Universidade
Federal do Pará
Instituto
de Letras e Comunicação
Faculdade
de Letras
Disciplina
Recursos Tecnológicos
Professora
Ivânia Neves
Junho/2014
Flávio Torres
Ivania Melo
Hiraldo Lameira
Introdução
Este
trabalho apresenta uma leitura voltada para o diálogo de identidades na música Olhando Belém, de Celso Viáfora e
interpretação de Nilson Chaves. O diálogo se estabelece a partir da rejeição que
o individuo mostra em relação a própria identidade e passa a desejar a do
outro. Ele reconhece os problemas sociais de sua cidade, mas prefere ignorar os
problemas da cultura do outro desejando também fazer parte dessa nova
“realidade” vista por um olhar turístico, breve, sonhador. Mas para entender
esse diálogo que a música Olhando Belém
nos oferece é preciso compreender o que é identidade e cultura.
Identidade, para
Ferreira (2000), são: “Os caracteres próprios e exclusivos duma pessoa: nome,
idade, estado, profissão, sexo, etc.”. Com relação a cultura, ele defini como
Ato, efeito ou modo de cultivar.
O complexo dos padrões de comportamento, das crenças, das instituições, das
manifestações artísticas, intelectuais, etc., transmitidos coletivamente, e
típicos de uma sociedade. O conjunto dos conhecimentos adquiridos em
determinado campo. (FERREIRA, 2000, p. 197)
Então,
Identidade cultural é a reunião das características de uma sociedade que tem
origem na interação dos indivíduos com fatores externos, o que resulta em uma
identidade mutável.
A
mídia tem um papel importante nessa (des)construção de ideias. Quem da região
Amazônica nunca ouviu comentários sobre o bom relacionamento entre pessoas e
animais selvagens pelas ruas das capitais? Como se diariamente fosse comum
encontrar faixa inteligente para onças atravessarem a rua ou “jacarovias” para
os nossos crocodilianos circularem tranquilamente por nossa cidade. Ou ainda a
surpresa de alguns estrangeiros ao perceberem que não andamos nus em nossa
aldeia de um pouco mais de 1,4 milhão de habitantes.
Para
Patriota (2002, p. 12), essa identidade é o “sentimento de pertencimento a uma
cultura nacional”. Hall, em A identidade
cultural na pós-modernidade (1999 apud PATRIOTA, 2002) afirma que “uma cultura nacional é um
discurso – um modo de construir sentidos que influencia e organiza tanto nossas
ações, quanto a concepção que temos de nós mesmos”. Prado (2010, p. 124), com
base também nas ideias de Stuart Hall, diz que “as velhas identidades [...]
estão em declínio, fazendo com que o sujeito moderno tenha uma identidade
fragmentada”. São por influencias externas que a (des)construção da identidade
ocorre naquele que observa maravilhado a cultura, o espaço, a região, as
características do outro que parecem melhores que a dele (do observador). Vamos
observar a música e prestar atenção à letra.
O sol da
manha rasga o céu da Amazônia
Eu olho
Belém da janela do hotel
As aves
que passam fazendo uma zona
Mostrando
pra mim que a Amazônia sou eu
E tudo é
muito lindo
É branco,
é negro, é índio
No rio Tietê
mora a minha verdade
Sou
caipira, sede urbana dos matos
Um
caipora que nasceu na cidade
Um
curupira de gravata e sapatos
Sem nome
e sem dinheiro
Sou mais
um brasileiro
Olhando Belém
enquanto uma canoa desce um rio
E o
curumim assiste da canoa um Boeing
riscando o vazio
Eu posso
acreditar que ainda da pra gente viver numa boa
Os rios
da minha aldeia são maiores do que os de Fernando Pessoa
(e o sol
da manha rasga o céu da Amazônia)
Olhando
os meus olhos de verde e floresta
Sentindo
na pele o que disse o poeta
Eu olho o
futuro e pergunto pra insônia
Será que
o Brasil nunca viu a Amazônia
E vou
dormir com isso
Será que
e tão difícil.
A
música descreve a visão de um turista contemplando o cenário amazônico da
janela de um hotel localizado as margens do rio. Mas ele vê duas realidades: a
Belém que tem rio, aves, sol, branco, negro, índio; e a sua região, poluída,
destruída, sem oportunidades. Ao lançar o olhar maravilhado para a paisagem ele
não percebe que acaba desviando um pouco a vista de uma Belém das águas. Mas
águas dos canais que cortam a cidade e são os nossos “Tietês”. De costas para a
realidade, nada romântica, ele já sente que é parte da Amazônia. E justifica
que pode ser aceito porque esta é uma terra de todos, onde “tudo é muito lindo, é branco, é
negro, é índio”, então, pode ser dele também.
Figura 1 – A identidade em questão
|
Enquanto
o olhar turístico contempla “Belém da janela do hotel”, ele deixa de ver a
Belém das ruas, onde não desce apenas a canoa de um curumim, mas uma tribo
tinteira. Talvez evite a nossa verdade de propósito, bastando a sua realidade:
“No rio Tietê
mora a minha verdade. Uma verdade suja, poluída, de caos urbano. Sua declaração
afirma que ele é mais de cá do que de lá quando afirma: “Sou caipira / sede
urbana dos matos / Um caipora que nasceu na cidade / Um curupira de gravata e
sapatos.
O antagonismo
é muito presente nesta letra. O autor utiliza um jogo perfeito com as palavras
que sempre revelam oposição, sentido contrario. Além de afirmar neste fragmento
do texto a sua condição de “ninguém”. Ao usar o termo “caipora” ele revela sua
identidade fragmentada, pois, “caipora” é um personagem folclórico representado
de diversas formas pelas regiões do país e não apenas uma. Também significa
pessoa que dá ou tem má sorte. Também admite que nasceu e mora fora de onde
pertence deseja estar. Outra afirmação de perda de identidade é a expressão
“sem nome e sem dinheiro” só “mais um brasileiro”. Aqui, confirma não existe
identidade. Sem nome é não ter identidade.
Ele não
quer ser apenas um brasileiro. Quer pertencer a esta região que junta o curumim
e o Boeing no mesmo cenário. O passado e o presente. Embora tenha uma visão
apaixonada ele também aponta uma questão de ordem política-social ao sentir que
a Amazônia é excluída do Brasil. Mas ainda tem esperança “de que ainda dá pra
viver numa boa” porque os rios da sua aldeia “são maiores do que os de Fernando
Pessoa”, ou seja, são melhores, são mais belos, são maiores porque são “seus”.
REFERÊNCIAS
A
IDENTIDADE em questão. Imagem do livro A
identidade em questão. Rio de Janeiro, 2006. Disponível em: .
Acesso em: 20 jun. 2014.
FERREIRA,
A. B. H. Miniaurélio Século XXI: o
minidicionário da língua portuguesa. 4. ed. rev. ampliada, – Rio de Janeiro :
Nova Fronteira, 2000, p. 371.
IDENTIDADE.
Produção: Vanessa Pereira e Thuany Brasil. Interpretes: Alessandra Duarte;
Danilo Carvalho; João; Vinicius. Narração: Natalia Ferreira. Áudio: Paula
Pascutti. Imagens: Renato Archangelo. Edição: Thamiris Macedo. Filme de
Fernando Meirelles e Nando Olival. Adaptação do Grupo Multiplicidade.
Disponível em: . Acesso em:
26 jun. 2014.
JENKINS,
Henry. Introdução: “venere no altar da convergência”. In: ______. Cultura da convergência. Tradução
Susana Alexandria. 2. ed. – São Paulo : Aleph, 2009, p. 25 – 51.
KELLNER,
Douglas; SHARE, Jeff. Educação para a leitura crítica da mídia, democracia
radical e a reconstrução da educação. Disponível em: <WWW.scielo.br/pdf/es/v29n104/a0429104.pdf>. Acesso em:
12 de abril de014.
PATRIOTA,
Lucia Maria. Cultura, identidade cultural e globalização. Qualitas – Revista Eletrônica do Centro de Ciências Sociais Aplicadas da
UEPB, v. 1,
n. 1, 2002. Disponível em: < http://revista.uepb.edu.br/index.php/qualitas/article/view/8/1>.
Acesso em: 16 jun. 2014.
PRADO,
Juliana do. Culto ao corpo na telenovela: apropriações, consumo e identidades
sociais. In: CASTRO, Ana Lúcia de (Org.). Cultura
contemporânea, identidades e sociabilidades : olhares sobre corpo, mídia e
novas tecnologias. – São
Paulo: Cultura Acadêmica, 2010. p. 113-150. Disponível em:
.
Acesso em: 16 jun. 2014.
VIÁFORA,
Celso. Olhando Belém. Intérprete: Nilson Chaves. You Tube. Disponível em: .
Acesso em: 20 jun. 2014.
Plano de Aula
1.
IDENTIFICAÇÃO
- Tema: O DISCURSO DE IDENTIDADES NA MÚSICA OLHANDO BELÉM
- Público alvo: Alunos do Curso de Letras –
Língua Portuguesa
- Período: 25/06/2014
- Duração: 50 minutos
2.
OBJETIVOS
- Geral: Reconhecer e criticar o diálogo de
identidades presente na música.
- Específicos: Pesquisar assuntos relacionados com
identidade cultural da região; produzir textos argumentativos para defender sua
opinião; questionar os problemas de sua cidade; apresentar de forma clara e
objetiva sua pesquisa.
3.
METODOLOGIA
Aula expositiva:
- Reprodução da música (apenas o áudio).
- Perguntar o que os alunos identificaram na letra da música.
- Reproduzir o vídeo com a música.
- Perguntar novamente a impressão que eles tiveram sobre a música.
- Interpretação da música utilizando fotos conforme a letra.
- Explicar a atividade que o aluno apresentada na próxima aula.
4.
MATERIAL
- Computador.
- Projetor multimídia.
- Caixas multimídia.
5.
AVALIAÇÃO
- O aluno
escolherá uma das três propostas (comprovar com fotos; escrever um texto em
prosa; ou compor um poema) para mostrar os problemas da cidade e argumentar
contra a imagem ufanista que a música apresenta sobre Belém.
O diálogo de
identidades na música Olhando Belém
Atividade em Sala de Aula
Diante
do assunto apresentado em sala e as discussões a respeito do tema, escolha uma
das três propostas abaixo para mostrar os problemas da cidade e argumentar
contra a imagem ufanista que a música apresenta sobre Belém.
1 Comprovar
com fotos.
2 Escreva
um texto em prosa.
3 Compor
um poema.
6.
REFERÊNCIAS
FERREIRA,
A. B. H. Miniaurélio Século XXI: o
minidicionário da língua portuguesa. 4. ed. rev. ampliada, – Rio de Janeiro : Nova
Fronteira, 2000, p. 371.
JENKINS,
Henry. Introdução: “venere no altar da convergência”. In: ______. Cultura da convergência. Tradução
Susana Alexandria. 2. ed. – São Paulo : Aleph, 2009, p. 25 – 51.
KELLNER,
Douglas; SHARE, Jeff. Educação para a leitura crítica da mídia, democracia
radical e a reconstrução da educação. Disponível em: <WWW.scielo.br/pdf/es/v29n104/a0429104.pdf>. Acesso em:
12 de abril de014.
PATRIOTA,
Lucia Maria. Cultura, identidade cultural e globalização. Qualitas – Revista Eletrônica do Centro de Ciências Sociais Aplicadas da
UEPB, v. 1,
n. 1, 2002. Disponível em: < http://revista.uepb.edu.br/index.php/qualitas/article/view/8/1>.
Acesso em: 16 jun. 2014.
PRADO,
Juliana do. Culto ao corpo na telenovela: apropriações, consumo e identidades
sociais. In: CASTRO, Ana Lúcia de (Org.). Cultura
contemporânea, identidades e sociabilidades : olhares sobre corpo, mídia e
novas tecnologias. – São Paulo:
Cultura Acadêmica, 2010. p. 113-150. Disponível em:
.
Acesso em: 16 jun. 2014.
Para saber mais:
Nenhum comentário:
Postar um comentário