terça-feira, 5 de setembro de 2017

PROPOSTAS DIDÁTICAS DE COMO UTILIZAR AS NARRATIVAS ORAIS AMAZÔNICAS EM SALA DE AULA: OS TEMBÉ-TENETEHARA E A ESTERIOTIPAÇÃO DA CULTURA INDÍGENA PELA MÍDIA

Universidade Federal do Pará
Instituto de Letras e Comunicação
Faculdade de Letras
Disciplina: Recursos Tecnológicos no Ensino de Português
Docente: Ivânia Neves
Discentes: Daniele Nascimento da Silva
                  Gabriela Miranda de Brito
                  Rebeca Freire Furtado  

 FONTE: Amanda Araújo. Instagram: @iaharte

É Dia do Índio no Brasil. Quando crianças, vamos à escola e aprendemos a celebrar esse dia. Pintamo-nos, colocamos um cocar em nossa cabeça, pintamos o rosto com tinta e voltamos para casa batendo a palma da mão na boca, bem como vimos na televisão. Então nos sentimos “índios”. Mas será que isso caracteriza um indígena?
Desde a colonização, os indígenas são considerados pelos brancos como bárbaros e selvagens. De acordo com Neves (2009, p. 21):
Frequentemente projetamos nossos ideais ―acadêmicos em realidades cujas singularidades históricas e culturais não resistiram por séculos e séculos, apenas para satisfazer nosso gosto ocidental tão afeito a purismos e etnocentrismos.
 Para o colonizador, os indígenas não possuem conhecimento por não terem uma língua escrita. Eles atribuem a isso o “falar errado”, expressões como “para mim ir”, “índio fazer” e “índio gostar” são comumente apresentadas nas mídias televisivas.
A falta de conhecimento a respeito da cultura indígena gera um pensamento errôneo de que eles vivem socialmente isolados na floresta, como se não precisassem de políticas públicas e devessem se submeter a ações governamentais que prejudicam os seus espaços, tal como tem ocorrido na construção da hidrelétrica Belo Monte, no Xingu, em que várias tribos foram obrigadas a se deslocar do seu local de moradia devida essa construção.
Os Tembé-Tenetehara vivem no Pará, na Terra Indígena Alto Rio Guamá. De acordo com Neves (2009, p. 158), habitam em três regiões no Pará. No documentário “Desenhando a história de Zahy”, de Otoniel Oliveira e Marcos Vinícius de Oliveira (2015), percebemos que a comunidade faz uso de recursos tecnológicos, como celular e tablet; além disso, não vivem de forma isolada como é propagado nos meios televisivos. Será que, depois dessa afirmação, podemos pensar o indígena como um ser que vive isolado na floresta e que não possui conhecimento?
É preciso reconhecer a cultura indígena como pertencente a nossa própria cultura. As narrativas orais, neste sentido, são de grande importância para perpetuar a sua cultura, pois são depoimentos vivos que perpassam de geração em geração, sendo assim, são frutos da cultura imaterial da nossa sociedade. Desta maneira, para os indígenas, as narrativas orais funcionam como forma de sobrevivência da sua tradição cultural.
Conforme afirma Jenkins (2009), é importante que nos apropriemos dos recursos tecnológicos e nos tornemos participantes ativos. Por isso, o alunado precisa se valer desses recursos de forma crítica, não se influenciando pelos discursos distorcidos da mídia televisiva sobre a cultura indígena. De acordo com Freire (1996), os educadores precisam criar meios para que o aluno torne a sua curiosidade ingênua em curiosidade epistemológica. Ou seja, o conhecimento dos alunos sobre a cultura indígena, que ainda pode ser ingênuo, pode ser transformado em um conhecimento crítico, com o auxílio e o direcionamento adequado por parte do educador.
Fonte: Neves; Cardoso, 2015.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. Publicação original 1996.
JENKINS, Henry. Cultura da Convergência. São Paulo: Aleph, 2009.
NEVES, Ivânia. A invenção do índio e as narrativas orais Tupi. Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Estudos da Linguagem. Campinas, SP: 2009
NEVES, Ivânia dos Santos. Patrimônio Cultural Tembé-Tenetehara: terra indígena alto rio Guamá/ Ivânia dos Santos Neves, Ana Shirley Penaforte Cardoso. Belém: IPHAN-PA, 2015.
  
PLANEJAMENTO DA OFICINA
Tema: Tembé-Tenetehara: narrativas orais e a esteriotipação da cultura indígena pela mídia.
Público – alvo: alunos do 1º ano do ensino médio.
Duração: 20h

OBJETIVO GERAL
Analisar as narrativas orais dos Tembé-Tenetehara como forma de manifestação cultural.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS
·         Discutir sobre as narrativas orais dos Tembé;
·         Reconhecer os povos indígenas como parte de nossa história;
·         Possibilitar que os alunos desconstruam pensamentos esteriotipados a respeito dos indígenas;
·         Demonstrar que a mídia tem o poder de distorcer os valores culturais indígenas.   

JUSTIFICATIVA

O presente planejamento de oficina tem por intuito refletir sobre a cultura indígena como parte da nossa própria cultura, desconstruindo pensamentos que a inferiorizam. Não trataremos de avaliar qual cultura é melhor ou pior, mas perceber que cada povo, mais especificamente os povos indígenas, possuem uma longa trajetória de resistências e lutas. Portanto, torna-se necessário buscar o entendimento cultural e político de cada povo.
Segundo Vieira (2016), as histórias são uma forma de manter presente a cultura, as crenças e os hábitos de um povo; é um instrumento para proporcionar a união e a força de um povo; é também, manter uma atualização diante do novo ritmo que este povo indígena faz parte. Por isso, as narrativas servem de auxílio e manutenção da identidade cultural para os indígenas diante das diversas lutas que esses povos enfrentaram e continuam a enfrentar. As narrativas orais beneficiam o entendimento sobre as questões religiosas, sociais e étnicas dos povos indígenas.
Os Tembé-Tenetehara, assim como os demais povos indígenas, têm nas suas narrativas orais uma forma de auto identificação, além de comunicar e compartilhar saberes de gerações anteriores para gerações futuras, buscando manter viva a experiência, os conselhos e a história de seu povo. Nosso objetivo será discutir sobre a estereotipação indígena presente nas mídias, tendo como contraponto as próprias narrativas deste povo. É importante ressaltar que, a oficina será ministrada para alunos que moram no Pará, por isso, nos atentamos em selecionar narrativas de sua mesma região.

METODOLOGIA:
A oficina “Tembé-Tenetehara: narrativas orais e a esteriotipação da cultura indígena pela mídia” terá a duração de 20H e será realizada em 5 aulas, com 4 horas cada. Discutiremos acerca da estereotipação indígena presente nas mídias e as narrativas orais dos Tembé.

ü  Primeiro encontro (4 horas): 
1° momento
Em um primeiro momento, distribuiremos para os alunos figuras ou imagens que comumente são relacionadas aos povos indígenas e questionaremos a quem eles associaram as imagens.
2° momento
Discutiremos sobre a figura indígena que foi criada pelo colonizador. Mostraremos para os alunos que essas figuras associadas aos indígenas são uma forma errônea de estereotipar esses povos. Após isso, explicaremos quem são os indígenas, qual a sua importância, como foi o processo de colonização e como as suas narrativas se perpetuam até os dias de hoje.
3° momento
Apresentaremos o documentário “Desenhando a história de Zahy”, de Otoniel Oliveira e Marcos Vinícius de Oliveira (2015), apresentando para os alunos os Tembé-Tenetehara, permitindo, assim, um novo olhar sobre a cultura indígena.



4° momento
No quarto momento da aula, distribuiremos a narrativa “O nascimento de Zahy”, que foi exposta no documentário. Abriremos uma discussão com os alunos sobre que concepções eles possuíam sobre os indígenas e se isso foi modificado com a exibição do documentário e a leitura da narrativa.

ü  Segundo encontro (4 horas): 
1° momento
Iniciaremos o primeiro momento de aula entregando para os alunos a narrativa “O grande incêndio”. Essa narrativa é de grande importância para verificar as crenças dos Tembé-Tenetehara sobre a criação.
2° momento
Discutiremos com os alunos que essa narrativa apresenta apenas mais uma visão dentre tantas outras que já conhecemos e, por isso, não deve ser vista com preconceitos.
3° momento
Exibiremos para os alunos um vídeo disponível no portal de entretenimento Gshow contendo uma gama de representações da cultura indígena transmitidas na Rede Globo.


4° momento
Em uma roda de conversa, levantaremos alguns questionamentos para os alunos que envolvem a estereotipação dos indígenas nas mídias televisivas, como a “fala errada”, a nudez, o modo de se portar, as suas crenças, etc. Ao final da aula, pediremos que os alunos criem grupos de 5 pessoas para pesquisar na internet, principalmente no YouTube, reportagens televisivas que abordem a cultura indígena.
ü  Terceiro encontro (4 horas): 
1° momento
Iniciaremos a aula com a exposição das reportagens encontradas pelos alunos e levantaremos um debate sobre a temática. 
2° momento
No segundo momento, dividiremos a sala de aula em dois lados, um deles o posicionamento da mídia e do outro o lado dos indígenas; faremos um “júri simulado” com o intuito de ouvirmos os argumentos dos alunos.
3° momento
No terceiro momento, teremos a exposição dos argumentos de cada lado, em que os alunos terão que defender os seus pontos de vista.
4° momento
Ao final, faremos uma reflexão sobre o que aprendemos com o “júri simulado”.
ü  Quarto encontro (4 horas): 
1° momento
Faremos uma leitura mediada da narrativa “Os filhos de Maíra e Mucura” do povo Tembé-Tenetehara e conversaremos sobre as impressões dos alunos.
2° momento
Exibiremos o vídeo do YouTube “Xou da Xuxa - Brincar de Indio – 1989”, em que a apresentadora dança a música “Brincar de índio” na frente de indígenas que foram convidados a participar do programa.


3° momento
Faremos uma discussão crítica sobre o vídeo diante da apropriação pejorativa de elementos da cultura indígena.
4° momento
 Pediremos que os alunos escrevam um texto dissertativo-argumentativo sobre a temática de nossa Oficina. Ao final da atividade, solicitaremos que os alunos tragam na última aula um cartaz contendo elementos presentes em nossa sociedade originados da cultura indígena.
ü  Quinto encontro (4 horas): 
1° momento
No nosso último encontro, os alunos farão a exposição dos cartazes e explicarão o seu conteúdo.
2° momento
Para finalizar a oficina, exibiremos o vídeo no YouTube da reportagem da TV Cultura no “Jornal Cultura - Especial Tembé Tenetehara”. Por fim, daremos ênfase na importância de valorizar e respeitar a cultura indígena.



AVALIAÇÃO
A avaliação será feita de forma contínua, ou seja, terá caráter formativo, em que serão observados alguns aspectos nos alunos, como a participação em sala nas discussões, a realização das atividades pedidas durante a oficina e a frequência.

RECURSOS UTILIZADOS
ü  Computador
ü  Caixa de Som
ü  Data show
ü  Material impresso


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CANALPORTALCULTURA. Jornal Cultura - Especial Tembé Tenetehara. Disponível em: . Acesso em: 3 de agosto de 2017.
CARVALHO, Vivian de Nazareth Santos. O indígena na telenovela brasileira: discursos e acontecimentos. 2015. 109 f. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Pará, Instituto de Letras e Comunicações, Belém, 2015. Programa de Pós-Graduação Comunicação, Cultura e Amazônia
COELHO, José Rondinelle Lima. Cosmologia Tenetehara Tembé: (re)pensando narrativas, ritos e alteridade no Alto Rio Guamá – PA. Dissertação de Mestrado, Programa de PósGraduação em Antropologia Social, Universidade Federal do Amazonas, 2014.
GSHOW. Vídeo Show relembra os índios da TV. Disponível em: <https://globoplay.globo.com/v/1371121/>.  Acesso em: 5 de agosto de 2017.
JENKINS, Henry. Cultura da Convergência. São Paulo: Aleph, 2009.
NEVES, Ivânia. A invenção do índio e as narrativas orais Tupi. Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Estudos da Linguagem. Campinas, SP: 2009.
NEVES, I. ; CARVALHO, V. N. S. . A ?Fala Errada? dos Indígenas nas Telenovelas Brasileiras: Entre o Saber e o Poder. Revista Comunicação Midiática , v. 9, p. 69-85, 2015.
MARTÍN-BARBERO, J. A Comunicação na Educação. São Paulo: Contexto, 2014. 
OLIVEIRA, Marcos; OLIVEIRA, Vinícius de. Desenhando a historia de zahy - Experiências Tembé-tenetehara. Disponível em: . Acesso em: 3 de agosto 2017.
PAPAQUITO. Xou da Xuxa - Brincar de Indio – 1989. Disponível em: . Acesso em: 5 de agosto.
VIEIRA, Monica do Corral. Histórias Tembé: Sobre narrativas e autoidentificação. Programa de pós-graduação em letras, UFPA. Belém, 2016.













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