Há muito tempo atrás, no rio Ituquara, município de Breves-Pa, dona Maria da Luz Pereira aos 89 anos (atualmente falecida em 04/05/2009), contava para sua família algumas narrativas para explicar fatos acontecidos.
Segundo Maria da Luz, em um belo dia, uma linda moça conhecida como Francidalva menstruou pela primeira vez aos 17 anos. Mesmo sabendo de todos os fatos acontecidos e contados por seus descendentes sobre o boto, saiu para andar de casco e, conforme as crendices do nosso povo, uma moça quando menstrua não pode ir ao rio por causa do boto. Pois ele sente o cheiro do sangue e persegue a mulher, pode até apaixonar-se por ela, foi o que aconteceu, o boto apaixonou-se por Francidalva.
Quando a moça completou 20 anos, casou-se e ganhou um pedaço do terreno da sua mãe Dalila Ramos dos Santos. Nesse local, a jovem construiu um pequeno tapiri para morar. Passaram-se pouco tempo, a moça engravidou. Ela começou a se tratar com sua mãe que era parteira e cuidava de algumas pessoas doentes que a procuravam. No mês que Francidalva estava para ganhar bebê, a moça não quis ir para junto de sua mãe, contrariando a tradição entre as parteiras de cuidar das mulheres paridas até findar o período de resguarde.
Francidalva não quis ter o filho na casa de sua mãe, mas ela fez o parto e deixou-a em seu tapiri. O marido de Francidava, João Mateus, gostava de sair para peraquerar todas as noites e não entendia que sua mulher estando de resguarde poderia ser perseguida pelo boto, deixava ela sozinha. Os dias foram passando e Francidalva começou a ficar triste e indisposta, pois não conseguia nem levantar-se mais de sua rede. A sua mãe sendo muito esperta começou a perceber e entender tudo que estava acontecendo e falou para o marido de Francidalva “você precisa ficar de tocaia pra ver o que acontecendo com sua mulher!”.
Na noite seguinte, João Mateus fingiu ter ido peraquerar, fez um rodeio com seu casco no rio, entrou na mata e ficou de tocaia perto do tapiri pra ver o que acontecia. Em pouco tempo depois que ele saiu, o boto chegou e foi direto para a rede com a intenção de deitar com Francidalva. Então, o marido compreendeu toda aquela indisposição e veio com uma arma pra matar o boto que ali estava, transformado em homem, mas o boto foi atento, correu e pulou na água. Conforme Maria, o fato acontecido fez com que a família viesse morar na cidade.
Autora: Maria da Luz Pereira
Acadêmicos: Benedita do Socorro Pereira Pinheiro, Bibiana Farias dos Santos, Eliete do Socorro da Costa Marques, Iracema dos Passos Pinheiro
Postado por Raimundo Tocantis, Pedro Leal, Joel Pantoja, Maurício Corrêa