sexta-feira, 8 de maio de 2020

Interfaces do racismo nas mídias: das práticas ao antirracismo 

Atualmente a mídia pode ser vista como uma das maiores formadoras de opinião da sociedade atual, podemos afirmar que ela faz parte do processo civilizador de cada indivíduo. Por intermédio de suas mensagens, notícias, anúncios e ideias a mídia exerce a sua função maior, a de COMUNICAR. Entretanto, esse enorme poder muitas vezes não é exercido com RESPONSABILIDADE SOCIAL, ou seja, ao invés dos grandes meios usarem de sua credibilidade e confiabilidade para educar, instruir e transformar pensamentos de ódio em esclarecimento social, ela se vale da liberdade de expressão para reforçar ideias racistas, aumentar descriminação e prestar um desserviço público. 
À medida que os grupos minoritários ganham força e voz no Brasil, a grande mídia passa a ter uma certa preocupação em passar sua mensagem de maneira mais politicamente correta possível, daí então o cenário (principalmente) publicitário entra na “era” do RACISMO VELADO.
O que é isso?
Simples, é o mesmo discurso racista propagados durante anos nos grandes meios de comunicação, mas agora com um fino véu que apenas sugere, propõem, entrevê o mesmo velho lugar de fala racista.

Com a finalidade de apresentar novas concepções sobre o papel dos meios de comunicação enquanto veículos de abordagem de temas como preconceito, racismo e descriminação racial, assim como o de orientar quanto a uma outra forma de pensar sobre aquilo que lemos, escrevemos e compramos (seja ideário ou material) que essa oficina se valerá de três papeis fundamentais:  primeiro, o papel do professor em orientar e auxiliar. O segundo, fica por conta do aluno em aprender e refletir. E o terceiro, nosso papel como cidadão empenhado em transformar criticamente nossa realidade! 


Universidade Federal do Pará
Instituto de Letras e Comunicação
Faculdade de Letras-Habilitação em Língua Portuguesa
Recursos tecnológicos e ensino de Língua Portuguesa
Profa. Dra. Ivânia Neves
Equipe: Amanda Gabriela de Castro Resque, Gabriela de Andrade Batista, Victor Fernandes Verçosa, Kysa Melo de Oliveira.

Projeto de ensino
1 Tema: Racismo
2 Título: Interfaces do racismo nas mídias: das práticas ao antirracismo
3 Objetivos
3.1 Objetivo geral: Analisar as manifestações de racismo em notícias documentadas nas mídias local e global (notícias, reportagens, publicidade, filmes, redes sociais) e refletir sobre como estes gêneros atuam em relação ao antirracismo.
3.2 Objetivos específicos:
- Inicialmente o propósito destas aulas objetivam identificar o cenário racista que repercute de forma velada e desvelada na sociedade, principalmente no Brasil;
- Mostrar qual o papel das mídias em relação a propagação do racismo e como a mesma atua na conscientização antirracista;
- Debater sobre a persistência atual de práticas racistas na sociedade brasileira, com a finalidade de ponderar historicamente o que motivam estas ações;
- Pesquisar sobre a representatividade negra nas mídias (nos gêneros supracitados) e sobre qual o papel que o negro representa no Brasil (historicamente e atualmente);
4 Justificativa
A mídia tem, por um de seus objetivos, a responsabilidade de ser portadora e mediadora das principais notícias e mensagens produzidas entre uma sociedade. Os veículos de comunicação gozam da credibilidade e confiança de uma grande parcela da população que compram suas ideias, suas mensagens e as aceitam como verdades. Em contrapartida, a internet é um meio infinitamente maior e mais democrático tanto para produzir conteúdo, quanto para compartilha-lo. Sem dúvida, a união desses dois grandes poderes resulta em uma fonte inesgotável de conteúdo.
A grande problemática gira em torno do impacto que a liberdade proporcionada pela internet dá ao criador de conteúdo, e a grande confiabilidade que os grandes meios tem com a sociedade, em reproduzirem conteúdos que desqualificam, desmoralizam ou repreendem tal ou qual parcela da sociedade. Embora existam leis que assegurem a integridade moral do negro na mídia brasileira, a realidade que vivenciamos é de uma mídia racista que vela o seu preconceito e o reproduz com naturalidade, enquanto que, os produtores e reprodutores de conteúdo na internet se valem de uma dita liberdade de expressão para propagar de forma direta o racismo.
A função educativa da comunicação deveria ser primordial. Aproveitar-se da sua credibilidade para instruir, promover e prestar um serviço público visando a evolução social e não se aproveitar desse recurso para propagar mensagens de ódio, muitas vezes não sendo ao menos responsabilizados por esse desserviço.
Por buscar analisar diversas manifestações de racismo propagadas em propagandas televisivas, mídia impressa, filmes e o gigantesco universo da internet, tanto no âmbito global quanto no local, esta proposta didática se dá a partir do contato dos alunos com essa mídia dita racista e o direcionamento para reflexões e a produção de um novo conteúdo em combate ao racismo, seja de forma oral, impressa ou visual para que se propaguem nos veículos de comunicação mais democráticos. Desse modo espera-se que o adolescente possa identificar o racismo expresso a todo momento nos grandes meios midiáticos, não apenas visando não ser reprodutor dessas ideias, mas atribuir para si a responsabilidade de combatê-las de forma consciente e responsável.
As atividades propostas abarcam alunos dos três anos do ensino médio, dado que a imersão dos alunos nas atividades e, por conseguinte na produção do conteúdo se dará de acordo com a faixa etária da turma,com o direcionamento e aprofundamento que o professor dará a temática.

5 Metodologia
            A oficina intitulada “Interfaces do racismo nas mídias: das práticas ao antirracismo” terá a carga horária de 20h/a divididas em 5 momentos de 4h/a, será aplicada com turmas de 2ª ano do Ensino Médio em uma escola de rede pública situada na cidade de Belém no estado do Pará.
            Durante as aulas iremos, principalmente, trabalhar com debate, e exposição dos materiais didáticos relacionados ao tema da oficina pelo Datashow, serão utilizados também como recursos como vídeos, filmes, notícias e postagens de facebook, twitter, e instagram. As atividades que serão pedidas irão ficar melhor especificadas na organização por momentos que segue abaixo:
1° encontro (4h/a)
- No primeiro encontro estaremos tendo o contato inicial com os alunos, por isso, neste momento introdutivo apresentaremos o propósito da oficina. A seguir, organizaremos a turma em círculo para sondar os alunos sobre quais concepções eles tem acerca do racismo, com o propósito de conhecer o perfil dos alunos (1 h/a);
- Depois projetaremos no datashow o conto “Negrinha” de Monteiro Lobato (também será entregue uma cópia individual para os alunos), a leitura será feita pelos alunos em voz alta (cada um lerá uma parte da narrativa e duas alunas ficarão responsáveis em ler as falas das duas personagens (a Negrinha e a Senhora). Solicitaremos, após a leitura, que seja feita uma pequena produção textual sobre qual a percepção acerca do racismo presente no conto e como podemos relacionar isso com o contexto histórico deste tema no Brasil (2h/a);

Negrinha
Monteiro Lobato

Negrinha era uma pobre órfã de sete anos. Preta? Não; fusca, mulatinha escura, de cabelos ruços e olhos assustados.
Nascera na senzala, de mãe escrava, e seus primeiros anos vivera-os pelos cantos escuros da cozinha, sobre velha esteira e trapos imundos. Sempre escondida, que a patroa não gostava de crianças.
Excelente senhora, a patroa. Gorda, rica, dona do mundo, amimada dos padres, com lugar certo na igreja e camarote de luxo reservado no céu. Entaladas as banhas no trono (uma cadeira de balanço na sala de jantar), ali bordava, recebia as amigas e o vigário, dando audiências, discutindo o tempo. Uma virtuosa senhora em suma — “dama de grandes virtudes apostólicas, esteio da religião e da moral”, dizia o reverendo.
Ótima, a dona Inácia.
Mas não admitia choro de criança. Ai! Punha-lhe os nervos em carne viva. Viúva sem filhos, não a calejara o choro da carne de sua carne, e por isso não suportava o choro da carne alheia. Assim, mal vagia, longe, na cozinha, a triste criança, gritava logo nervosa:
— Quem é a peste que está chorando aí?
Quem havia de ser? A pia de lavar pratos? O pilão? O forno? A mãe da criminosa abafava a boquinha da filha e afastava-se com ela para os fundos do quintal, torcendo-lhe em caminho beliscões de desespero.
— Cale a boca, diabo!
No entanto, aquele choro nunca vinha sem razão. Fome quase sempre, ou frio, desses que entanguem pés e mãos e fazem-nos doer...
Assim cresceu Negrinha — magra, atrofiada, com os olhos eternamente assustados. Órfã aos quatro anos, por ali ficou feito gato sem dono, levada a pontapés. Não compreendia a idéia dos grandes. Batiam-lhe sempre, por ação ou omissão. A mesma coisa, o mesmo ato, a mesma palavra provocava ora risadas, ora castigos. Aprendeu a andar, mas quase não andava. Com pretextos de que às soltas reinaria no quintal, estragando as plantas, a boa senhora punha-a na sala, ao pé de si, num desvão da porta.
— Sentadinha aí, e bico, hein?
Negrinha imobilizava-se no canto, horas e horas.
— Braços cruzados, já, diabo!
Cruzava os bracinhos a tremer, sempre com o susto nos olhos. E o tempo corria. E o relógio batia uma, duas, três, quatro, cinco horas — um cuco tão engraçadinho! Era seu divertimento vê-lo abrir a janela e cantar as horas com a bocarra vermelha, arrufando as asas. Sorria-se então por dentro, feliz um instante.
Puseram-na depois a fazer crochê, e as horas se lhe iam a espichar trancinhas sem fim.
Que idéia faria de si essa criança que nunca ouvira uma palavra de carinho? Pestinha, diabo, coruja, barata descascada, bruxa, pata-choca, pinto gorado, mosca-morta, sujeira, bisca, trapo, cachorrinha, coisa-ruim, lixo — não tinha conta o número de apelidos com que a mimoseavam. Tempo houve em que foi a bubônica. A epidemia andava na berra, como a grande novidade, e Negrinha viu-se logo apelidada assim — por sinal que achou linda a palavra. Perceberam-no e suprimiram-na da lista. Estava escrito que não teria um gostinho só na vida — nem esse de personalizar a peste...
O corpo de Negrinha era tatuado de sinais, cicatrizes, vergões. Batiam nele os da casa todos os dias, houvesse ou não houvesse motivo. Sua pobre carne exercia para os cascudos, cocres e beliscões a mesma atração que o ímã exerce para o aço. Mãos em cujos nós de dedos comichasse um cocre, era mão que se descarregaria dos fluidos em sua cabeça. De passagem. Coisa de rir e ver a careta...
A excelente dona Inácia era mestra na arte de judiar de crianças. Vinha da escravidão, fora senhora de escravos — e daquelas ferozes, amigas de ouvir cantar o bolo e estalar o bacalhau. Nunca se afizera ao regime novo — essa indecência de negro igual a branco e qualquer coisinha: a polícia! “Qualquer coisinha”: uma mucama assada ao forno porque se engraçou dela o senhor; uma novena de relho porque disse: “Como é ruim, a sinhá!”...
O 13 de Maio tirou-lhe das mãos o azorrague, mas não lhe tirou da alma a gana. Conservava Negrinha em casa como remédio para os frenesis. Inocente derivativo:
— Ai! Como alivia a gente uma boa roda de cocres bem fincados!...
Tinha de contentar-se com isso, judiaria miúda, os níqueis da crueldade. Cocres: mão fechada com raiva e nós de dedos que cantam no coco do paciente. Puxões de orelha: o torcido, de despegar a concha (bom! bom! bom! gostoso de dar) e o a duas mãos, o sacudido. A gama inteira dos beliscões: do miudinho, com a ponta da unha, à torcida do umbigo, equivalente ao puxão de orelha. A esfregadela: roda de tapas, cascudos, pontapés e safanões a uma — divertidíssimo! A vara de marmelo, flexível, cortante: para “doer fino” nada melhor!
Era pouco, mas antes isso do que nada. Lá de quando em quando vinha um castigo maior para desobstruir o fígado e matar as saudades do bom tempo. Foi assim com aquela história do ovo quente.
Não sabem! Ora! Uma criada nova furtara do prato de Negrinha — coisa de rir — um pedacinho de carne que ela vinha guardando para o fim. A criança não sofreou a revolta — atirou-lhe um dos nomes com que a mimoseavam todos os dias.
— “Peste?” Espere aí! Você vai ver quem é peste — e foi contar o caso à patroa.
Dona Inácia estava azeda, necessitadíssima de derivativos. Sua cara iluminou-se.
— Eu curo ela! — disse, e desentalando do trono as banhas foi para a cozinha, qual perua choca, a rufar as saias.
— Traga um ovo.
Veio o ovo. Dona Inácia mesmo pô-lo na água a ferver; e de mãos à cinta, gozando-se na prelibação da tortura, ficou de pé uns minutos, à espera. Seus olhos contentes envolviam a mísera criança que, encolhidinha a um canto, aguardava trêmula alguma coisa de nunca visto. Quando o ovo chegou a ponto, a boa senhora chamou:
— Venha cá!
Negrinha aproximou-se.
— Abra a boca!
Negrinha abriu aboca, como o cuco, e fechou os olhos. A patroa, então, com uma colher, tirou da água “pulando” o ovo e zás! na boca da pequena. E antes que o urro de dor saísse, suas mãos amordaçaram-na até que o ovo arrefecesse. Negrinha urrou surdamente, pelo nariz. Esperneou. Mas só. Nem os vizinhos chegaram a perceber aquilo. Depois:
— Diga nomes feios aos mais velhos outra vez, ouviu, peste?
E a virtuosa dama voltou contente da vida para o trono, a fim de receber o vigário que chegava.
— Ah, monsenhor! Não se pode ser boa nesta vida... Estou criando aquela pobre órfã, filha da Cesária — mas que trabalheira me dá!
— A caridade é a mais bela das virtudes cristas, minha senhora —murmurou o padre.
— Sim, mas cansa...
— Quem dá aos pobres empresta a Deus.
A boa senhora suspirou resignadamente.
— Inda é o que vale...
Certo dezembro vieram passar as férias com Santa Inácia duas sobrinhas suas, pequenotas, lindas meninas louras, ricas, nascidas e criadas em ninho de plumas.
Do seu canto na sala do trono, Negrinha viu-as irromperem pela casa como dois anjos do céu — alegres, pulando e rindo com a vivacidade de cachorrinhos novos. Negrinha olhou imediatamente para a senhora, certa de vê-la armada para desferir contra os anjos invasores o raio dum castigo tremendo.
Mas abriu a boca: a sinhá ria-se também... Quê? Pois não era crime brincar? Estaria tudo mudado — e findo o seu inferno — e aberto o céu? No enlevo da doce ilusão, Negrinha levantou-se e veio para a festa infantil, fascinada pela alegria dos anjos.
Mas a dura lição da desigualdade humana lhe chicoteou a alma. Beliscão no umbigo, e nos ouvidos, o som cruel de todos os dias: “Já para o seu lugar, pestinha! Não se enxerga”?
Com lágrimas dolorosas, menos de dor física que de angústia moral —sofrimento novo que se vinha acrescer aos já conhecidos — a triste criança encorujou-se no cantinho de sempre.
— Quem é, titia? — perguntou uma das meninas, curiosa.
— Quem há de ser? — disse a tia, num suspiro de vítima. — Uma caridade minha. Não me corrijo, vivo criando essas pobres de Deus... Uma órfã. Mas brinquem, filhinhas, a casa é grande, brinquem por aí afora.
— Brinquem! Brincar! Como seria bom brincar! — refletiu com suas lágrimas, no canto, a dolorosa martirzinha, que até ali só brincara em imaginação com o cuco.
Chegaram as malas e logo:
— Meus brinquedos! — reclamaram as duas meninas.
Uma criada abriu-as e tirou os brinquedos.
Que maravilha! Um cavalo de pau!... Negrinha arregalava os olhos. Nunca imaginara coisa assim tão galante. Um cavalinho! E mais... Que é aquilo? Uma criancinha de cabelos amarelos... que falava “mamã”... que dormia...
Era de êxtase o olhar de Negrinha. Nunca vira uma boneca e nem sequer sabia o nome desse brinquedo. Mas compreendeu que era uma criança artificial.
— É feita?... — perguntou, extasiada.
E dominada pelo enlevo, num momento em que a senhora saiu da sala a providenciar sobre a arrumação das meninas, Negrinha esqueceu o beliscão,o ovo quente, tudo, e aproximou-se da criatura de louça. Olhou-a com assombrado encanto, sem jeito, sem ânimo de pegá-la.
As meninas admiraram-se daquilo.
— Nunca viu boneca?
— Boneca? — repetiu Negrinha. — Chama-se Boneca?
Riram-se as fidalgas de tanta ingenuidade.
— Como é boba! — disseram. — E você como se chama?
— Negrinha.
As meninas novamente torceram-se de riso; mas vendo que o êxtase da bobinha perdurava, disseram, apresentando-lhe a boneca:
— Pegue!
Negrinha olhou para os lados, ressabiada, como coração aos pinotes. Que ventura, santo Deus! Seria possível? Depois pegou a boneca. E muito sem jeito, como quem pega o Senhor menino, sorria para ela e para as meninas, com assustados relanços de olhos para a porta. Fora de si, literalmente... era como se penetrara no céu e os anjos a rodeassem, e um filhinho de anjo lhe tivesse vindo adormecer ao colo. Tamanho foi o seu enlevo que não viu chegar a patroa, já de volta. Dona Inácia entreparou, feroz, e esteve uns instantes assim, apreciando a cena.
Mas era tal a alegria das hóspedes ante a surpresa extática de Negrinha, e tão grande a força irradiante da felicidade desta, que o seu duro coração afinal bambeou. E pela primeira vez na vida foi mulher. Apiedou-se.
Ao percebê-la na sala Negrinha havia tremido, passando-lhe num relance pela cabeça a imagem do ovo quente e hipóteses de castigos ainda piores. E incoercíveis lágrimas de pavor assomaram-lhe aos olhos.
Falhou tudo isso, porém. O que sobreveio foi a coisa mais inesperada do mundo — estas palavras, as primeiras que ela ouviu, doces, na vida:
— Vão todas brincar no jardim, e vá você também, mas veja lá, hein?
Negrinha ergueu os olhos para a patroa, olhos ainda de susto e terror. Mas não viu mais a fera antiga. Compreendeu vagamente e sorriu.
Se alguma vez a gratidão sorriu na vida, foi naquela surrada carinha...
Varia a pele, a condição, mas a alma da criança é a mesma — na princesinha e na mendiga. E para ambos é a boneca o supremo enlevo. Dá a natureza dois momentos divinos à vida da mulher: o momento da boneca — preparatório —, e o momento dos filhos — definitivo. Depois disso, está extinta a mulher.
Negrinha, coisa humana, percebeu nesse dia da boneca que tinha uma alma. Divina eclosão! Surpresa maravilhosa do mundo que trazia em si e que desabrochava, afinal, como fulgurante flor de luz. Sentiu-se elevada à altura de ente humano. Cessara de ser coisa — e doravante ser-lhe-ia impossível viver a vida de coisa. Se não era coisa! Se sentia! Se vibrava!
Assim foi — e essa consciência a matou.
Terminadas as férias, partiram as meninas levando consigo a boneca, e a casa voltou ao ramerrão habitual. Só não voltou a si Negrinha. Sentia-se outra, inteiramente transformada.
Dona Inácia, pensativa, já a não atazanava tanto, e na cozinha uma criada nova, boa de coração, amenizava-lhe a vida.
Negrinha, não obstante, caíra numa tristeza infinita. Mal comia e perdera a expressão de susto que tinha nos olhos. Trazia-os agora nostálgicos, cismarentos.
Aquele dezembro de férias, luminosa rajada de céu trevas adentro do seu doloroso inferno, envenenara-a.
Brincara ao sol, no jardim. Brincara!... Acalentara, dias seguidos, a linda boneca loura, tão boa, tão quieta, a dizer mamã, a cerrar os olhos para dormir. Vivera realizando sonhos da imaginação. Desabrochara-se de alma.
Morreu na esteirinha rota, abandonada de todos, como um gato sem dono. Jamais, entretanto, ninguém morreu com maior beleza. O delírio rodeou-a de bonecas, todas louras, de olhos azuis. E de anjos... E bonecas e anjos remoinhavam-lhe em torno, numa farândola do céu. Sentia-se agarrada por aquelas mãozinhas de louça — abraçada, rodopiada.
Veio a tontura; uma névoa envolveu tudo. E tudo regirou em seguida, confusamente, num disco. Ressoaram vozes apagadas, longe, e pela última vez o cuco lhe apareceu de boca aberta.
Mas, imóvel, sem rufar as asas.
Foi-se apagando. O vermelho da goela desmaiou...
E tudo se esvaiu em trevas.
Depois, vala comum. A terra papou com indiferença aquela carnezinha de terceira — uma miséria, trinta quilos mal pesados...
E de Negrinha ficaram no mundo apenas duas impressões. Uma cômica, na memória das meninas ricas.
— “Lembras-te daquela bobinha da titia, que nunca vira boneca?”
Outra de saudade, no nó dos dedos de dona Inácia.
— “Como era boa para um cocre!...”


- Pediremos que os alunos socializem os textos produzidos. Posteriormente, direcionaremos algumas perguntas norteadas, como: você percebe o racismo no dia-a-dia? De qual forma você o percebe? Você já viu situações de racismo nas redes sociais? Como você acha que as mídias se portam com o antirracismo?  (1h/a).
2° encontro (4h/a)
- Breve revisão sobre o que foi abordado na aula anterior e retomaremos a discussão sobre como os alunos percebem situações racistas em redes sociais, aproveitando para introduzir o conteúdo sobre as manifestações racistas em mídias (redes sociais, filmes, notícias, etc) (1h/a)
- Mostraremos exemplos de manifestações racistas (veladas e desveladas) em várias mídias por meio do Datashow, como: anúncios publicitários, vídeos (que mostrem alguma prática racista), postagens em redes sociais (por exemplo a página Malaco Intelectual), enquanto tentamos tornar mais claras e evidentes as noções sobre racismo velado (1h/a); 







- Iremos para o laboratório de informática onde formaremos trios e solicitaremos que os grupos pesquisem em suas redes sociais páginas de conteúdo regional que apresentem racismo. Formaremos um grupo no whatsapp em que os alunos enviem as mídias que coletaram no laboratório, para ficar organizado cada grupo deverá mandar dois arquivos. Em seguida, retornaremos para a sala de aula e pediremos que cada grupo explique o porquê de as mídias coletadas serem racistas (2h/a)

3° Encontro (4h/a)
- Revisão da aula anterior. Começaremos o retomando essa concepção do racismo nas mídias e tal tópico servirá de introdução para o assunto do dia: manifestações linguísticas de racismo, em que mostraremos expressões e ditos, como: “a coisa tá preta”, “inveja branca, inveja negra”, “não sou tuas nega”, “negrito”, “da cor do pecado”, “moreno jambo”, “ele é negro mas é bonito, tem os traços finos”, “de mãos atadas”, “tô ferrado”. Explicaremos o motivo destas expressões e ditos serem considerados racistas e qual o valor histórico estas carregam (2h/a);
- A partir de anúncios publicitários que contém manifestações racistas dividiremos a turma em duplas e solicitaremos que façam releituras não racistas dos anúncios designados e por fim, socializem as produções (2h/a);





4° Encontro (4h/a)
- Passaremos o filme Um sonho possível” (John Lee Hancocke, 2009) e faremos um debate sobre a obra (2h30);


- Abordaremos o tópico: como as mídias operam contra o racismo, exemplificando sobre movimentos negros que surgiram principalmente pela internet e em grupos sociais e sobre as leis que antirracistas (1h/a)


- Finalizaremos ao mostrar o trabalho final que deverá ser entregue no último encontro. Dividiremos a turma em 5 (cinco) grupos, organizados a partir dos seguintes tópicos:
  • Redes sociais (memes, postagens, imagens)
  • Publicidade (anúncios, propagandas)
  • Gêneros jornalísticos (notícias, comentários, entrevistas)
  • Gêneros literários (prosas e poesia)
  • Gêneros televisivos (filmes, séries, novelas)
Solicitaremos que os grupos elaborem um seminário, no qual deverão coletar nas mídias propostas exemplos de racismo e posturas antirracistas, será exigido embasamento histórico a nível não superficial sobre os temas para a breve análise e resumo que farão acerca do que foi apreendido. Os alunos terão que pôr em prática seus temas, para isso, cada grupo deverá elaborar uma produção baseada no gênero com o qual estarão encarregados, ex: o grupo encarregado de gêneros televisivos poderá fazer um curta-metragem. (30min)

5° encontro (4h/a)
- Revisão geral da oficina (30min);
- Apresentação dos seminários (3h/a);
- Considerações e comentários finais sobre os seminários e encerramento da oficina (30min);

6 Avaliação
1° encontro
Produção textual sobre racismo
Critérios: observaremos qual a densidade das reflexões elaboradas, se está de acordo com o tema
2° encontro
Pesquisa no laboratório e socialização
Critérios: qualidade dos dados coletados e abordagem utilizada para explicar o racismo nas mídias
3° encontro
Releitura dos anúncios publicitários de forma não-racista
Critérios: se de fato correspondem à uma releitura antirracista
4° encontro
Debate
Critérios: participação dos alunos com comentários plausíveis perante tudo o que foi estudado
5° encontro
Seminários
Critérios: Densidade das pesquisas feitas, elaboração do trabalho, desenvoltura na explicação e respostas concisas perante perguntas dos professores e da turma. Qualidade do conteúdo realizado através das produções acerca dos gêneros de cada grupo: qual a participação de cada aluno, se está de fato relacionado ao tema, uso de recursos e densidade de conteúdo.

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