sábado, 9 de julho de 2016

RELIGIÕES: MATRIZES AFRICANAS, QUAIS SUAS INFLUÊNCIAS EM BELÉM-PARÁ


Universidade Federal do Pará
Instituto de Letras e Comunicação
Faculdade de Letras- FALE
Disciplina: Tecnologias Educacionais e Ensino de Língua Portuguesa
Docente: Ivânia Neves
Cristina Queiroz, Delson Sales, Jane Carla, 
Ruth Helena, Iolanda Barbosa


INTRODUÇÃO

As matrizes africanas religiosas têm percorrido um longo caminho na construção da cultura religiosa brasileira, sendo praticadas também no estado do Pará, onde são referendadas com grandes manifestações culturais. Essas manifestações estão presentes em todo o território paraense, podemos citar entre eles a festa de Iemanjá- comemorada pelos umbandistas paraenses todos os anos no mês de dezembro, realizada na praia do Outeiro em Icoaraci, atraindo milhares de seguidores que fazem oferendas e pedidos para Iemanjá.
FOTO 01: A Festa de Iemanjá em Outeiro
Fonte:
 http://g1.globo.com/pa/para/noticia/2014/05/festa-de-iemanja-vira-patrimonio-cultural-imaterial-do-para.html. Acesso em: 01 jul. 2016
As religiões de matrizes africanas são consideradas uma das principais culturas do País. Essas religiões de matrizes africanas foram incorporadas à cultura brasileira há muito tempo, quando os/as primeiros/as africanos/as escravizados/as desembarcaram no país e encontraram em sua religiosidade uma forma de preservar suas tradições, idiomas, conhecimentos e valores trazidos da África.
E, assim, como quase tudo que fazia parte deste universo, tais religiões – apesar de sua influência e importância na construção da cultura nacional – também foram perseguidas e, em determinados momentos históricos, até proibidas. Atualmente, os ataques mais expressivos às religiões de matriz africana vêm das chamadas religiões ‘neopentecostais’, que comumente as rotulam de ‘culto aos demônios’, ‘crendices’ e ‘feitiçarias’.
Segundo Barbeiro, a transmissão a heranças culturais entre gerações, a conversação dos jovens com herança cultural acumulada ao longo de, pelo menos, 25 séculos e a outra, a capacitação, a formação de capacidades, destrezas e competências que permitam aos alunos sua inserção ativa no campo de trabalho e profissional.     (2014, p.10).
Toda essa ignorância com relação a essas culturas gera um ambiente propício para intolerância, proporcionando sofrimento aos praticantes e a todos/as aqueles/as que fazem parte da população negra, que tem os seus direitos de pertença e identidade racial muitas vezes negado em função do racismo. Cabe à escola contribuir para amenizar esse tipo de problemática, que inúmeras vezes ocorre dentro do ambiente escolar, gerando desconforto e exclusão social até mesmo entre alunos.
Outra situação identificada é o tratamento dado pelos organismos oficiais à afro religiosidade. Como exemplo disso, pode-se citar a classificação pelo IBGE, no censo demográfico de 2000 para identificar os afros religiosos, a qual utilizou apenas a umbanda e o candomblé, sem contemplar as outras nações existentes. Isso é considerado pelos afros religiosos, como um a fator que dificulta a auto identificação daqueles que possuem nações diferentes. O que por sua vez vem repercutir no registro do número de pessoas que praticam a afro religiosidade em Belém.
Esse movimento continua com forças até os dias de hoje, contudo vem de encontro com o grande preconceito que existe na nossa sociedade dividindo a opinião das pessoas dentro uma mesma classe social e religiosa. Naturalmente o tema ressalta a relação diversificada nas questões religiosas, principalmente voltada às matrizes africanas e desenvolve cada vez mais ações e reações preconceituosas nas relações raciais e religiosas que se originaram a partir de crenças, segundo Paulo Freire (1996)

Quão ausentes da democracia se acham os que queimam igrejas de negros porque, certamente, negros não tem aula. Negros não rezam. Com sua negritude, os negros sujam a branquitude das orações. A mim me dá pena e não raiva, quando vejo a arrogância com que a branquitude de sociedades em que se faz isso, em que se queimam igrejas de negros [...] (FREIRE, 1996, p. 17)

Em geral, numa mesma sociedade, notamos nítidas diferenças e preconceitos dentre relações religiosas, principalmente relacionadas às matrizes africanas, realidade esta que deve ser mudada através de uma prática docente que valorize as culturas sociais e religiosas. No entanto, nas de sala de aula costuma separar ou não esclarecer os problemas teóricos em práticas de éticas que deveriam conscientizar com atos e efeitos como: liberdade, valores, leis dentre outras diversidades culturais e religiosas, visto que na vida real eles não aparecem separadamente, estão interagindo em nossas vidas.
Um fator preocupante é que alguns pais por não conhecer o assunto tratado acabam incentivando o preconceito religioso, assim incentivam esse tipo de preconceito dentro de casa e os filhos aprendem que seu modo, sua cultura, sua cor é o considerado superior aos demais. Hoje temos visto com frequência os inúmeros casos de violência que vem atingindo a sociedade, na maioria das vezes as vítimas são pessoas negras e de classe social baixa
Dessa forma como relata Martín- Barbero, a escola continua consagrando uma linguagem retórica e distante da vida, de suas penas, suas ânsias e suas lutas, tornando absoluta uma cultura que asfixia a voz própria. (2014 p.25)
Nesse redimensionamento, o acesso tecnológico à informação e comunicação desenvolvem mudanças sociais e culturais originadas e infiltradas no âmbito educacional, que deve possibilitar a construção de novos comportamentos e concepções pedagógicas voltadas ao ensino aprendizagem. Certamente que as tecnologias com seu poder de aquisição denotam estas acessibilidades na vida da humanidade. Para justificar este posicionamento, cito um trecho do livro “ Cultura da Convergência, de Jenkins(2009, p.28).

A convergência não ocorre por meios de aparelhos, por mais sofisticados que venham a ser. A convergência ocorre dentro dos cérebros de consumidores individuais e em suas interações sociais com outros. Cada um de nós constrói a própria mitologia pessoal, a partir de pedações e fragmentos de informações extraídos do fluxo midiático e transformados em recursos através dos quais compreendemos nossa vida cotidiana

Desde a descoberta e apropriação colonizadora dos portugueses, tornou-se marcante a dependência da incomunicabilidade e divisões relacionadas, implantadas nas questões das religiões matrizes africanas, um fenômeno cultural da América Latina. Nesse âmbito, segundo Martín- Barbero( 2014 ,p.22): “O negro, policiado, cantava na noite a música de seu coração, só é desconhecido, entre as ondas é as feras.”  
Para finalizar deixamos o seguinte vídeo para observação de um ritual afro religioso realizado em Belém do Pará.




PLANO DE AULA
        
Público- alvo: Alunos do 2º Ano do Ensino Médio.
Duração:  5 aulas de 45 min cada

OBJETIVOS

OBJETIVO GERAL
 - Ampliar o conhecimento e o respeito pelas matrizes africanas valorizando o papel do negro na construção da cultura afro religiosa da cidade de Belém.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS


·        Refletir sobre a construção das matrizes religiosas africanas da cidade de Belém.

·        Conhecer as matrizes religiosas africanas, e os diversos tipos de religiões africanas.

·        Produzir um texto sobre o preconceito religioso existente na sociedade belenense.

·        Analisar vídeos e imagens sobre os eventos realizados na cidade de Belém destacando suas principais características culturais.

·        Aprimorar a leitura, a criatividade, a tolerância e o respeito a cultura do outro.

·        Identificar os principais grupos afros religiosos da cidade de Belém.

·        Valorizar a cultura religiosa da cidade de Belém.

·        Elaborar estratégica de produções (uma a uma)
·         Desenvolver atitudes de interação, de colaboração e de troca de experiências em grupos.

CONTEÚDOS: As matrizes religiosas africanas, a cultura, gêneros textuais, leitura compreensão e interpretação textual.

JUSTIFICATIVA
                As religiões de matriz africana foram incorporadas à cultura brasileira com a chegada dos primeiros povos escravizados que desembarcaram no nosso país e encontraram em sua religiosidade uma forma de preservar suas tradições, idiomas, conhecimentos e valores trazidos da África. As Religiões de matriz africana são as religiões cuja essência teológica e filosófica são oriundas das religiões tradicionais africanas e podem ser divididas em dois tipos: as religiões tradicionais africanas e as religiões afro-americanas.
                No Pará Missionários em defesa da liberdade dos nativos, criou condições para a importação de escravos africanos, para resolver problemas com a mão-de-obra no período da colonização no Grão-Pará, Portugal buscou resolver o problema com a escravidão negra africana.  A sociedade colonial na Amazônia, ao longo dos séculos XVII ao XIX, não era voltada para as atividades coletoras e comerciais das “drogas do sertão” e do uso da mão-de-obra indígena, diante deste quadro a mão-de-obra africana desempenhou diversas atividades na região do Grão-Pará e Maranhão. 
            Em pesquisa documental, realizada pela professora Anaiza Virgulino (UFPA) no Arquivo Público do Pará, ela constatou que, no século XVIII, foram os negros os trabalhadores das lavouras, sobretudo do arroz, do açúcar, do cacau, dos roçados e da produção da farinha. “Mas, indubitavelmente, foram os serviços das fortificações militares que absorveram grande parte dessa mão de obra do período, no então Estado do Grão-Pará e Maranhão”, explica a pesquisadora.
Um dos preconceitos mais comuns quanto aos africanos e aos afrodescendentes é com relação às suas práticas religiosas e a um suposto caráter maligno contido nelas. Esse tipo de afirmação não resiste ao confronto com nenhum dado mais consistente de pesquisa sobre as religiões africanas e a maioria das religiões afro-brasileiras. Nelas, todas as divindades são ambivalentes, não se simplificam na dicotomia bem x mal. (BRANDÃO, 2006, p. 29). Dentro deste contexto, pretendemos discutir e estudar a cultura e religiosidade africana no segundo ano do ensino médio, possibilitando a aquisição de conhecimentos mais amplos e transformadores referentes à realidade histórico- cultural de povos ou grupos estabilizados na cidade de Belém que negam a realidade do outro, a cultura do outro, a religião do outro, que se arrasta por séculos construídos com fundamentos preconceituosos, racistas e discriminatórios, promovendo assim, uma reflexão sobre as matrizes religiosas africanas estabelecidas na cidade de Belém.



RECURSOS DIDÁTICOS
Computador, internet, data show, quadro branco, pincel atômico, cola, tesoura, lápis de cor, material reciclável, giz de cera, tinta guache, tinta a base d`agua, ETC.
 
RECUROS HUMANOS         
Professor e alunos
                          
METODOLOGIAS      

1º momento
Roda de conversa para diagnosticar o conhecimento prévio dos educandos sobre o tema em estudo, em seguida fazer a apresentação de um vídeo expositivo (VÍDEO O1) sobre as matrizes africanas religiosas.  Vale ressaltar aqui a importância de dialogar com o aluno a fim de trocar conhecimentos, essa troca de conhecimento possibilita ao educando uma nova visão e interação com o meio em que está inserido. Para Paulo Freire (1996, p. 12):

É preciso, sobre tudo, e aí já vai um destes saberes indispensáveis, que o formando, desde o princípio mesmo de sua experiência formadora, assumindo-se como sujeito também da produção do saber se convença definitivamente de que ensinar não é transmitir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção.


Vídeo 01: Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=IJ8b4XHW-Gs. Acesso em: 07 de jul.2016

2º momento 
Apresentar aos alunos através de imagens as diversas práticas religiosas envolvendo as matrizes africanas, fazendo comparações, entre as diferentes manifestações culturais presentes no município de Belém.


3º momento
Propor aos alunos um trabalho de pesquisa relacionado às religiões de matriz africana seria interessante dividir os alunos em grupos, cada grupo pesquisaria uma das matrizes religiosas aqui abordadas, identificando suas características e diferenças, e identificando os principais pontos afro-religiosos na cidade de Belém.

4º momento
Após as pesquisas os grupos deverão elaborar uma exposição de todo o material pesquisado, interagindo juntamente à comunidade escolar.

5° momento 
Música: Nas Veias do Brasil - Beth Carvalho (Composição: Luiz Carlos da Vila)

Os negros
Trazidos lá do além-mar
Vieram para espalhar
Suas coisas transcendentais
Respeito
Ao céu, à terra e ao mar
Ao índio veio juntar
O amor, à liberdade.
A força de um baobá
Tanta luz no pensar
Veio de lá
A criatividade

Tantos o preto velho já curou
E a mãe preta amamentou
Tem alma negra o povo
Os sonhos tirados do fogão
A magia da canção
O carnaval é fogo
O samba corre
Nas veias dessa pátria - mãe gentil
É preciso altitude
De assumir a negritude
Pra ser muito mais Brasil.

Análise da música ‘ Nas Veias do Brasil ’, de Beth Carvalho. Após a análise, formar grupos a fim de que apresentem propostas de como a escola deve agir diante de um caso de preconceito e o que fazer para combater o preconceito nas escolas.

REFERÊNCIAS

BARBERO, Jesus Martin. A comunicação na educação. São Paulo, 2014.Ed.contexto
JENKINS, Henry. “Cultura da Convergência.” São Paulo. Ed. ALEPH, 2009.
Blogdojuareezsilva.wordpress.com. Acesso: 07 de jul. 2016
http://pt.slideshare.net/conego/a-cultura-negra-no-par. Acesso: 07 de jul. 2016
https://www.youtube.com/watch?v=UPSdsSvb0Po. Acesso: 07 de jul. 2016







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