Nos últimos 47 dias, cerca de 200 haitianos estão no Acre. Dezesseis em Rio Branco e o restante em Brasiléia. A rota que fizeram para chegar aqui é muito incrível. Parte deles vieram a pé de Puerto Maldonado até Brasiléia. Somente hoje foi assegurado, pelo governo do estado, a liberação de recursos para fornecer três refeições diárias às pessoas que estão do "refúgio" naquela cidade. Até então estava sendo fornecida somente uma refeição.
Estamos tentando conseguir hospedagem mais decentes aqui em Rio Branco. Porém continuam chegando mais haitianos - mulheres, crianças e homens - que passaram a entrar também pela Bolívia. A ordem de Brasília é fechar a fronteira, sendo que tem 45 pessoas detidas em Iñapari, cidade fronteiriça à Assis Brasil. Nem alimentos estão nos permitindo repassar para eles. Fala-se em contaminação, barreira sanitária e risco de tráfico humano.
O mais curioso é que, há dois anos, o governo abrigou, com todas as regalias, mais de 600 bolivianos na cidade de Epitaciolância, separada de Brasiléia por uma ponte. Esses bolivianos eram os franco-atiradores que, sob a liderança do fascista do Leopoldo, então governador de Pando, assassinaram centenas de indígenas e campesinos em Cobija. Muitos deles continuam desaparecidos.
Pelos dados do governo federal, além dos 200 haitianos que estão no Acre, já tem mais de seis mil no resto do Brasil. Nas conversas que temos tido com os que estão no Acre, a maioria fala muito mal dos deserviços praticados pela força de ocupação da ONU/Brasil no Haiti. As violências não são poucas.
Cremos na necessidade de fazermos denúncias e intervenções políticas, insistindo não somente na necessidade de abrir as fronteiras, coisa que a Dilma não parece muito interessada, mas em assegurar condições dignas de recebimento/acolhimento de todos os que estão pedindo refúgio no Brasil.
Saudações.
Professor Gerson Albuquerque / UFAC- Universidade Federal do Acre