sábado, 16 de agosto de 2014

BELÉM, SERÁ QUE TÁ TUDO BEM?

Universidade Federal do Pará
Instituto de Letras e Comunicação
Faculdade de Letras
Disciplina: Recursos Tecnológicos
Professora: Ivânia Neves
Junho/2014
Arthur Helder Bandeira Alves
Katharine Martins Cordovil
              Maria do Carmo Ribeiro Casseb

Introdução

A música sempre teve um valor muito grande em nossas vidas: serve como consolo em momentos difíceis, revela alegrias, é instrumento de manifestação de opinião, possui um valor político... A música faz parte também da identidade cultural de um povo, revela costumes, crenças, vocabulários, ou seja, todos esses componentes que tornam a cultura tão rica e tão diversa. Mas, há também outra questão que é constantemente levantada quando se trata da música enquanto elemento de identidade cultural: há estilos musicais que podem ser considerados melhores que outros?

Vemos a grande mídia fomentar o sucesso de vários artistas cujas qualidades são um tanto questionáveis. Letras sem sentindo algum, letras carregadas de repetições silábicas, letras com enorme apelo sexual e que prezam por destacar a ostentação de bens materiais, são alguns exemplos que compõem a avalanche do enfraquecimento cultural/intelectual a que somos acometidos.


Que Brega É Você

Allan Carvalho



Quem é você
Que manda às favas o meu senso crítico?
Que faz você
Que ri da minha capa e dos meus discos?
E joga na fogueira os livros raros
Quem é você?
Quem é você?
Eu não sou mais eu...

Tudo bem,
Eu ligo o dial, o pop som, o baile da saudade em megatons
Por você eu compro um carro, eu vendo Avon
Vou ao show do Reginaldo, eu mudo o tom
Quem é você?
Quem é você?
Eu não sou mais eu...
Quem é você?
Eu não sou mais eu...


Aí surge uma grande questão: qual o interesse por trás da supervalorização, por parte da mídia, de artistas que pouco contribuem para a formação de um pensamento crítico e que, em suas músicas, muito deixam a desejar se comparados às músicas dos artistas paraenses?



Voltando nossa atenção para a mistura musical que compõe os ritmos típicos do nosso estado, é comum ouvirmos comentários que inferiorizam as canções paraenses quando comparadas a estilos musicais de outras regiões do Brasil.

Outra questão é saber quais os argumentos utilizados para se julgar que “os ritmos de fora” têm um valor maior do que aqueles produzidos por músicos locais. Estilos musicais como o brega, o melody, o tecnomelody, por exemplo, foram taxados por muito tempo como ritmos musicais de periferia, sendo comumente associados à criminalidade e violência. A cidade de Belém, por exemplo, possui uma variedade de ritmos muito heterogênea, que vai desde o carimbó do Mestre Verequete, passando pelas toadas de boi-bumbá do Arraial do Pavulagem, pelo eletromelody da Gang do Eletro, a guitarrada dos Mestres da Guitarrada, o brega de Wanderley Andrade até a versatilidade de Lia Sophia e Felipe Cordeiro.

As músicas desses e de tantos outros artistas populares são carregadas de informações sobre o estado do Pará, sobre a cidade de Belém, que desenham os hábitos, enfatizam o vocabulário, mostrando a riqueza e a diversidade cultural da cidade das mangueiras. Esse olhar sobre nossa terra tem servido inclusive de inspiração para bons produtores musicais, não somente daqui, mas também de fora do estado do Pará, gerando parcerias que tem como resultado festivais musicais de grande importância, como o Terruá Pará.


Utilizar a música como meio de retratar as manifestações culturais que acontecem no estado do Pará, mais especificamente na cidade de Belém, é algo feito com grande maestria e talento pelos músicos paraenses. Toni Soares, em sua música “A força que vem das ruas”, fala de inúmeras manifestações e situações próprias do cotidiano belenense, o que torna a música esse ambiente rico, amplo e dinâmico, em que toda ideia é válida.

A Força Que Vem das Ruas

Toni Soares

Belém, belém, belém
Será que tá tudo bem... será?

A música na praça, o boi fazendo graça
É ronaldo e seu meninos ensinando à nação
Que o futuro tá no centro da cultura
Da cultura popular

E "taca" carimbó de pinduca, de lucindo,
Cupijó, verequete, "pavulagem" dos meninos,
Eduardo, taynara e cavalléro vão tocar no preamar
Preamar

Belém, belém, belém
Será que tá tudo bem... será?

O couro treme a terra de fabico, de setenta,
Malhadinho do bandeira, "seu" rufino, "seu" joaquim,
Laurentina muito linda quando canta dá vontade de chorar
De chorar

O grande capitão nos "boca de ferro"
Da pedreira, marambaia, terra firme, sacramenta,
Marituba, ananindeua, icoaracy, do benguí pro guamá

Belém, belém, belém
Será que tá tudo bem... será?


Referências

COSTA, Tony Leão da. Brega paraense: indústria cultural e tradição na música popular do Norte do Brasil. Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH - São Paulo, julho  de  2011.

JENKINS, Henry. Cultura da Convergência. São Paulo: Aleph, 2008.

KELLNER, Douglas; SHARE, Jeff. Educação para a leitura crítica da mídia: democracia radical e a reconstrução da educação. Educ. Soc., Campinas, vol. 29 - n. 104 - 2008.

SILVA, Edilson Mateus Costa da. Ruy, Paulo e Fafá: a identidade amazônica na canção Paraense (1976-1980). Instituto De Filosofia E Ciências Humanas, Universidade Federal do Pará. Belém, 2010.

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