segunda-feira, 11 de julho de 2016

Impeachment, isso é democracia?



Universidade Federal do Pará
Instituto de Letras e Comunicação
Faculdade de Letras- FALE
Disciplina: Tecnologias Educacionais e Ensino de Língua Portuguesa
Docente: Ivânia Neves



Ceciane da Costa Reis
Clodoaldo Negrão Conceição
Edgilvan Pimenta dos Santos
ElcioAldrin Pantoja da Costa
Manoel de Sá Seixas Neto




        Desde a redemocratização do Brasil, em poucos momentos da história a democracia brasileira esteve tão ameaçada de ruptura. Isso se explica pelo processo de impeachment movido contra a presidente eleita Dilma Rousseff que se constituiu em uma verdadeira batalha não somente no campo político. Esta, por sua vez, manifesta-se nos mais variados meios de comunicação, conforme constatamos pela apropriação das redes sociais como meios de divulgação de opiniões, posições e ideologias antagônicas em relação a essa temática.
          Observa-se, nesse processo, o afloramento da cultura de convergência através do uso dos meios de comunicação, que é inicialmente abordada por Jenkins (2009), quando este identifica na colisão de velhas e novas mídias o surgimento de uma maneira de organização corporativa. Este processo  afeta e determina a relação entre comunicação, cultura e conhecimento.
Contudo pode-se observar que o povo brasileiro acaba por banalizar um momento tão delicado para a história do país, fazendo de reivindicações, as quais deveriam usar  bons argumentos para defender suas posições, mas agem como se estivessem numa passarela de carnaval, sem avaliar a gravidade da agressão à democracia que seus atos revelam.

 
                                                          Disponível em:< https://www.youtube.com/watch?v=BfnWmsNhl9I.>


           Ao longo dos primeiros meses de 2016, os meios de comunicação de massa, sobretudo a Rede Globo, passaram a noticiar a derrocada do governo, criando argumentos cada vez mais contundentes para o afastamento de Dilma Rousseff da presidência, tendo seu foco na operação lava jato. A manipulação da mídia em torno dessa temática invade as casas dos cidadãos pelos mais variados meios de comunicação “se traduz em um poder cada dia mais incontrolável da fusão dos dois componentes estratégicos, os veículos e os conteúdos, com a consequente capacidade de controle da opinião pública” (MARTÍN-BARBEIRO, 2009, p. 8). Em contrapartida a esse cenário, pintado pelas corporações midiáticas brasileiras, acompanhamos a crescente utilização das redes sociais para contrapor-se à marcha pela saída da presidente eleita e mostrar que não é a população brasileira que pede a saída de Dilma do poder, e sim uma parcela desta.




Percebemos, nesse embate entre a mídia especializada e as redes sociais que a convergência não se dá de maneira unilateral, na qual o controle é exercido apenas pelas grandes corporações, o que geraria uma incomunicação, conforme ilustrado por Martín-Barbero (1983)
O índio mudo dava voltas ao nosso redor e ia para a montanha para o cume da montanha, para batizar seus filhos. O negro, policiado, cantava na noite a música de seu coração, só e desconhecido, entre as ondas e as feras. O camponês, o criador, revoltava-se cego de indignação contra a cidade desdenhosa, contra a sua criatura.(MARTÍN- BARBERO, p. 194-201)
            Essa relação pauta-se em um contexto histórico no qual a relação metrópole/colônia transfere-se para o âmbito das mídias. Mas, ao contrário do que se constata historicamente, a partir do momento que o consumidor se apropria da tecnologia atuando de maneira a controlá-la, os resultados são imprevisíveis, além de criativos. “A convergência, como podemos ver, é tanto um processo corporativo, de cima para baixo, quanto um processo de consumidor, de baixo para cima” (JENKINS, 2009, p. 44).
            Essa reorganização midiática polarizada traz à tona questões como a inteligência coletiva, expressão cunhada pelo francês Pierre Lévy (2003, p. 28), que a define como “[...] uma inteligência distribuída por toda parte, incessantemente valorizada, coordenada em tempo real, que resulta em uma mobilização efetiva das competências”. Segundo essa definição, o consumismo, ao tornar-se um processo coletivo, leva o consumidor a contrapor-se ao poder midiático das grandes corporações que tentam monopolizar a informação, ao mesmo tempo em que permitem sua contraposição, por não terem controle sobre ela após sua divulgação. Percebeu-se, então, que através da cultura da convergência, há um incentivo ao compartilhamento de informações, opiniões e ideologias através das redes sociais, mostrando que a construção de conhecimento em relação a um determinado tema pode se dar em tempo real e de maneira coletiva.


           O papel da tecnologia nesse processo é fundamental, pois conforme Castells afirma (1998, p. 33) “a tecnologia (ou sua carência) plasma a capacidade das sociedades de transformar-se, assim como os usos a que essas sociedades decidem dedicar seu potencial de inovação”. Essa cortina tendenciosa acarreta uma dualidade, na qual de um lado temos a alienação promovida pelo sensacionalismo que gira em torno da temática descrita anteriormente, enquanto que do outro a voz das minorias está ecoando através das mesmas mídias que tentam silenciá-la. Em meio a tudo isso, faz-se necessário a construção de um senso crítico voltado para a ética universal do ser humano, defendida por Freire (1996)
                                                            
O meu ponto de vista é o dos “condenados da Terra”, o dos excluídos. Não aceito, porém, em nome de nada, ações terroristas, pois que delas resultam a morte de inocentes e a insegurança de seres humanos. O terrorismo nega o que venho chamando de ética universal do ser humano. Estou com os árabes na luta por seus direitos mas não pude aceitar a malvadez do ato terrorista nas Olimpíadas de Munique.(FREIRE, 1996, p. 9)

            A alusão aos atos terroristas ilustra muito o tipo de atitude que devemos coibir em relação ao impeachment da presidente eleita, pois, o que se vê é um embate cada vez mais ferrenho, chegando ao ponto de o conflito transpassar os veículos de informação e se expressar nas ruas de nossas capitais. Essa ética deve ser perseguida por todos nós no sentido de construir uma cultura participativa, expressão essa que segundo Jenkins (2008)

[...] contrasta com noções mais antigas sobre a passividade dos espectadores dos meios de comunicação. Em vez de falar sobre produtores e consumidores de mídia como ocupantes de papéis separados, podemos agora considerá-los como participantes interagindo de acordo com um novo conjunto de regras, que nenhum de nós entende por completo. Nem todos os participantes são criados iguais. Corporações – e mesmo indivíduos dentro das corporações da mídia – ainda exercem maior poder do que qualquer consumidor individual, ou mesmo um conjunto de consumidores. E alguns consumidores têm mais habilidades para participar dessa cultura emergente do que outros.(JENKINS, 2008, p.9)

            Esse encadeamento de conceitos corrobora no intuito de criar uma nova visão de mundo a partir da ação da mídia sobre a vida das pessoas e preocupa-se em entender como essa relação pode ser concebida pela ótica dos consumidores da informação.  A cultura de convergência agrega em si a construção de conhecimento através da inteligência coletiva e atua no sentido de promover a disseminação de informação a partir dos consumidores. Neste sentido, este processo pode combater a incomunicação que surge como uma barreira levantada pelas corporações midiáticas para impedir o desenvolvimento da cultura participativa, na qual todos somos atores do processo. Portanto, faz-se imprescindível a busca de uma ética universal que consiga transpor a cortina levantada em torno de um termo polêmico e encontre consenso entre opiniões divergentes na construção de uma cultura de tolerância que tanto os brasileiros necessitam.


REFERÊNCIAS

CASTELLS, M. A sociedade em rede. 6 ed. São Paulo: Paz & Terra, 1999. v. 1.

FREIRE, Paulo, Pedagogia da autonomia: saberes necessários á prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2011.

JENKINS, Henry. Cultura da convergência. São Paulo: Aleph. 2008.


LÉVY, P. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. 4. ed. SãoPaulo: Loyola, 2003.

MARTÍ, José. Nossa América. Tradução de Maria Angélica de Almeida Triber. São Paulo: HUCITEC, 1983.254p. p:194-201. (Texto original de 1891)

MARTÍN-BARBERO, Jesús. A comunicação na educação. Trad. Maria Lopes e Dafne Melo. São Paulo: Contexto, 2014.

PLANO DE AULA

Público- alvo: Alunos do Ensino Médio
Duração: 270 horas (6 aulas)

OBJETIVOS
      OBJETIVO GERAL: Analisar os discursos propagados na mídia sobre o impeachment pela ótica da cultura de convergência através das redes sociais.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
·                     Argumentar sobre os diferentes veículos midiáticos que propagam discursos antagônicos sobre um mesmo tema;
·                     Aguçar a consciência crítica e a ética universal no confronto de idéias divergentes.
·                     Diferenciar os padrões de escrita das mídias sociais em comparação à da gramática normativa;
·                     Produzir textos dissertativos sobre os processos midiáticos e a comunicação;


RECURSOS DIDÁTICOS 
Vídeos, imagens, Data show, computador, recurso áudio visual, multimídia. 

JUSTIFICATIVA

Sabe-se que os protestos legítimos são também uma maneira útil de demonstrar a insatisfação com o governante e cobrar respostas. O impeachment da presidente da República foi um processo muito traumático para o país. Já temos 30 anos consecutivos de democracia e liberdade de imprensa no Brasil e até hoje as pessoas não aprenderam a lidar com a divergência de idéias, opiniões e visões de mundo. Quer dizer, ainda não amadurecemos como democracia.
Discordar, hoje em dia, significa brigar, agredir. Isso nas redes sociais e na internet como um todo é ainda mais visível. As pessoas, com raras exceções, não convivem bem com quem pensa diferente: se pensa diferente, é comprado, ou é petista fanático, ou tucano fanático. É preto ou branco: ninguém mais enxerga “o cinza”.
Para tentar acabar com tamanha intolerância, tamanho ódio, tamanha arrogância, que vemos amplificados no mundo virtual, nada melhor que usar argumentos, fontes confiáveis de informação, troca de idéias educadas. Por isso, faz-se necessário apresentar os fatos através da ética universal que nos leva a agir de maneira consciente na análise das intenções por trás das notícias tendenciosas divulgadas pela mídia especializada.

METODOLOGIA

1º momento:
Apresentação dos objetivos, e em seguida apresentação da temática através de slides.

2º momento:
Questionar o que os alunos sabem de impeachment, apresentar o vídeo dos protestos. 


Questão 01:

Partindo da visualização do vídeo e da mensagem contida nele. Fazer um texto dissertativo argumentativo, posicionando-se sobre a banalização de um momento tão importante para o Brasil. 


3º momento:
Serão apresentados dois textos para leitura e compreensão textual retirados das  redes sociais.

Texto 1:
A internet contabilizou 2,255 milhões de postagens no Twitter e no Instagram sobre impeachment de Dilma Rousseff, no domingo (18). A maioria absoluta dos posts, no entanto, foram feitos em apoio à presidenta, e contra a aprovação do  processo que pede o seu impeachment.
Segundo levantamento publicado no jornal Folha de SãoPaulo, nesta segunda-feira (18), 77% dos posts foram favoráveis à continuidade do governo Dilma.
Ainda de acordo com a matéria, Fabio Malini, analista de redes sociais, já havia detectado um maior fluxo de mensagens em apoio à Dilma nas redes sociais. Malini afirma que, desde o dia 18 de março, o movimento que tomou as ruas do país e a hashtag #contraogolpe também se refletiu na internet, numa virada vermelha das redes.
No domingo, dia da aprovação do impeachment da presidenta, a hashtag utilizada para reforçar o apoio à Dilma e o repúdio ao golpe foi a #respeiteasurnas. Além das mobilizações nas redes, milhares de pessoas ocuparam pontos estratégicos em todo o país, como a Esplanada dos Ministérios em Brasília, o vale do Anhangabaú em São Paulo e a praia de Copacabana no Rio de Janeiro, onde ao menos 50 mil pessoas se reuniram para defender o mandato democrático de Dilma.
Rejeição
Pesquisa do Datafolha divulgada nesta segunda-feira (18) aponta que um possível governo do vice-presidente Michel Temer (PMDB) é rejeitado tanto por manifestantes contrários e quanto pelos favoráveis ao impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Da Redação da Agência PT de Notícias


Texto 2: 


Quanto o corte de 200 milhões na publicidade da Globo em 2015 pesou para o ataque selvagem da empresa contra o governo Dilma?
Quem acredita que não pesou nada ,acredita em tudo, na grande frase de Wellington.
A Globo é uma empresa que sempre subordinou a Igreja ao Estado. Igreja e Estado foi uma histórica expressão cunhada cerca de um século atrás por um dos maiores gênios do jornalismo, Henry Luce. Luce fundou a Time e, com ela, a indústria das revistas semanais de informação. A Veja é filha — bastarda, é verdade — da Time.
Luce sabia que para o sucesso da revista era imperioso separar os interesses da redação e os da área comercial. A redação era a Igreja. A área comercial, o Estado.
Nos bons tempos da Editora Abril, quando havia uma cultura jornalística respeitável, falava-se intensamente no muro que devia haver entre Igreja e Estado.
Eram exatamente estes os termos que usávamos. Era comum, nos finais de tarde das sextas feiras, os vendedores de publicidade serem enxotados da sala do diretor de redação. Queriam colocar mais anúncios, e a redação não aceitava a patadas porque a revista já estava infestada de publicidade.
A cultura da Globo é o oposto da Time. A Igreja — o jornalismo — existe para servir o Estado. Os anunciantes terão tratamento privilegiado editorial caso coloquem dinheiro na Globo. Serão poupados da publicação de notícias desagradáveis. Tente encontrar na Globo uma notícia ruim sobre um grande anunciante.
A lógica com os políticos é diferente. Se eles fizerem coisas que não atendam aos interesses da Globo, sabem que ficarão na mira. Morrem de medo por isso.
Eduardo Cunha pôde roubar sem problemas por décadas porque nunca fez nada que contrariasse a Globo. Como presidente da Câmara, ceifou qualquer discussão sobre a regulação da mídia e apoiou uma causa caríssima à Globo: a terceirização da mão de obra.
Tivesse estimulado qualquer discussão sobre a mídia, Eduardo Cunha estaria preso há muito tempo.
A cultura predadora da Globo lembra a da ditadura militar. Armando Falcão, um dos ministros mais poderosos de Geisel, escreveu ao chefe que o governo tinha armas formidáveis para controlar, ou subjugar, a imprensa: o dinheiro público.
Empréstimos jamais pagos e nem cobrados, publicidade farta, mamatas fiscais como o papel imune (as empresas jornalísticas não recolhem imposto sobre o papel usado em jornais e revistas) — tudo isso era usado pela ditadura na relação com a mídia.
O Jornal do Brasil, então o mais influente diário nacional, contratou como articulista nos anos 1960 Carlos Lacerda, então inimigo dos generais. Falcão chamou a um encontro o dono do JB e avisou que isso não seria tolerado, ou os privilégios seriam cortados.
A Globo sabe a força que tem, assim como a ditadura, e como os generais usa isso sem nenhuma cerimônia.
Você de alguma maneira prejudicou o Estado na Globo? Você está frito. A Igreja — o jornalismo — vai caçar você.
Esse mecanismo de extorsão disfarçada vai se exaurindo com a Era Digital, que mina a influência da Globo e de toda a mídia tradicional.
Isso parece dar ainda mais ferocidade à empresa na defesa de seu Estado.
Vistas as coisas em retrospectiva, o grande erro de Lula foi não ter moralizado logo no começo de seu governo, quando tinha força, a indecente verba de publicidade da Globo.
Quantos hospitais, quantas escolas, quantas estradas deixaram de ser construídos com o dinheiro que foi dar no bilionário patrimônio dos Marinhos?
Duzentos milhões de reais a menos com certeza enfureceram os donos da Globo. Roberto Marinho, quando pedia favores aos militares, dizia que empresa que não cresce acaba morrendo. (Isso está dito no livro Dossiê Geisel, à base de papéis de trabalho guardados por Geisel.)
Em dado momento, e já escrevi aqui sobre isso, a Globo passou a se comportar como a Veja. Ficou aloprada. Todas as suas mídias se dedicaram a desestabilizar Dilma.
Saber agora que isso coincidiu com a redução do dinheiro fácil da publicidade federal dá lógica à guinada — aliás nada discreta — da Globo.
A Igreja na Globo é um instrumento do Estado — os cofres da empresa e dos acionistas. E a Igreja foi acionada, ao que tudo indica, para punir quem ousou reduzir o dinheiro público bilionário que vai dar no Estado.
(Disponível em: http://www.diariodocentrodomundo.com.br/quanto-o-corte-na-publicidade-da-globo-pesou-para-o-ataque-selvagem-da-empresa-contra-dilma/.Acesso:07/07/2016)

Questão 02: 
Partindo da consciência critica aguçada pelos textos , monte uma apresentação em slides, posicionando-se a favor ou contra, mas usando argumentos bem convicentes.
4º momento:

Post1:


                          Fonte:< https://www.flickr.com/photos/57331082@N08/26520669350>. Acesso em 08 de jul. /2016


Eudiley Teixeira Minha ideologia e lutar pela justiça,e não me curvar diante de corruptos que não tem amor pelo próximo, se sentem como se fossem Deus,mas seus atos são piores do que o do próprio diabo, deus não e ladrao e nem traidor, deus não é ódio, deus e amor,Deus não é cobiça nem injustiça, deus é verdade, Deus é justiça.
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Leninha Arruda Ouvi comentários em que Paulo Freire será incluído no rol dos maiores pensadores da Educação no Mundo, por órgão da ONU. Se isso acontecer, quero ter o prazer de olhar para a cara de muitos xenófilos, inimigos do Brasil. HERCÍLIO
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Questão 03:

Analise a citação de Paulo Freire e os comentários abaixo, relacionando o formato do texto e o que se compreende da gramática normativa.

 

Post 3:




Questão 04

Analise os posts acima fazendo um diagnóstico da influencia que a mídia exerce na sociedade e de que que forma as redes sociais permitem que as idéias e o pensamento crítico seja revelado.

Questão 05
Partindo de todo o conteúdo trabalhado. Em grupo, organize um texto utilizando a gramática normativa e na sequência cada integrante da equipe escreve uma mensagem nos padrões das redes sociais comentando esse texto.





 





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