quarta-feira, 6 de julho de 2016

Preconceito de gênero a partir das mídias sociais

Universidade Federal do Pará
Instituto de Letras e Comunicação

Faculdade de Letras

Disciplina: Ensino e Aprendizagem I

Docente: Ivânia Neves
 Elaine Kallice
Larissa Ribeiro
Rosivaldo Pires
Conceito sobre os gêneros sexuais ao longo da História

Durkheim (1987 Apud SÁ, 1993, p. 21) nos informa sobre uma teoria de representações: as Representações Coletivas. Onde esta teoria lhe seria eficaz para respostas a fatos como a religião, os mitos, a ciência; fatos ligados a relação do “eu” com o “outro”. Entende que as representações coletivas constituem: 

[...] o produto de uma imensa cooperação que se entende não apenas no espaço, mas no tempo; para fazê-las, uma multidão de espíritos diversos associaram, misturaram, combinaram suas idéias e sentimentos; longas séries de gerações acumularam aqui suas experiências e saber.

Assim, a teoria das Representações, seria apenas uma parte das explicações para a sociedade ou até mesmo, pode-se dizer, do indivíduo. Onde este é portador das dinâmicas pertencentes a um fluxo de ideias e atitudes, podendo assim proporcionar as mudanças para um melhoramento social. Com isso, a teoria das Representações Coletivas se aplica como suporte básico nas interações coletivas.
Para melhor explicação, Durkheim, foi buscar respostas nas religiões primitivas, onde estas religiões apresentariam representações também encontradas nas religiões mais elaboradas. E que por consequência as outras formas de conhecimento social derivariam da própria religião.
Entretanto, com o passar dos anos e com o avanço nas sociedades, novos fatos colocaram à prova as teorias das representações. Moscovici (Apud SÁ, 1993, p. 22), para uma melhor explicação, diferencia sua teoria com a de Durkheim, onde comenta que

As representações em que estou interessado não são as de sociedades primitivas, nem as reminiscências, no subsolo de nossa cultura, de épocas remotas. São aquelas da nossa sociedade presente, do nosso solo político, cientifico e humano, que nem sempre tiveram tempo suficiente para permitir a sedimentação que as tornasse tradições imutável. E sua importância continua a crescer, em proporção direta à heterogeneidade e flutuação dos sistemas unificadores – ciências oficiais, religiões, ideologias – e às mudanças pelas quais eles devem passar a fim de penetrar na vida cotidiana e se tornar parte da realidade comum.

As representações sociais terminam por constituir o pensamento em um verdadeiro ambiente onde se desenvolve a vida cotidiana. Os indivíduos não são apenas receptores de pensamentos e ideias, processadores de informações, muito menos possuidores de ideologias ou crenças, mas indivíduos que são pensadores ativos, capazes de mudar sua própria realidade, formando suas próprias representações.
Se para Durkheim (1987 Apud SÁ, 1993, p. 22) a relação entre representações individuais e coletivas tomou a forma de uma oposição radical, para Moscovici (1988 Apud SÁ, 1993, p. 24) o fato de tratar a representação social como uma elaboração psicológica e social e de abordar sua formação a partir da perspectiva: sujeito-outro-objeto.
Assim, mudou a maneira de se conceituar o sujeito em sua relação com a sociedade. A relação indivíduo/sociedade, inicialmente formulada em termos de oposição entre agentes e estrutura social, toma uma nova roupagem, juntando para se completarem. Essas refletem os conceitos de papel, de estatuto e dependem de processos de socialização. 
Tornar o indivíduo como agente supõe-se dizer que se reconhece um potencial para escolher suas ações, fazendo com que este escape do modo estático no pensar diante das pressões ou “envergonhamento” social e possa intervir de maneira autônoma, no sistema social, como possuidor de suas próprias ações e decisões.     
Sabe-se que as representações sociais estudam a relação do indivíduo-sociedade e seu papel. Para tanto, será usada tal teoria para a explicação do empoderamento social da mulher, utilizando também a Teoria de Gênero.
No início da década de 70, as feministas anglo-americanas passaram a utilizar o conceito de gênero como categoria analítica e componente de um esforço teórico para ir além de conceitos como homem/mulher, somente assim, a fim de responder às questões em torno da dimensão social.
Segundo Scott (1995, p.72), elas “queriam enfatizar o caráter fundamentalmente social das distinções baseadas no sexo. A palavra indicava uma rejeição do determinismo biológico implícito no uso de termos como ‘sexo’ ou ‘diferença sexual’”.
Com isso o conceito de gênero adquire, então, um caráter político, além de histórico e analítico. Portanto, mantém-se a concepção de gênero constituído na ênfase dada fundamentalmente social destacada na construção social e histórica, produzida sobre as características biológicas. Para tanto, conclui-se que é no campo social que se constroem e se reproduzem relações entre mulheres e homens, notadamente desiguais. Portanto, supera-se as respostas para as desigualdades baseadas no “sexo”, uma vez que tais desigualdades são explicadas, segundo Louro (1998, p.22), “nos arranjos sociais, na história, nas condições de acesso aos recursos da sociedade, nas formas de representações”.     
Se formos observar o conceito de gênero, passa-se a destacar o caráter relacional, ou seja, a relacionar também aos homens. Quando empregamos o conceito de gênero, devemos considerar que as condições feministas e masculinas têm um histórico e um espaço cultural. De acordo com Louro (1998, p.23),

[...] observa-se que as concepções de gênero diferem não apenas entre as sociedades ou os momentos históricos, mas no interior de uma dada sociedade, ao se considerar os diversos grupos (étnicos, religiosos, raciais, de classes) que a constituem.

Só no final dos anos 80 as feministas brasileiras começaram a utilizar o termo “gênero”, como características fundamentalmente sociais e relacionais, impulsionando uma importante transformação nos estudos feministas. 
Por fim, a sociedade gira em torno dos sujeitos, assim como somos produtos de suas ações. Acarretando a reformulação de suas aprendizagens e também de seus papéis sociais. Ao passo do que a sociedade muda, os modos de agir também mudam.


Discursos homofóbicos no contexto midiático


Fobia (de origem grega: fobos - "medo", "aversão irreprimível") serve para denominar um “medo irracional”. A palavra homofobia serve para designar a repulsa ou o preconceito contra a homossexualidade e/ou o homossexual. Atualmente é usada para indicar a discriminação às minorias inseridas na sigla LGBTI (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, transgêneros, travestis e intersexuais). O termo teria sido usado pela primeira vez nos Estados Unidos em meados dos anos 70 e foi difundido ao redor do mundo a partir dos anos 90. Mas, ao longo da história, foram usadas inúmeras denominações para mencionar a homossexualidade, nomes que demonstravam o caráter preconceituoso das sociedades que criaram termos como: pecado mortal, perversão sexual, aberração, abominação.
A homofobia, assim como outras formas de preconceito, pode ser entendida como o ato de colocar a outra pessoa, no caso, o homossexual, em condição de anormalidade, de inferioridade, baseada na ideia de que a heterossexualidade é uma norma. A homofobia também é caracterizada como crime de ódio, crime motivado pelo preconceito, que ocorre quando a vítima é escolhida intencionalmente por pertencer ao grupo em questão. Porém, deve-se compreender a legitimidade da forma homossexual de expressão da sexualidade humana.
Deste modo, podemos compreender a complexidade do fato da homofobia, que compreende desde as conhecidas “piadinhas” com a intenção de ridicularizar até ações como violência e assassinato. A homofobia inclui ainda uma visão patológica da homossexualidade, submetida a olhares clínicos, terapias e tentativas de “cura”.
O Supremo Tribunal Federal, em maio de 2011, legalizou a união estável entre pessoas do mesmo sexo no Brasil. Apesar das conquistas no campo jurídico, a homossexualidade continua enfrentando preconceitos, pois o reconhecimento legal da união homoafetiva não acabou com a homofobia, nem protegeu inúmeros homossexuais de serem rechaçados, muitas vezes de forma violenta.
E para que essa violência seja combatida é necessária a intervenção do professor, como (um dos) sujeito responsável pela formação do discente, inserindo em seu plano pedagógico debates acerca da homofobia, adequando tais debates aos discursos tendenciosos que circulam nas mídias sociais.
Assim, para Henry Jenkins (2008), a convergência midiática adapta os meios de comunicação para a internet, o cyber espaço, e ele se torna uma ferramenta de interação e difusão de conhecimento. Baseados no conceito de cultura de convergência (JENKINS, 2008), analisamos e discutimos sobre a relação das mídias e o tema da homofobia. Em tempos de mídias sociais devemos avaliar os dois lados da moeda: pontos positivos/ pontos negativos do uso da internet. Vigora na parte negativa o uso do espaço virtual para prática de violência, também chamado de cyberbullying - quando o espaço virtual é usado para ofender, humilhar, intimidar, hostilizar uma pessoa. Infelizmente é fácil encontrar discursos de ódio contra minorias nas redes sociais e outras mídias.
Para Martin-Barbero (2014, p. 143), “o processo de aprendizagem escolar não pode se desligar do exercício de cidadania”, visto que,

em uma sociedade cada dia mais moldada pela informação e seus ambientes de redes virtuais com suas novas habilidades cognitivas e comunicativas, o direito à palavra e à escuta públicas passa inevitavelmente hoje pelas transformações tecno-culturais da comunicação.

Desse modo, é possível usar as mídias para interagir com os alunos e ajudá-los a transformar princípios e valores em atitudes que beneficiem a sociedade, como o respeito ao próximo, independentemente de sexo, raça, cor, crença, etc. E esse posicionamento profissional se torna latente quando tomamos Paulo Freire (2011, p. 41) para pensar que “ensinar exige compreender que a educação é uma forma de intervenção no mundo”.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Organização de Alexandre Moraes. 16.ed. São Paulo: Atlas, 2000.
FREIRE, Paulo, Pedagogia da autonomia: saberes necessários á prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2011.

JENKINS, Henry. Cultura da convergência. São Paulo: Aleph. 2008.

MARTÍN-BARBERO, Jesús. A comunicação na educação. Trad. Maria Lopes e Dafne Melo. São Paulo: Contexto, 2014.





PLANO DE AULA


Público-alvo: Alunos do 3º ano do ensino médio.
Duração: 225 horas (5 aulas de 45 minutos cada).


OBJETIVOS
ü  Objetivo Geral: Analisar discursivamente os discursos sobre a homofobia nas mídias sócias.

ü  Objetivos específicos:

  • Proporcionar uma abordagem histórica e evolutiva do conceito de gênero;
  • Selecionar diferentes enunciados midiáticos que envolvem o conceito de gênero;
  • Cotejar diferentes discursos sobre as práticas homossexuais;
  • Proporcionar o desenvolvimento da consciência crítica a respeito da diversidade de gênero;
  • Trabalhar a linguagem nas mídias sociais, com enfoque em comunidades homofóbicas;
  • Diferenciar os padrões de escrita das mídias sociais em comparação a da gramática normativa
  • Utilizar adequadamente as conjunções e os pontos em seguida;
  • Produzir textos dissertativos sobre diversidade de gênero e homofobia.


RECURSOS DIDÁTICOS

Datashow, computador, recursos áudio-visuais. material impresso.


JUSTIFICATIVA

A informatização comunicativa se modifica com rapidez constante, por isso é necessário que o educador também adeque seu ambiente de trabalho a esta nova demanda, permitindo ao aluno o uso consciente de ferramentas populares, como o celular, de maneira que o auxilie em pesquisas dentro de sala de aula. Para tanto, é indispensável a articulação entre variados saberes. Neste trabalho buscamos fazer essa articulação entre o discurso que circula na empresa midiática, a gramática normativa e a questão homofóbica; esta é a base para os demais tópicos, partindo de texto jornalístico e de vídeo, colhendo fatos ocorridos nos limites da capital paraense, os quais mostram como são tratados alguns cidadãos homossexuais em Belém. Em seguida, verificamos alguns ‘posts’ de comunidades ou grupos e analisamos seus discursos.


METODOLOGIA

1º Momento
Na primeira aula será apresentado e lido um texto de jornal sobre o tema homofobia, seguido de vídeo e de debate acerca do mesmo tema, ouvindo as opiniões e dando subsídios para os educandos. Ao final pedir aos alunos uma redação que será a avaliação diagnóstica.

Texto: “Segurança é flagrado agredindo jovens à chineladas”
Circula nas redes sociais, na tarde desta terça-feira (1), um vídeo onde o segurança de um shopping center de Belém agride um jovem à chineladas.
Em pouco mais de um minuto de vídeo, o agressor bate exatas 33 vezes na palma da mão direita do rapaz, que estava acompanhado de uma mulher, e o último golpe acerta o seu rosto, caracterizando crime de lesão corporal.
Não é possível identificar o segurança e o motivo da agressão também é desconhecido, embora internautas afirmem se tratar de um flagrante de roubo praticado pelo casal - o que não justificaria a atitude.
No vídeo também é possível ouvir o jovem pedir ao segurança que pare de bater em suas mãos, e em determinado momento é possível notar que o calçado, inclusive, pertence à própria vítima.
O jovem suplica, porém, as agressões continuam, sob os olhares de outros seguranças, que se mantêm imóveis. Insultos também podem ser ouvidos. 
Em nota enviada ao DOL, "sobre o referido vídeo, a administração do Parque Shopping Belém informa que tomou conhecimento e apura, desde então, o fato e suas circunstâncias."
Além disso, afirma que "de antemão, o empreendimento reitera que não aprova este tipo de postura de seus colaboradores e tomará as devidas providências, caso seja confirmada a ocorrência nas dependências do PSB."
(Fonte: Diário on line. Acesso em 18/04/2016)

Vídeo:


A partir do texto e do vídeo, será proposta uma atividade diagnóstica (Redação sobre o tema da aula inaugural), a qual será entregue na próxima aula e serve para analisarmos o nível da turma. Título a ser construído pelo aluno.

2º Momento
Estudo de um post de comunidades com traços de homofobia do facebook, seguida da análise do discurso de seus seguidores. Após isso, trabalhar a ideia de conjunções e ponto em seguida.

Post:

Discursos dos seguidores:
2.        Comentários
3.        Descrição: Giovanna Beatriz Isso me faz lembrar que existem mais de 7 bilhoes de pessoas no mundo e nenhuma é fruto de um casamento gay
Que abram as portas da treta
5.        Curtir · Responder · 18 · 23 de abril às 12:04
9.        Descrição: Camila Oliveira Sabe oqe é viadagem? Ter que se auto afirmar como homem... Pqe garanto que, se pelo menos meia duzia de "macho" daqui for da pelo menos meia hora de cú, vai acaba esse ódio todo e vão poder se assumir livremente!
O pior... É o próprio pai curti uma merda de pagina dessa, tendo uma filha lésbica, no caso eu!
11.     Curtir · Responder · 3 · 23 de abril às 21:57
12.     Descrição: Cristiano Tuigo Como diz o bolsonaro. " não tenho que respeitar eles. Mas sim eles me respeitar" bando de bichona.
14.     Descrição: Marcos Cândido Shigaki Quem disse que isso é hetero?


Homem que é homem, o sistema é bruto.
16.     Curtir · Responder · 2 · 23 de abril às 11:26
19.     Descrição: Ricardo ClarkAh cara!, isso aí tem em todo lugar e, a cada dia, essa neurose vai crescendo. O lance é não nos esquentarmos. Foda-se eles, eu quero saber e cuidar é de mim
21.     Curtir · Responder · 4 · 22 de abril às 13:19
22.     Descrição: Fábio Empessoa De OliveiraFoda ne ... o mertholarte parou de arder deu nisso ... kkkk
(Facebook, acesso em 18/04/2016)


3º Momento

A ideia de conjunções e ponto em seguida:

Manuel Bandeira: "Poema tirado de uma notícia de jornal"

João Gostoso era carregador de feira-livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.
(Acontecimentos. Acesso em 18/04/2016)

Atividade: analisar os discursos (acima) e adequar conforme a ideia de conjunções e porto em seguida.

Conjunções: Coordenativas e subordinativas.

Atividade: Devolver as redações para que o aluno perceba o emprego das conjunções na própria produção escrita. 



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