A pesquisa do mestrando
Joel Pantoja da Silva ainda está em análise, mas já pode-se dizer que o estudo abre novas perspectivas
para se repensar academicamente a presença da memória indígena de matrizes Tupi
na Amazônia paraense, no arquipélago do Marajó, depois de séculos de dizimação
dessas etnias.
A
criação da noite
Em uma das histórias
registradas, há uma jovem que, para se livrar da perseguição de um monstro que
queria devorá-la, joga o carvão na floresta e faz surgir a noite. “A criação da
noite é uma das narrativas orais mais recorrentes entre sociedades de tradição
Tupi. Couto de Magalhães fez um dos primeiros registros desta história, em
Língua Geral Amazônica, em O Selvagem (1940).
Nos trabalhos de Betty Mindlin (1999) e Ivânia Neves (2009) também encontramos
histórias semelhantes’’, contra o mestrando.
Joel acredita que em
pleno século 21 onde se vive um processo veloz de incorporação dos meios de
comunicação, ainda é possível falar de uma memória Tupi presente, real. Por
outro lado, diz ele, a pesquisa colabora para, em parte, tirar do silêncio, no
campo da historiografia contemporânea, o que se viveu nas remotas sociedades
indígenas de matrizes Tupi, onde pouco e poucos sabem que a estabilização da
conquista do ocidente marajoara aconteceu ali, naquela região.
“O meu objetivo é
mostrar como estas narrativas, com suas dispersões e regularidades dialogam com
uma memória Tupi, que encontrou formas de resistências e ainda hoje está
presente na história do presente de sociedades marajoaras”, afirma o mestrando.
Em meio à investigação
nas localidades marajoaras, Joel Silva, destaca o morador Miguel Vila Real, de
Nazaré, comunidade São Francisco. Ele conta que antes mesmo de seu Miguel
começar a narrar suas histórias, conforme combinado, previamente, com o
mestrando, o traje do morador chamou sua atenção. “Seu Miguel estava com uma
camisa de cor amarela, no centro o nome “Brasil”. Isso, para mim, sinaliza uma
leitura para além de uma camisa de torcedor da seleção brasileira. Ela comunica
e anuncia o sentimento de estar na Amazônia paraense e pertencer ao Brasil. A
breve apresentação das narrativas dentre as quais citamos “A criação da noite”
inscrevia, naquele momento, a memória Tupi no arquipélago marajoara,
especialmente, do Marajó das Florestas para o Brasil. Essa experiência de
entrevistá-lo foi muito relevante porque a hipótese levantada sobre a presença
de uma memória Tupi nas narrativas orais da região começava a se confirmar’’,
conclui Joel Silva.
Conheça
a origem dos índios no Marajó
De acordo com o mestrando, Joel Pantoja
da Silva, a hipótese mais aceita sobre as sociedades indígenas, no arquipélago
do Marajó, na Amazônia paraense, é que desde o século XVII elas foram totalmente
exterminadas. Como foram dizimados na condição de sociedades organizadas,
ignora-se que uma grande parte desses indígenas foi assimilada pela população
humilde da região, e que, portanto, passou a constituir os processos de
diferentes identidades que atravessaram, desde então, as sociedades que
construíram suas histórias no local. Em
sua tese de doutoramento sobre a temática “A Invenção do Índio e as Narrativas
Orais Tupi” defendida na Universidade de Campinas, SP – UNICAMP em 2009, a
coordenadora do Programa de Mestrado em Comunicação, Linguagens e Cultura,
professora Ivânia dos Santos Neves mostra que esta incorporação, ainda que seja
silenciada pela história oficial da colonização, aconteceu em muitas cidades
brasileiras.
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