Universidade Federal do Pará
Instituto de Letras e Comunicação
Faculdade de Letras
Disciplina: Recursos Tecnológicos
Professora: Ivânia Neves
Junho/2014
Arthur Helder Bandeira Alves
Katharine Martins Cordovil
Maria do Carmo Ribeiro Casseb
Introdução
A música sempre
teve um valor muito grande em nossas vidas: serve como consolo em momentos
difíceis, revela alegrias, é instrumento de manifestação de opinião, possui um
valor político... A música faz parte também da identidade cultural de um povo,
revela costumes, crenças, vocabulários, ou seja, todos esses componentes que
tornam a cultura tão rica e tão diversa. Mas, há também outra questão que é
constantemente levantada quando se trata da música enquanto elemento de
identidade cultural: há estilos musicais que podem ser considerados melhores
que outros?
Vemos a grande mídia fomentar o
sucesso de vários artistas cujas qualidades são um tanto questionáveis. Letras
sem sentindo algum, letras carregadas de repetições silábicas, letras com
enorme apelo sexual e que prezam por destacar a ostentação de bens materiais,
são alguns exemplos que compõem a avalanche do enfraquecimento
cultural/intelectual a que somos acometidos.
Que Brega É Você
Allan Carvalho
Quem é você
Que manda às favas o meu senso crítico?
Que
faz você
Que
ri da minha capa e dos meus discos?
E
joga na fogueira os livros raros
Quem
é você?
Quem
é você?
Eu
não sou mais eu...
Tudo
bem,
Eu
ligo o dial, o pop som, o baile da saudade em megatons
Por
você eu compro um carro, eu vendo Avon
Vou
ao show do Reginaldo, eu mudo o tom
Quem
é você?
Quem
é você?
Eu
não sou mais eu...
Quem
é você?
Eu
não sou mais eu...
Aí surge uma grande questão: qual o
interesse por trás da supervalorização, por parte da mídia, de artistas que
pouco contribuem para a formação de um pensamento crítico e que, em suas
músicas, muito deixam a desejar se comparados às músicas dos artistas
paraenses?
Voltando nossa
atenção para a mistura musical que compõe os ritmos típicos do nosso estado, é
comum ouvirmos comentários que inferiorizam as canções paraenses quando
comparadas a estilos musicais de outras regiões do Brasil.
Outra questão é saber quais os
argumentos utilizados para se julgar que “os ritmos de fora” têm um valor maior
do que aqueles produzidos por músicos locais. Estilos musicais como o brega, o
melody, o tecnomelody, por exemplo, foram taxados por muito tempo como ritmos
musicais de periferia, sendo comumente associados à criminalidade e violência.
A cidade de Belém, por exemplo, possui uma variedade de ritmos muito
heterogênea, que vai desde o carimbó do Mestre Verequete, passando pelas toadas
de boi-bumbá do Arraial do Pavulagem, pelo eletromelody da Gang do Eletro, a
guitarrada dos Mestres da Guitarrada, o brega de Wanderley Andrade até a
versatilidade de Lia Sophia e Felipe Cordeiro.
As músicas desses e de tantos outros
artistas populares são carregadas de informações sobre o estado do Pará, sobre
a cidade de Belém, que desenham os hábitos, enfatizam o vocabulário, mostrando
a riqueza e a diversidade cultural da cidade das mangueiras. Esse olhar sobre
nossa terra tem servido inclusive de inspiração para bons produtores musicais,
não somente daqui, mas também de fora do estado do Pará, gerando parcerias que
tem como resultado festivais musicais de grande importância, como o Terruá
Pará.
Utilizar a
música como meio de retratar as manifestações culturais que acontecem no estado
do Pará, mais especificamente na cidade de Belém, é algo feito com grande
maestria e talento pelos músicos paraenses. Toni Soares, em sua música “A força
que vem das ruas”, fala de inúmeras manifestações e situações próprias do
cotidiano belenense, o que torna a música esse ambiente rico, amplo e dinâmico,
em que toda ideia é válida.
A Força Que Vem das Ruas
Toni Soares
Belém,
belém, belém
Será
que tá tudo bem... será?
A
música na praça, o boi fazendo graça
É
ronaldo e seu meninos ensinando à nação
Que
o futuro tá no centro da cultura
Da
cultura popular
E
"taca" carimbó de pinduca, de lucindo,
Cupijó,
verequete, "pavulagem" dos meninos,
Eduardo,
taynara e cavalléro vão tocar no preamar
Preamar
Belém,
belém, belém
Será
que tá tudo bem... será?
O
couro treme a terra de fabico, de setenta,
Malhadinho
do bandeira, "seu" rufino, "seu" joaquim,
Laurentina
muito linda quando canta dá vontade de chorar
De
chorar
O
grande capitão nos "boca de ferro"
Da
pedreira, marambaia, terra firme, sacramenta,
Marituba,
ananindeua, icoaracy, do benguí pro guamá
Belém,
belém, belém
Será
que tá tudo bem... será?
Referências
COSTA, Tony Leão
da. Brega paraense: indústria
cultural e tradição na música popular do Norte do Brasil. Anais do XXVI Simpósio
Nacional de História – ANPUH - São Paulo, julho
de 2011.
JENKINS, Henry. Cultura da Convergência. São Paulo:
Aleph, 2008.
KELLNER,
Douglas; SHARE, Jeff. Educação para a
leitura crítica da mídia: democracia radical e a reconstrução da educação.
Educ. Soc., Campinas, vol. 29 - n. 104 - 2008.
SILVA, Edilson
Mateus Costa da. Ruy, Paulo e Fafá: a
identidade amazônica na canção Paraense (1976-1980). Instituto De Filosofia
E Ciências Humanas, Universidade Federal do Pará. Belém, 2010.