terça-feira, 12 de julho de 2011

Belém do Pará e o Cinema

imagem retirada do site www.sciencephoto.com

“Em Belém, chegou primeiro o Vitascope de Edison. Foi em 29 de dezembro de 1896, no Theatro da Paz”.
(Cinema no Tucupi – Pedro Veriano).

O trecho acima refere-se a primeira sessão de cinema que a nossa Belém do Pará assistiu. O programa noticiado à época pelos jornais mostrava o Theatro Da Paz recebendo o Vitascope de Thomas Edison com direito a lugares em cadeiras e camarotes. A primeira sessão de cinema da capital paraense apresentava uma variedade de temas em seu programa. Um deles recuperado por uma das poderosas novas mídias apresenta o primeiro beijo do cinema. Esse pequeno filme de mais ou menos vinte segundos, era um dos mais populares filmes mostrado no Vitascope de Edison. “O Beijo”, retirado do palco do musical The Widow Jones,  foi dirigido por William Heise e executado pelos atores John C. Rice e May Irwin. De uma singeleza que beira o cômico, a produção chegou a ser considerada escandalosa no tempo de seu lançamento. Além desse filme, outros estavam nesse primeiro programa de cinema.

Primeira Parte: Namorada interrompida; Lutadores; Dança do Sol.
Segunda Parte: O beijo (o primeiro do cinema); Dança indígena; Um jardim.
Terceira Parte: Salvando a vida de um índio;Uma oficina de carpintaria em movimento; Uma praia em Nova York.
Quarta Parte:Brigas de grilo; Ataque de cavaleiro;Criança guardando patinhos.

No seu livro dedicado unicamente ao cinema paraense, Cinema no Tucupi, Pedro Veriano revela que no início da segunda década do século XX Belém tinha 12 cinemas funcionando. E não eram mais teatros alugados. Os novos comerciantes do ramo aprenderam que cinema podia ser um lençol branco esticado, alguns bancos corridos e um projetor de qualquer marca. O pioneirismo implicava em salas de bairros como o “Beco do Carmo”, e projeções “volantes”, como as que aconteciam em outubro no Arraial de Nazaré.
Em 24 de abril de 1912, Belém recebe a primeira casa construída exclusivamente para receber um estilo de atividade que muitos na época viam com olhar preconceituoso, o cinema. O Olympia, foi fundado por dois grandes empresários da época Carlos Teixeira e Antonio Martins, donos do Grande Hotel, construído no auge do período da borracha (onde hoje está o Hilton Hotel) e do Palace Theatre (na mesma quadra). Eles queriam fazer do cinema um ponto “chique” para atrair os freqüentadores do Teatro da Paz e, obviamente, os hóspedes de seu hotel. De acordo com o jornal A folha do Norte noticiou evento no dia seguinte a sua inauguração com as palavras:
Público do Cinema Olympia aguardando sessão no
terrace do Grande Hotel
imagem retirada do site www.cinamaolympia.com.br

 “Marcou um verdadeiro acontecimento nas rodas elegantes dessa capital, entre o que a sociedade tem de mais fino, de chic e culto, a inauguração do Cinema Olympia, realizada ontem no luxuoso edifício construído para esse fim à Praça da República, esquina da Rua Macapá.
Tudo que Belém tem de belo, de encantador e de alegre, concorreu com a sua presença para o brilhantismo da serata, dando por alguns momentos à nova casa de diversões, um aspecto delicioso de raro prazer, que bem traduz a ansiedade que se achava a nossa população por um centro onde pudesse experimentar a deliciosa sensação de viver que nos dá o contato com gente sadia e distinta que se diverte”.

imagem retirada do site www.cinematecaparaense.wordpress.com
Em 1920, surgia o Cinema Iracema. Competindo com o grande Cinema Olympia do grupo Teixeira & Martins, grupo esse que nesse período contava com cinco cinemas além do Olympia: o Guarani, na cidade Velha; o Íris no Reduto; o São João, na Praça Brasil; o Popular e o Poeira, ambos em Nazaré. O Iracema por algum tempo competiu no gosto da elite da população com o Olympia, como principal atrativo o Iracema lançava películas da Metro Golwyn Mayer, um dos estúdios de grande renome da época dourada do cinema.

Os Cinemas de Bairro
O Guarani, o Popular, o Íris, o Poeira, o São João e o gigante Rex eram salas de exibições modestas que se diferenciavam no preço, na falta de conforto (geralmente com bancos corridos de madeira) e nos filmes, que geralmente eram lançados em primeira mão no Olympia e no Iracema e somente depois nas salas de bairro.
Curiosamente o Rex, depois chamado de Vitória, dava a impressão em quem passava pela frente que era um dos menores da cidade. Não chegava nem mesmo a ter marquise para anunciar os filmes, limitando-se aos cartazes pendurados próximos à bilheteria. O Rex/Vitória localizava-se na Avenida Pedro Miranda – Pedreira.

Primeira e Segunda Classe
O Cinema Moderno, localizado em Nazaré e o Independência no Bairro de São Brás, tinham características peculiares: duas classes. A primeira classe composta de poltronas de madeira e a segunda de bancos corridos. As duas classes eram separadas por uma armação de madeira

O Caso Glória
Quando o Cinema Glória inaugurou em 1930 com a estréia do cinema falado em terras paraenses, sua primeira exibição não teve tanta sorte. Quem foi a première passou por enorme constrangimento: foi a noite em que estourou a Revolução de 30. Os homens foram conduzidos a um quartel próximo e as mulheres retornaram às suas casas sob escolta militar.

Cine Palácio
Em 12 de dezembro de 1959, com o slogan do primeiro logotipo anunciando “O máximo de luxo em conforto”, nascia o Cine Palácio que representou uma mudança de paradigma para o comércio cinematográfico local. Com estrutura que honrava o nome composta por 1300 poltronas estofadas, sistema central de ar-condicionado, mezzanino que seguia até o meio do salão, tapetes, estrutura para melhorar o som, lâmpadas nas laterais baixas das poltronas, projetores modernos entre outros detalhes. Porém todo esse glamour nascia em um período de crise nos cinemas de Belém. Nesse ano os cinemas dos bairros não conseguiam se manter e alguns fecharam suas portas. Não indiferentes a crise os maiores também passavam por grandes dificuldades.

Cinemas em Mosqueiro e Icoaraci
Icoaraci  e Mosqueiro também estavam incluídas no roteiro de cinema. Icoaraci contava com dois cinemas o Ipiranga e o Guanabara. Na ilha de Mosqueiro havia o Guajarino, localizado na Praça Matriz/Vila, que conseguiu sobreviver até 1976. Nos anos de 1955 e 1957 foi montado também nos períodos de férias de julho um cinema no antigo Mercado do Chapéu Virado, que antes funcionava como uma escola pública.

A Força do Cinema
Retirada das poltronas do Cinema Nazaré.
fotografia obtida pelo blog podevideo 
Talvez o que mais impressione nas diversas crises atravessadas pelo cinema, que podem ser testemunhadas por nós nos momentos em que perdemos nossas históricas salas, seja a força original dele. As batalhas nas quais as salas de cinema da nossa cidade protagonizaram foram inúmeras e como sabemos a exceção do Cinema Olympia, o mais velho em funcionamento no Brasil, todos tiveram seu fim. Contudo nessa guerra ou nesse drama que desfila uma vasta galeria de vilões lutando com seus múltiplos poderes, estamos assistindo a algo que nos leva a constatar que com sua única arma as salas de exibição provam que podem resistir, apesar de se apresentarem hoje sob um novo conceito de salas de exibição: a magia do cinema. A televisão, o videocassete, o DVD a Internet, nada consegue reproduzir isso. Como costumávamos ler nas salas do saudoso Grupo Severiano Ribeiro:

Projetores sendo retirados do Cinema Nazaré
Imagem: blog podevideo
CINEMA É A MAIOR DIVERSÃO.



Cinema Olympia
(Caetano Veloso)
Não quero mais essas tardes mornais, normais
Não quero mais video tapes, mormaço, março, abril
Eu quero pulgas mil na geral
Eu quero a geral
Eu quero ouvir gargalhada geral
Quero um lugar pra mim, pra você
Na matinê do cinema Olympia
Do cinema Olympia
Na matinê do cinema Olympia
Do cinema Olympia
Na matinê do cinema Olympia
Do cinema Olympia
Tom Mix, Bulk Jones
Vela e palco
Sorvetes e vedetes
Socos e coladas
Espartilhos
Pernas e gatilhos
Atilhos gargalhada geral
Do meio-dia até o anoitecer

Postado por Raimundo Tocantins. Aluno do Mestrado Comunicação,Linguagens e Cultura - UNAMA.

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