostrar, desbravar – alguém que, de acordo com a reportagem, não é o amazônida. “Na selva”, advérbio de lugar; mostra onde o tesouro está escondido. Aqui, seria ponto para a Veja, caso ela realmente estivesse falando do ecossistema equatorial sem a carga depreciativa implícita no decorrer do texto.
Penso que a presença humana deveria ser considerada na reportagem como um dos tesouros da Amazônia – cujo valor não está escondido, embora os estrangeiros finjam não existir. Não me refiro apenas aos urbanóides das metrópoles; falo das pessoas que vivem nas reservas indígenas, nas comunidades quilombolas e nas regiões ribeirinhas. Gente que não precisa de comprovação escrita para saber a importância dos recursos naturais. Gente que merece igualmente ser objeto de estudo do saber dito científico em função da cultura produzida. Gente que também investiga a Amazônia, mesmo que para isso precise sair daqui para universidades do centro-sul.
O amazônida parece não existir para a revista. Tanto que nas imagens da matéria são apresentados apenas pesquisadores estrangeiros (a paulista, nesse contexto, pode ser considerada como tal). A exceção são das crianças apresentadas nas páginas de abertura da matéria (carregadas de subjetivismo... como se nós, aqui do norte, precisássemos de tutela, de guia para crescer) e a pesquisadora da Embrapa (o repórter não frisou a naturalidade da mulher, então posso supor que ela seja das bandas de cá).
Ou seja, mesmo depois de mais de 500 anos de história, a Amazônia ainda é vista como um vazio demográfico e cultural que precisa ser educado, já que ninguém aqui consegue pensar por si só. Realmente concordo que a quantidade de pesquisadores na Amazônia é pequena, que a burocracia brasileira dificulta bastante o trabalho legal dos mestres e doutores, que os cursos de pós-graduação precisam melhorar em qualidade. Daí a considerar que os sulistas e estrangeiros são os Messias da história é outra coisa. Engraçado que a reportagem fala da burocracia para se realizar pesquisas na Amazônia, contudo vangloria-se de mostrar que as universidades do sul e sudeste têm nota 7 no Capes – órgão igualmente burocrático e governamental, mas que ironicamente funciona para eles. Aparentemente, são dois pesos, duas medidas.
Quando o autor da matéria diz “boa parte do conhecimento que se tem sobre a Amazônia se deve aos estrangeiros”, ele joga fora o conhecimento das narrativas orais indígenas e ribeirinhas em função da ditadura da escrita. Essa ingrata frase permite, por exemplo, que eu rebata na mesma moeda, dizendo que São Paulo é um lixão a céu aberto. Ou que no Rio de Janeiro só tem traficante. Ou que em Brasília só tem ladrão. Ou que todo o nordeste vive na miséria.
Mas eu não farei isso, porque dessa forma estarei me igualando à pequenez de quem se acha superior. Quem sabe a revista, quando a Veja realmente quiser divulgar a sua versão acerca da Amazônia, ela primeiro passe pelo menos uns dez anos aqui e entenda a cultura, a dinâmica, a cosmovisão daqui. Daí, nesse dia, eu terei prazer em ler essa revista.
“É PRECISO MÃOS E CÉREBRO PARA DESCOBRIR A RIQUEZA ESCONDIDA DA AMAZÔNIA. E É ISSO QUE FALTA DE FORMA CRÔNICA À ESSA REGIÃO”
Lorena Palheta 4JLN11
Analisando esse trecho presente no início da reportagem, a idéia que o leitor tem é de que na Amazônia só há pessoas incapazes e preguiçosas que não possuem noção do potencial da floresta. Isso não é verdade. Essa visão é semelhante a do português ao se deparar com os índios.
Os povos nativos viviam (e os que sobreviveram ainda vivem) em sintonia, de maneira sustentável, com a floresta. Não foram esses nativos que trouxeram a destruição e devastação da floresta. Pelo contrário, eles foram os mais prejudicados com a urbanização e “modernização” que a Amazônia sofreu.
Indo contra ao que diz a reportagem, vale ressaltar que não são apenas pessoas de fora que entendem e discutem a Amazônia. Aqui existem profissionais e empresas emprenhados para tanto e o assunto “Amazônia” é muito discutido no meio acadêmico.
Ao falar que aqui não tem “cérebro”, o autor do texto esquece e desqualifica o conhecimento popular dos povos das florestas que aprendem a manipulação dos vegetais há várias gerações. Foi atrás do conhecimento desses povos que empresas como a “Natura” foram até a Amazônia e se apropriaram de técnicas usadas por eles para faturar e passar a idéia de empresa sustentável. Enquanto as quem vive da comercialização de ervas, sementes e essências ficam cada vez mais sem campo para trabalho e assistem suas idéias se transformarem em negócios milionários sem que elas tenham parte nisso.
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