Interfaces do racismo nas mídias: das práticas ao antirracismo
Atualmente
a mídia pode ser vista como uma das maiores formadoras de opinião da sociedade
atual, podemos afirmar que ela faz parte do processo civilizador de cada
indivíduo. Por intermédio de suas mensagens, notícias, anúncios e ideias a
mídia exerce a sua função maior, a de COMUNICAR. Entretanto, esse
enorme poder muitas vezes não é exercido com RESPONSABILIDADE SOCIAL, ou seja, ao invés dos grandes meios usarem
de sua credibilidade e confiabilidade para educar, instruir e transformar
pensamentos de ódio em esclarecimento social, ela se vale da liberdade de expressão para reforçar
ideias racistas, aumentar descriminação e prestar um desserviço público.
À
medida que os grupos minoritários ganham força e voz no Brasil, a grande mídia
passa a ter uma certa preocupação em passar
sua mensagem de maneira mais politicamente
correta possível, daí então o cenário (principalmente) publicitário entra
na “era” do RACISMO VELADO.
O que é isso?
Simples,
é o mesmo discurso racista propagados durante anos nos grandes meios de
comunicação, mas agora com um fino véu que apenas sugere, propõem, entrevê o
mesmo velho lugar de fala racista.
Com
a finalidade de apresentar novas concepções sobre o papel dos meios de
comunicação enquanto veículos de abordagem de temas como preconceito, racismo e
descriminação racial, assim como o de orientar quanto a uma outra forma de
pensar sobre aquilo que lemos, escrevemos e compramos (seja ideário ou
material) que essa oficina se valerá de três papeis fundamentais: primeiro, o papel do professor em orientar e
auxiliar. O segundo, fica por conta do aluno em aprender e refletir. E o
terceiro, nosso papel como cidadão empenhado em transformar criticamente nossa
realidade!
Universidade
Federal do Pará
Instituto
de Letras e Comunicação
Faculdade
de Letras-Habilitação em Língua Portuguesa
Recursos
tecnológicos e ensino de Língua Portuguesa
Profa.
Dra. Ivânia Neves
Equipe:
Amanda
Gabriela de Castro Resque, Gabriela de Andrade Batista, Victor Fernandes
Verçosa, Kysa Melo de Oliveira.
Projeto de ensino
1 Tema: Racismo
2 Título: Interfaces
do racismo nas mídias: das práticas ao antirracismo
3 Objetivos
3.1 Objetivo geral: Analisar
as manifestações de racismo em notícias documentadas nas mídias local e global (notícias,
reportagens, publicidade, filmes, redes sociais) e refletir sobre como estes gêneros
atuam em relação ao antirracismo.
3.2 Objetivos específicos:
-
Inicialmente o propósito destas aulas objetivam identificar o cenário racista
que repercute de forma velada e desvelada na sociedade, principalmente no
Brasil;
-
Mostrar qual o papel das mídias em relação a propagação do racismo e como a
mesma atua na conscientização antirracista;
-
Debater sobre a persistência atual de práticas racistas na sociedade
brasileira, com a finalidade de ponderar historicamente o que motivam estas
ações;
-
Pesquisar sobre a representatividade negra nas mídias (nos gêneros
supracitados) e sobre qual o papel que o negro representa no Brasil
(historicamente e atualmente);
4 Justificativa
A
mídia tem, por um de seus objetivos, a responsabilidade de ser portadora e
mediadora das principais notícias e mensagens produzidas entre uma sociedade.
Os veículos de comunicação gozam da credibilidade e confiança de uma grande
parcela da população que compram suas ideias, suas mensagens e as aceitam como
verdades. Em contrapartida, a internet é um meio infinitamente maior e mais
democrático tanto para produzir conteúdo, quanto para compartilha-lo. Sem
dúvida, a união desses dois grandes poderes
resulta em uma fonte inesgotável de conteúdo.
A
grande problemática gira em torno do impacto que a liberdade proporcionada pela
internet dá ao criador de conteúdo, e a grande confiabilidade que os grandes
meios tem com a sociedade, em reproduzirem conteúdos que desqualificam,
desmoralizam ou repreendem tal ou qual parcela da sociedade. Embora existam
leis que assegurem a integridade moral do negro na mídia brasileira, a
realidade que vivenciamos é de uma mídia racista que vela o seu preconceito e o
reproduz com naturalidade, enquanto que, os produtores e reprodutores de
conteúdo na internet se valem de uma dita liberdade
de expressão para propagar de forma direta o racismo.
A
função educativa da comunicação deveria ser primordial. Aproveitar-se da sua
credibilidade para instruir, promover e prestar um serviço público visando a
evolução social e não se aproveitar desse recurso para propagar mensagens de
ódio, muitas vezes não sendo ao menos responsabilizados por esse desserviço.
Por buscar analisar
diversas manifestações de racismo propagadas em propagandas televisivas, mídia
impressa, filmes e o gigantesco universo da internet, tanto no âmbito global
quanto no local, esta proposta didática se dá a partir do contato dos alunos
com essa mídia dita racista e o direcionamento para reflexões e a produção de
um novo conteúdo em combate ao racismo, seja de forma oral, impressa ou visual
para que se propaguem nos veículos de comunicação mais democráticos. Desse modo
espera-se que o adolescente possa identificar o racismo expresso a todo momento
nos grandes meios midiáticos, não apenas visando não ser reprodutor dessas
ideias, mas atribuir para si a responsabilidade de combatê-las de forma
consciente e responsável.
As atividades propostas
abarcam alunos dos três anos do ensino médio, dado que a imersão dos alunos nas
atividades e, por conseguinte na produção do conteúdo se dará de acordo com a
faixa etária da turma,com o direcionamento e aprofundamento que o professor
dará a temática.
5 Metodologia
A oficina intitulada “Interfaces do
racismo nas mídias: das práticas ao antirracismo” terá a carga horária de 20h/a
divididas em 5 momentos de 4h/a, será aplicada com turmas de 2ª ano do
Ensino Médio em uma escola de rede pública situada na cidade de Belém no estado
do Pará.
Durante as aulas iremos,
principalmente, trabalhar com debate, e exposição dos materiais didáticos
relacionados ao tema da oficina pelo Datashow, serão utilizados também como
recursos como vídeos, filmes, notícias e postagens de facebook, twitter, e instagram. As atividades que serão
pedidas irão ficar melhor especificadas na organização por momentos que segue
abaixo:
1°
encontro (4h/a)
-
No primeiro encontro estaremos tendo o contato inicial com os alunos, por isso,
neste momento introdutivo apresentaremos o propósito da oficina. A seguir,
organizaremos a turma em círculo para sondar os alunos sobre quais concepções
eles tem acerca do racismo, com o propósito de conhecer o perfil dos alunos (1
h/a);
-
Depois projetaremos no datashow o conto “Negrinha” de
Monteiro Lobato (também será entregue uma cópia individual para os alunos), a
leitura será feita pelos alunos em voz alta (cada um lerá uma parte da
narrativa e duas alunas ficarão responsáveis em ler as falas das duas
personagens (a Negrinha e a Senhora). Solicitaremos, após a leitura, que seja
feita uma pequena produção textual sobre qual a percepção acerca do racismo
presente no conto e como podemos relacionar isso com o contexto histórico deste
tema no Brasil (2h/a);
Negrinha
Monteiro Lobato
Negrinha era uma pobre órfã de sete
anos. Preta? Não; fusca, mulatinha escura, de cabelos ruços e olhos
assustados.
Nascera na senzala, de mãe escrava, e
seus primeiros anos vivera-os pelos cantos escuros da cozinha, sobre velha
esteira e trapos imundos. Sempre escondida, que a patroa não gostava de
crianças.
Excelente senhora, a patroa. Gorda,
rica, dona do mundo, amimada dos padres, com lugar certo na igreja e camarote
de luxo reservado no céu. Entaladas as banhas no trono (uma cadeira de
balanço na sala de jantar), ali bordava, recebia as amigas e o vigário, dando
audiências, discutindo o tempo. Uma virtuosa senhora em suma — “dama de
grandes virtudes apostólicas, esteio da religião e da moral”, dizia o
reverendo.
Ótima, a dona Inácia.
Mas não admitia choro de criança. Ai!
Punha-lhe os nervos em carne viva. Viúva sem filhos, não a calejara o choro
da carne de sua carne, e por isso não suportava o choro da carne alheia.
Assim, mal vagia, longe, na cozinha, a triste criança, gritava logo nervosa:
— Quem é a peste que está chorando
aí?
Quem havia de ser? A pia de lavar
pratos? O pilão? O forno? A mãe da criminosa abafava a boquinha da filha e
afastava-se com ela para os fundos do quintal, torcendo-lhe em caminho
beliscões de desespero.
— Cale a boca, diabo!
No entanto, aquele choro nunca vinha
sem razão. Fome quase sempre, ou frio, desses que entanguem pés e mãos e
fazem-nos doer...
Assim cresceu Negrinha — magra,
atrofiada, com os olhos eternamente assustados. Órfã aos quatro anos, por ali
ficou feito gato sem dono, levada a pontapés. Não compreendia a idéia dos
grandes. Batiam-lhe sempre, por ação ou omissão. A mesma coisa, o mesmo ato,
a mesma palavra provocava ora risadas, ora castigos. Aprendeu a andar, mas
quase não andava. Com pretextos de que às soltas reinaria no quintal,
estragando as plantas, a boa senhora punha-a na sala, ao pé de si, num desvão
da porta.
— Sentadinha aí, e bico, hein?
Negrinha imobilizava-se no canto,
horas e horas.
— Braços cruzados, já, diabo!
Cruzava os bracinhos a tremer, sempre
com o susto nos olhos. E o tempo corria. E o relógio batia uma, duas, três,
quatro, cinco horas — um cuco tão engraçadinho! Era seu divertimento vê-lo
abrir a janela e cantar as horas com a bocarra vermelha, arrufando as asas.
Sorria-se então por dentro, feliz um instante.
Puseram-na depois a fazer crochê, e
as horas se lhe iam a espichar trancinhas sem fim.
Que idéia faria de si essa criança
que nunca ouvira uma palavra de carinho? Pestinha, diabo, coruja, barata
descascada, bruxa, pata-choca, pinto gorado, mosca-morta, sujeira, bisca,
trapo, cachorrinha, coisa-ruim, lixo — não tinha conta o número de apelidos
com que a mimoseavam. Tempo houve em que foi a bubônica. A epidemia andava na
berra, como a grande novidade, e Negrinha viu-se logo apelidada assim — por
sinal que achou linda a palavra. Perceberam-no e suprimiram-na da lista.
Estava escrito que não teria um gostinho só na vida — nem esse de
personalizar a peste...
O corpo de Negrinha era tatuado de
sinais, cicatrizes, vergões. Batiam nele os da casa todos os dias, houvesse
ou não houvesse motivo. Sua pobre carne exercia para os cascudos, cocres e
beliscões a mesma atração que o ímã exerce para o aço. Mãos em cujos nós de
dedos comichasse um cocre, era mão que se descarregaria dos fluidos em sua
cabeça. De passagem. Coisa de rir e ver a careta...
A excelente dona Inácia era mestra na
arte de judiar de crianças. Vinha da escravidão, fora senhora de escravos — e
daquelas ferozes, amigas de ouvir cantar o bolo e estalar o bacalhau. Nunca
se afizera ao regime novo — essa indecência de negro igual a branco e
qualquer coisinha: a polícia! “Qualquer coisinha”: uma mucama assada ao forno
porque se engraçou dela o senhor; uma novena de relho porque disse: “Como é
ruim, a sinhá!”...
O 13 de Maio tirou-lhe das mãos o
azorrague, mas não lhe tirou da alma a gana. Conservava Negrinha em casa como
remédio para os frenesis. Inocente derivativo:
— Ai! Como alivia a gente uma boa
roda de cocres bem fincados!...
Tinha de contentar-se com isso,
judiaria miúda, os níqueis da crueldade. Cocres: mão fechada com raiva e nós
de dedos que cantam no coco do paciente. Puxões de orelha: o torcido, de
despegar a concha (bom! bom! bom! gostoso de dar) e o a duas mãos, o
sacudido. A gama inteira dos beliscões: do miudinho, com a ponta da unha, à
torcida do umbigo, equivalente ao puxão de orelha. A esfregadela: roda de
tapas, cascudos, pontapés e safanões a uma — divertidíssimo! A vara de
marmelo, flexível, cortante: para “doer fino” nada melhor!
Era pouco, mas antes isso do que
nada. Lá de quando em quando vinha um castigo maior para desobstruir o fígado
e matar as saudades do bom tempo. Foi assim com aquela história do ovo
quente.
Não sabem! Ora! Uma criada nova
furtara do prato de Negrinha — coisa de rir — um pedacinho de carne que ela
vinha guardando para o fim. A criança não sofreou a revolta — atirou-lhe um
dos nomes com que a mimoseavam todos os dias.
— “Peste?” Espere aí! Você vai ver
quem é peste — e foi contar o caso à patroa.
Dona Inácia estava azeda,
necessitadíssima de derivativos. Sua cara iluminou-se.
— Eu curo ela! — disse, e
desentalando do trono as banhas foi para a cozinha, qual perua choca, a rufar
as saias.
— Traga um ovo.
Veio o ovo. Dona Inácia mesmo pô-lo
na água a ferver; e de mãos à cinta, gozando-se na prelibação da tortura,
ficou de pé uns minutos, à espera. Seus olhos contentes envolviam a mísera
criança que, encolhidinha a um canto, aguardava trêmula alguma coisa de nunca
visto. Quando o ovo chegou a ponto, a boa senhora chamou:
— Venha cá!
Negrinha aproximou-se.
— Abra a boca!
Negrinha abriu aboca, como o cuco, e
fechou os olhos. A patroa, então, com uma colher, tirou da água “pulando” o
ovo e zás! na boca da pequena. E antes que o urro de dor saísse, suas mãos
amordaçaram-na até que o ovo arrefecesse. Negrinha urrou surdamente, pelo
nariz. Esperneou. Mas só. Nem os vizinhos chegaram a perceber aquilo. Depois:
— Diga nomes feios aos mais velhos
outra vez, ouviu, peste?
E a virtuosa dama voltou contente da
vida para o trono, a fim de receber o vigário que chegava.
— Ah, monsenhor! Não se pode ser boa
nesta vida... Estou criando aquela pobre órfã, filha da Cesária — mas que
trabalheira me dá!
— A caridade é a mais bela das
virtudes cristas, minha senhora —murmurou o padre.
— Sim, mas cansa...
— Quem dá aos pobres empresta a Deus.
A boa senhora suspirou
resignadamente.
— Inda é o que vale...
Certo dezembro vieram passar as
férias com Santa Inácia duas sobrinhas suas, pequenotas, lindas meninas
louras, ricas, nascidas e criadas em ninho de plumas.
Do seu canto na sala do trono, Negrinha
viu-as irromperem pela casa como dois anjos do céu — alegres, pulando e rindo
com a vivacidade de cachorrinhos novos. Negrinha olhou imediatamente para a
senhora, certa de vê-la armada para desferir contra os anjos invasores o raio
dum castigo tremendo.
Mas abriu a boca: a sinhá ria-se
também... Quê? Pois não era crime brincar? Estaria tudo mudado — e findo o
seu inferno — e aberto o céu? No enlevo da doce ilusão, Negrinha levantou-se
e veio para a festa infantil, fascinada pela alegria dos anjos.
Mas a dura lição da desigualdade
humana lhe chicoteou a alma. Beliscão no umbigo, e nos ouvidos, o som cruel
de todos os dias: “Já para o seu lugar, pestinha! Não se enxerga”?
Com lágrimas dolorosas, menos de dor
física que de angústia moral —sofrimento novo que se vinha acrescer aos já
conhecidos — a triste criança encorujou-se no cantinho de sempre.
— Quem é, titia? — perguntou uma das
meninas, curiosa.
— Quem há de ser? — disse a tia, num
suspiro de vítima. — Uma caridade minha. Não me corrijo, vivo criando essas
pobres de Deus... Uma órfã. Mas brinquem, filhinhas, a casa é grande,
brinquem por aí afora.
— Brinquem! Brincar! Como seria bom
brincar! — refletiu com suas lágrimas, no canto, a dolorosa martirzinha, que
até ali só brincara em imaginação com o cuco.
Chegaram as malas e logo:
— Meus brinquedos! — reclamaram as
duas meninas.
Uma criada abriu-as e tirou os
brinquedos.
Que maravilha! Um cavalo de pau!...
Negrinha arregalava os olhos. Nunca imaginara coisa assim tão galante. Um
cavalinho! E mais... Que é aquilo? Uma criancinha de cabelos amarelos... que
falava “mamã”... que dormia...
Era de êxtase o olhar de Negrinha.
Nunca vira uma boneca e nem sequer sabia o nome desse brinquedo. Mas
compreendeu que era uma criança artificial.
— É feita?... — perguntou, extasiada.
E dominada pelo enlevo, num momento
em que a senhora saiu da sala a providenciar sobre a arrumação das meninas,
Negrinha esqueceu o beliscão,o ovo quente, tudo, e aproximou-se da criatura
de louça. Olhou-a com assombrado encanto, sem jeito, sem ânimo de pegá-la.
As meninas admiraram-se daquilo.
— Nunca viu boneca?
— Boneca? — repetiu Negrinha. —
Chama-se Boneca?
Riram-se as fidalgas de tanta
ingenuidade.
— Como é boba! — disseram. — E você
como se chama?
— Negrinha.
As meninas novamente torceram-se de
riso; mas vendo que o êxtase da bobinha perdurava, disseram, apresentando-lhe
a boneca:
— Pegue!
Negrinha olhou para os lados,
ressabiada, como coração aos pinotes. Que ventura, santo Deus! Seria
possível? Depois pegou a boneca. E muito sem jeito, como quem pega o Senhor
menino, sorria para ela e para as meninas, com assustados relanços de olhos
para a porta. Fora de si, literalmente... era como se penetrara no céu e os
anjos a rodeassem, e um filhinho de anjo lhe tivesse vindo adormecer ao colo.
Tamanho foi o seu enlevo que não viu chegar a patroa, já de volta. Dona
Inácia entreparou, feroz, e esteve uns instantes assim, apreciando a cena.
Mas era tal a alegria das hóspedes
ante a surpresa extática de Negrinha, e tão grande a força irradiante da
felicidade desta, que o seu duro coração afinal bambeou. E pela primeira vez
na vida foi mulher. Apiedou-se.
Ao percebê-la na sala Negrinha havia
tremido, passando-lhe num relance pela cabeça a imagem do ovo quente e
hipóteses de castigos ainda piores. E incoercíveis lágrimas de pavor
assomaram-lhe aos olhos.
Falhou tudo isso, porém. O que
sobreveio foi a coisa mais inesperada do mundo — estas palavras, as primeiras
que ela ouviu, doces, na vida:
— Vão todas brincar no jardim, e vá
você também, mas veja lá, hein?
Negrinha ergueu os olhos para a
patroa, olhos ainda de susto e terror. Mas não viu mais a fera antiga.
Compreendeu vagamente e sorriu.
Se alguma vez a gratidão sorriu na
vida, foi naquela surrada carinha...
Varia a pele, a condição, mas a alma
da criança é a mesma — na princesinha e na mendiga. E para ambos é a boneca o
supremo enlevo. Dá a natureza dois momentos divinos à vida da mulher: o
momento da boneca — preparatório —, e o momento dos filhos — definitivo.
Depois disso, está extinta a mulher.
Negrinha, coisa humana, percebeu
nesse dia da boneca que tinha uma alma. Divina eclosão! Surpresa maravilhosa
do mundo que trazia em si e que desabrochava, afinal, como fulgurante flor de
luz. Sentiu-se elevada à altura de ente humano. Cessara de ser coisa — e
doravante ser-lhe-ia impossível viver a vida de coisa. Se não era coisa! Se
sentia! Se vibrava!
Assim foi — e essa consciência a
matou.
Terminadas as férias, partiram as
meninas levando consigo a boneca, e a casa voltou ao ramerrão habitual. Só não
voltou a si Negrinha. Sentia-se outra, inteiramente transformada.
Dona Inácia, pensativa, já a não
atazanava tanto, e na cozinha uma criada nova, boa de coração, amenizava-lhe
a vida.
Negrinha, não obstante, caíra numa
tristeza infinita. Mal comia e perdera a expressão de susto que tinha nos
olhos. Trazia-os agora nostálgicos, cismarentos.
Aquele dezembro de férias, luminosa
rajada de céu trevas adentro do seu doloroso inferno, envenenara-a.
Brincara ao sol, no jardim.
Brincara!... Acalentara, dias seguidos, a linda boneca loura, tão boa, tão
quieta, a dizer mamã, a cerrar os olhos para dormir. Vivera realizando sonhos
da imaginação. Desabrochara-se de alma.
Morreu na esteirinha rota, abandonada
de todos, como um gato sem dono. Jamais, entretanto, ninguém morreu com maior
beleza. O delírio rodeou-a de bonecas, todas louras, de olhos azuis. E de
anjos... E bonecas e anjos remoinhavam-lhe em torno, numa farândola do céu.
Sentia-se agarrada por aquelas mãozinhas de louça — abraçada, rodopiada.
Veio a tontura; uma névoa envolveu
tudo. E tudo regirou em seguida, confusamente, num disco. Ressoaram vozes
apagadas, longe, e pela última vez o cuco lhe apareceu de boca aberta.
Mas, imóvel, sem rufar as asas.
Foi-se apagando. O vermelho da goela
desmaiou...
E tudo se esvaiu em trevas.
Depois, vala comum. A terra papou com
indiferença aquela carnezinha de terceira — uma miséria, trinta quilos mal
pesados...
E de Negrinha ficaram no mundo apenas
duas impressões. Uma cômica, na memória das meninas ricas.
— “Lembras-te daquela bobinha da
titia, que nunca vira boneca?”
Outra de saudade, no nó dos dedos de
dona Inácia.
— “Como era boa para um cocre!...”
|
-
Pediremos que os alunos socializem os textos produzidos. Posteriormente,
direcionaremos algumas perguntas norteadas, como: você percebe o racismo no
dia-a-dia? De qual forma você o percebe? Você já viu situações de racismo nas
redes sociais? Como você acha que as mídias se portam com o antirracismo? (1h/a).
2°
encontro (4h/a)
-
Breve revisão sobre o que foi abordado na aula anterior e retomaremos a
discussão sobre como os alunos percebem situações racistas em redes sociais,
aproveitando para introduzir o conteúdo sobre as manifestações racistas em
mídias (redes sociais, filmes, notícias, etc) (1h/a)
-
Mostraremos exemplos de manifestações racistas (veladas e desveladas) em várias
mídias por meio do Datashow, como: anúncios publicitários, vídeos (que mostrem
alguma prática racista), postagens em redes sociais (por exemplo a página
Malaco Intelectual), enquanto tentamos tornar
mais claras e evidentes as noções sobre racismo velado (1h/a);
-
Iremos para o laboratório de informática onde formaremos trios e solicitaremos
que os grupos pesquisem em suas redes sociais páginas de conteúdo regional que
apresentem racismo. Formaremos um grupo no whatsapp em que os alunos enviem as
mídias que coletaram no laboratório, para ficar organizado cada grupo deverá
mandar dois arquivos. Em seguida, retornaremos para a sala de aula e pediremos
que cada grupo explique o porquê de as mídias coletadas serem racistas (2h/a)
3°
Encontro (4h/a)
-
Revisão da aula anterior. Começaremos o retomando essa concepção do racismo nas
mídias e tal tópico servirá de introdução para o assunto do dia: manifestações
linguísticas de racismo, em que mostraremos expressões e ditos, como: “a coisa
tá preta”, “inveja branca, inveja negra”, “não sou tuas nega”, “negrito”, “da
cor do pecado”, “moreno jambo”, “ele é negro mas é bonito, tem os traços
finos”, “de mãos atadas”, “tô ferrado”. Explicaremos o motivo destas expressões
e ditos serem considerados racistas e qual o valor histórico estas carregam (2h/a);
-
A partir de anúncios publicitários que contém manifestações racistas dividiremos a turma em duplas e solicitaremos que façam
releituras não racistas dos anúncios designados e por fim, socializem as
produções (2h/a);
4°
Encontro (4h/a)
-
Passaremos o filme “Um sonho possível” (John Lee
Hancocke, 2009) e faremos um debate sobre a obra (2h30);
-
Abordaremos o tópico: como as mídias operam contra o racismo, exemplificando sobre movimentos negros que surgiram principalmente
pela internet e em grupos sociais e sobre as leis que antirracistas (1h/a)
-
Finalizaremos ao mostrar o trabalho final que deverá ser entregue no último
encontro. Dividiremos a turma em 5 (cinco) grupos, organizados a partir dos
seguintes tópicos:
- Redes sociais (memes, postagens, imagens)
- Publicidade (anúncios, propagandas)
- Gêneros jornalísticos (notícias, comentários, entrevistas)
- Gêneros literários (prosas e poesia)
- Gêneros televisivos (filmes, séries, novelas)
5°
encontro (4h/a)
-
Revisão geral da oficina (30min);
-
Apresentação dos seminários (3h/a);
-
Considerações e comentários finais sobre os seminários e encerramento da
oficina (30min);
6 Avaliação
1° encontro
|
Produção textual sobre racismo
Critérios:
observaremos
qual a densidade das reflexões elaboradas, se está de acordo com o tema
|
2° encontro
|
Pesquisa no laboratório e socialização
Critérios:
qualidade
dos dados coletados e abordagem utilizada para explicar o racismo nas mídias
|
3° encontro
|
Releitura dos anúncios publicitários de
forma não-racista
Critérios:
se
de fato correspondem à uma releitura antirracista
|
4° encontro
|
Debate
Critérios:
participação
dos alunos com comentários plausíveis perante tudo o que foi estudado
|
5° encontro
|
Seminários
Critérios:
Densidade
das pesquisas feitas, elaboração do trabalho, desenvoltura na explicação e
respostas concisas perante perguntas dos professores e da turma. Qualidade do
conteúdo realizado através das produções acerca dos gêneros de cada grupo:
qual a participação de cada aluno, se está de fato relacionado ao tema, uso
de recursos e densidade de conteúdo.
|
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