Josiane Pereira dos Santos
Especialização em Língua Portuguesa e Análise Literária - 2010
Universidade da Amazônia- UNAMA
Com frequência, ouvimos que no Brasil só se fala português. Será mesmo verdade?
O Brasil também é um país plurilíngue, onde se falam cerca de 200 idiomas, dos quais 180 são usados pelos grupos indígenas. Há também quase 30 línguas faladas pelas comunidades descendentes de imigrantes e duas línguas de sinais. O que nos distingue das outras ex-colônias lusas é que, no caso do Brasil, a língua portuguesa assumiu um status de língua de comunicação geral, uma língua franca.
A língua portuguesa é também a língua oficial do país e o código usado em todas as escolas brasileiras para o trabalho pedagógico. A exceção são as escolas indígenas para as quais a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) garantiu o ensino bilíngue. Estima-se que haja hoje 174 mil estudantes indígenas em escolas bilíngues ou multilíngues. Já as escolas monolíngues, que usam o português como código para transmissão de conhecimento, atendem a 53.028.928 milhões de estudantes matriculados no Ensino Básico, de acordo com o senso escolar de 2008 (MEC). (BORTONI-RICARDO)
Devemos entender que o Brasil, ao longo da história da humanidade, não foi uma terra sem dono e comprada por Portugal há uns 500 anos. Havia povos, os chamados pelos europeus de índios, que já habitavam as terras brasileiras e que possuíam outras línguas. Algumas continuam a ser usadas hoje. Poderíamos lembrar na Amazônia tanto os Aikewára, como os Xipaia, sociedades indígenas que falam línguas do tronco lingüístico Tupi, por exemplo.
Crianças Aikewára - Foto Maurício Corrêa
Para conviver com esses povos, o Brasil recebeu grande fluxo migratório e os grupos africanos foram os principais. Trazidos para atender aos interesses econômicos da Europa, os negros africanos tentaram preservar a sua cultura e resistir à dominação lusitana. Para isso, os negros que conseguiam fugir das senzalas se reuniam em comunidades, os quilombos, onde podiam se defender da recaptura bem como preserva parte de suas culturas e de suas línguas.
Na região Amazônica, encontramos inúmeras comunidades quilombolas, como a comunidade do Curiaú, em Macapá-AP, ou as comunidades Peafu, Passagem, Curral Grande, Miri e Flexal, que ficam em Monte Alegre-PA. Com a abolição da escravatura e as atuais políticas de afirmação, grande parte das comunidades quilombolas passou a interagir com as cidades próximas e, com isso, os quilombolas não puderam preservaram tanto suas línguas, embora elas tenham influenciado fortemente o português brasileiro. Mas podemos apreciar a tradição dos quilombos em inúmeros festejos e no dia a dia de tais povos:
Foto da Festa de Santo Antônio, Curiaú, Macapá, Amapá. |
E o povo do judô?
Para continuar a evidenciar o multilinguismo na Amazõnia, ressalta-se os japoneses:
Em setembro de 1929, aportaram na cidade paraense de Acará, atual Tomé-Açu, os primeiros imigrantes japoneses na região amazônica. Naquele ano, a economia mundial passava por uma grande crise à qual o Japão não ficou imune. Naquelas circunstâncias, muitos japoneses sonharam com as terras sul-americanas e atravessaram os oceanos. (Embaixada Japonesa no Brasil).
Ainda segundo a Embaixada Japonesa, hoje a comunidade nipônica no Brasil é composta por mais de 160 mil pessoas, as quais cultivam seus costumes e, muitos, a língua.
Como vimos, falar em uma língua única no Brasil é excluir o país do processo histórico, bem como não enxergar um fato enriquecedor da nossa nação: a diversidade cultural ressaltada na diversidade linguística. Por isso, somos o país dos quilombos, aldeias e do povo do judô, como de tantas outras comunidades.
Artigo: Problemas e tendências no trabalho educacional com a língua portuguesa considerando sua condição de língua majoritária no Brasil. Bortoni-Ricardo, acessado: http://www.stellabortoni.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=663:palistaa_oo_ioogaisso_ii_liogua_poatuguisa&catid=1:post-artigos&Itemid=61
aikewara.blogspot.com
Sobre os Japoneses no Brasil, acessado: http://www.br.embjapan.go.jp/boletim/amazonia80.htmhttp://wapedia.mobi/pt/Amazonas?t=4.