Universidade Federal do Pará
Instituto de Letras e Comunicação
Faculdade de Letras
Disciplina: Recursos Tecnológicos no Ensino
de Português
Docente: Ivânia Neves
Discentes: Daniele Nascimento da Silva
Gabriela Miranda
de Brito
Rebeca Freire
Furtado
É Dia do Índio no Brasil. Quando crianças, vamos à
escola e aprendemos a celebrar esse dia. Pintamo-nos, colocamos um cocar em
nossa cabeça, pintamos o rosto com tinta e voltamos para casa batendo a palma
da mão na boca, bem como vimos na televisão. Então nos sentimos “índios”. Mas
será que isso caracteriza um indígena?
Desde a colonização, os indígenas são considerados
pelos brancos como bárbaros e selvagens. De acordo com Neves (2009, p. 21):
Frequentemente
projetamos nossos ideais ―acadêmicos em realidades cujas singularidades
históricas e culturais não resistiram por séculos e séculos, apenas para
satisfazer nosso gosto ocidental tão afeito a purismos e etnocentrismos.
Para o
colonizador, os indígenas não possuem conhecimento por não terem uma língua
escrita. Eles atribuem a isso o “falar errado”, expressões como “para mim ir”,
“índio fazer” e “índio gostar” são comumente apresentadas nas mídias
televisivas.
A falta de conhecimento a respeito da cultura
indígena gera um pensamento errôneo de que eles vivem socialmente isolados na
floresta, como se não precisassem de políticas públicas e devessem se submeter
a ações governamentais que prejudicam os seus espaços, tal como tem ocorrido na
construção da hidrelétrica Belo Monte, no Xingu, em que várias tribos foram
obrigadas a se deslocar do seu local de moradia devida essa construção.
Os Tembé-Tenetehara vivem no Pará, na Terra
Indígena Alto Rio Guamá. De acordo com Neves (2009, p. 158), habitam em três
regiões no Pará. No documentário “Desenhando a história de Zahy”, de Otoniel
Oliveira e Marcos Vinícius de Oliveira (2015), percebemos que a comunidade faz
uso de recursos tecnológicos, como celular e tablet; além disso, não vivem de
forma isolada como é propagado nos meios televisivos. Será que, depois dessa
afirmação, podemos pensar o indígena como um ser que vive isolado na floresta e
que não possui conhecimento?
É preciso reconhecer a cultura indígena como
pertencente a nossa própria cultura. As narrativas orais, neste sentido, são de
grande importância para perpetuar a sua cultura, pois são depoimentos vivos que perpassam de geração em geração, sendo
assim, são frutos da cultura imaterial da nossa sociedade. Desta maneira, para
os indígenas, as narrativas orais funcionam como forma de sobrevivência da sua
tradição cultural.
Conforme afirma Jenkins (2009),
é importante que nos apropriemos dos recursos tecnológicos e nos tornemos
participantes ativos. Por isso, o alunado precisa se valer desses recursos de
forma crítica, não se influenciando pelos discursos distorcidos da mídia
televisiva sobre a cultura indígena. De acordo com Freire (1996), os educadores
precisam criar meios para que o aluno torne a sua curiosidade ingênua em
curiosidade epistemológica. Ou seja, o conhecimento dos alunos sobre a cultura
indígena, que ainda pode ser ingênuo, pode ser transformado em um conhecimento
crítico, com o auxílio e o direcionamento adequado por parte do educador.
Fonte: Neves; Cardoso, 2015.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FREIRE,
Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes
necessários à prática educativa. Publicação original 1996.
JENKINS, Henry. Cultura da Convergência.
São Paulo: Aleph, 2009.
NEVES, Ivânia. A
invenção do índio e as narrativas orais Tupi. Tese (doutorado) -
Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Estudos da Linguagem. Campinas,
SP: 2009
NEVES, Ivânia dos Santos. Patrimônio Cultural Tembé-Tenetehara: terra indígena alto rio Guamá/
Ivânia dos Santos Neves, Ana Shirley Penaforte Cardoso. Belém: IPHAN-PA, 2015.
PLANEJAMENTO
DA OFICINA
Tema: Tembé-Tenetehara:
narrativas orais e a esteriotipação da cultura indígena pela mídia.
Público –
alvo: alunos do 1º ano do ensino médio.
Duração: 20h
OBJETIVO GERAL
Analisar as narrativas orais dos Tembé-Tenetehara
como forma de manifestação cultural.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
·
Discutir sobre as narrativas
orais dos Tembé;
·
Reconhecer os povos indígenas
como parte de nossa história;
·
Possibilitar que os alunos
desconstruam pensamentos esteriotipados a respeito dos indígenas;
·
Demonstrar que a mídia tem o
poder de distorcer os valores culturais indígenas.
JUSTIFICATIVA
O
presente planejamento de oficina tem por intuito refletir sobre a cultura
indígena como parte da nossa própria cultura, desconstruindo pensamentos que a
inferiorizam. Não trataremos de avaliar qual cultura é melhor ou pior, mas
perceber que cada povo, mais especificamente os povos indígenas, possuem uma
longa trajetória de resistências e lutas. Portanto, torna-se necessário buscar
o entendimento cultural e político de cada povo.
Segundo
Vieira (2016), as histórias são uma forma de manter presente a cultura, as
crenças e os hábitos de um povo; é um instrumento para proporcionar a união e a
força de um povo; é também, manter uma atualização diante do novo ritmo que
este povo indígena faz parte. Por isso, as narrativas servem de auxílio e
manutenção da identidade cultural para os indígenas diante das diversas lutas
que esses povos enfrentaram e continuam a enfrentar. As narrativas orais
beneficiam o entendimento sobre as questões religiosas, sociais e étnicas dos
povos indígenas.
Os Tembé-Tenetehara,
assim como os demais povos indígenas, têm nas suas narrativas orais uma forma
de auto identificação, além de comunicar e compartilhar saberes de gerações
anteriores para gerações futuras, buscando manter viva a experiência, os
conselhos e a história de seu povo. Nosso objetivo será discutir sobre a
estereotipação indígena presente nas mídias, tendo como contraponto as próprias
narrativas deste povo. É importante ressaltar que, a oficina será ministrada
para alunos que moram no Pará, por isso, nos atentamos em selecionar narrativas
de sua mesma região.
METODOLOGIA:
A oficina
“Tembé-Tenetehara: narrativas orais e a esteriotipação da cultura indígena pela
mídia” terá a duração de 20H e será realizada em 5 aulas, com 4 horas cada.
Discutiremos acerca da estereotipação indígena presente nas mídias e as
narrativas orais dos Tembé.
ü Primeiro
encontro (4 horas):
1° momento
Em um
primeiro momento, distribuiremos para os alunos figuras ou imagens que
comumente são relacionadas aos povos indígenas e questionaremos a quem eles
associaram as imagens.
2°
momento
Discutiremos
sobre a figura indígena que foi criada pelo colonizador. Mostraremos para os
alunos que essas figuras associadas aos indígenas são uma forma errônea de
estereotipar esses povos. Após isso, explicaremos quem são os indígenas, qual a
sua importância, como foi o processo de colonização e como as suas narrativas
se perpetuam até os dias de hoje.
3° momento
Apresentaremos
o documentário “Desenhando a história de Zahy”, de Otoniel Oliveira e Marcos Vinícius
de Oliveira (2015), apresentando para os alunos os Tembé-Tenetehara, permitindo,
assim, um novo olhar sobre a cultura indígena.
4° momento
No quarto
momento da aula, distribuiremos a narrativa “O nascimento de Zahy”, que foi
exposta no documentário. Abriremos uma discussão com os alunos sobre que
concepções eles possuíam sobre os indígenas e se isso foi modificado com a
exibição do documentário e a leitura da narrativa.
ü Segundo
encontro (4 horas):
1°
momento
Iniciaremos
o primeiro momento de aula entregando para os alunos a narrativa “O grande
incêndio”. Essa narrativa é de grande importância para verificar as crenças dos
Tembé-Tenetehara sobre a criação.
2°
momento
Discutiremos
com os alunos que essa narrativa apresenta apenas mais uma visão dentre tantas
outras que já conhecemos e, por isso, não deve ser vista com preconceitos.
3° momento
Exibiremos para os alunos um vídeo disponível no
portal de entretenimento Gshow contendo uma gama de representações da cultura
indígena transmitidas na Rede Globo.
4° momento
Em uma roda de conversa, levantaremos alguns
questionamentos para os alunos que envolvem a estereotipação dos indígenas nas
mídias televisivas, como a “fala errada”, a nudez, o modo de se portar, as suas
crenças, etc. Ao final da aula, pediremos que os alunos criem grupos de 5
pessoas para pesquisar na internet, principalmente no YouTube, reportagens televisivas
que abordem a cultura indígena.
ü Terceiro
encontro (4 horas):
1°
momento
Iniciaremos
a aula com a exposição das reportagens encontradas pelos alunos e levantaremos
um debate sobre a temática.
2°
momento
No
segundo momento, dividiremos a sala de aula em dois lados, um deles o
posicionamento da mídia e do outro o lado dos indígenas; faremos um “júri
simulado” com o intuito de ouvirmos os argumentos dos alunos.
3° momento
No
terceiro momento, teremos a exposição dos argumentos de cada lado, em que os
alunos terão que defender os seus pontos de vista.
4° momento
Ao final,
faremos uma reflexão sobre o que aprendemos com o “júri simulado”.
ü Quarto
encontro (4 horas):
1°
momento
Faremos
uma leitura mediada da narrativa “Os filhos de Maíra e Mucura” do povo
Tembé-Tenetehara e conversaremos sobre as impressões dos alunos.
2°
momento
Exibiremos
o vídeo do YouTube “Xou da Xuxa - Brincar de Indio – 1989”, em que a
apresentadora dança a música “Brincar de índio” na frente de indígenas que
foram convidados a participar do programa.
3° momento
Faremos
uma discussão crítica sobre o vídeo diante da apropriação pejorativa de
elementos da cultura indígena.
4° momento
Pediremos
que os alunos escrevam um texto dissertativo-argumentativo sobre a temática de
nossa Oficina. Ao final da atividade, solicitaremos que os alunos tragam na
última aula um cartaz contendo elementos presentes em nossa sociedade originados
da cultura indígena.
ü Quinto
encontro (4 horas):
1°
momento
No nosso
último encontro, os alunos farão a exposição dos cartazes e explicarão o seu
conteúdo.
2°
momento
Para
finalizar a oficina, exibiremos o vídeo no YouTube da reportagem da TV Cultura
no “Jornal Cultura - Especial Tembé Tenetehara”. Por fim, daremos ênfase na
importância de valorizar e respeitar a cultura indígena.
AVALIAÇÃO
A
avaliação será feita de forma contínua, ou seja, terá caráter formativo, em que
serão observados alguns aspectos nos alunos, como a participação em sala nas
discussões, a realização das atividades pedidas durante a oficina e a frequência.
RECURSOS UTILIZADOS
ü Computador
ü Caixa de
Som
ü Data show
ü Material
impresso
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CANALPORTALCULTURA. Jornal Cultura - Especial Tembé Tenetehara. Disponível em: .
Acesso em: 3 de agosto de 2017.
CARVALHO,
Vivian de Nazareth Santos. O indígena na telenovela brasileira: discursos e acontecimentos.
2015. 109 f. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Pará, Instituto
de Letras e Comunicações, Belém, 2015. Programa de Pós-Graduação Comunicação,
Cultura e Amazônia
COELHO,
José Rondinelle Lima. Cosmologia
Tenetehara Tembé: (re)pensando narrativas, ritos e alteridade no Alto Rio Guamá
– PA. Dissertação de Mestrado, Programa de PósGraduação em Antropologia
Social, Universidade Federal do Amazonas, 2014.
GSHOW. Vídeo
Show relembra os índios da TV. Disponível em: <https://globoplay.globo.com/v/1371121/>. Acesso em: 5 de
agosto de 2017.
JENKINS, Henry. Cultura da Convergência.
São Paulo: Aleph, 2009.
NEVES, Ivânia. A invenção do
índio e as narrativas orais Tupi. Tese (doutorado) - Universidade Estadual
de Campinas, Instituto de Estudos da Linguagem. Campinas, SP: 2009.
NEVES, I. ; CARVALHO, V. N. S. . A ?Fala Errada? dos Indígenas nas
Telenovelas Brasileiras: Entre o Saber e o Poder. Revista Comunicação
Midiática , v. 9, p. 69-85, 2015.
MARTÍN-BARBERO, J. A Comunicação na
Educação. São Paulo: Contexto, 2014.
OLIVEIRA,
Marcos; OLIVEIRA, Vinícius de. Desenhando a historia de zahy - Experiências Tembé-tenetehara.
Disponível em: . Acesso em:
3 de agosto 2017.
PAPAQUITO. Xou
da Xuxa - Brincar de Indio – 1989. Disponível em: .
Acesso em: 5 de agosto.
VIEIRA,
Monica do Corral. Histórias Tembé: Sobre
narrativas e autoidentificação. Programa de pós-graduação em letras, UFPA.
Belém, 2016.
PROPOSTAS DIDÁTICAS DE COMO UTILIZAR AS NARRATIVAS ORAIS AMAZÔNICAS EM SALA DE AULA: OS TEMBÉ-TENETEHARA E A ESTERIOTIPAÇÃO DA CULTURA INDÍGENA PELA MÍDIA de Breados Online
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