Universidade
Federal do Pará
Faculdade
de Letras
Disciplina:
Recursos Tecnológicos
Docente:
Ivânia Neves
Andriele
Pereira (UFPA)
Úrssula
Cardoso (UFPA)
Os negros fazem parte
da teledramaturgia brasileira desde o início, mas sua imagem sempre foi
estereotipada. Poucas vezes, e somente de uns anos para cá que o negro
interpreta o papel de um rico empresário, de um grã-fino, de herói. Não é
preciso uma longa análise hermenêutica para constatar que nos principais meios
de comunicação de massa os negros ainda continuam sendo associados a antigos
estereótipos como a “mulata sensual”, o “bandido” ou o “negro malandro”; e a
profissões consideradas socialmente inferiores, como empregadas domésticas e
jardineiros. No fundo, passa uma imagem de desleixo, falta de responsabilidade
ou mesmo de marginal, o que é altamente negativo para fixação do seu caráter,
sem citar ainda as campanhas publicitárias, onde raros os rostos de pele
escura.
Mas a TV é apenas o
espelho do preconceito. A ausência do negro na TV ou sua imagem subalterna,
quando aparece, são consequências de um preconceito racial gerado pela exclusão
social das populações negras do país, as mais marginalizadas e que apresentam
os indicadores sociais mais desfavoráveis - apesar de o Brasil ser um país
miscigenado, com predominância negramesmo na sociedade brasileira atual, negros
e índios "continuam vivendo as mesmas compulsões desagregadoras de uma
autoimagem depreciativa, gerada por uma identidade racial negativa e reforçada
pela indústria cultural brasileira, a qual insiste simbolicamente no ideal de
branqueamento" (ARAÚJO, 2000).
Entre 1880 e 1990 houve
algumas mudanças nesse pensamento, ainda que tímidas. A telenovela Corpo a
Corpo, onde aparece uma personagem vítima de preconceito racial, Sonia, vivida
pela atriz Zezé Motta. Essas duas décadas são consideradas como um período de
ascensão do negro na telenovela brasileira. No entanto, teria permanecido a
construção de uma identidade de "branquitude" na sociedade brasileira,
onde as imagens dominantes reforçam o elogio dos traços brancos como o ideal de
beleza dos brasileiros. A nossa diversidade racial e cultural transforma-se,
nas telenovelas, no paradoxo de um Brasil branco.
O nefasto estereótipo
da mulher de cor associado à libido, por exemplo, encontrou nos meios de
comunicação de massa um terreno fértil para a sua propagação. Nas principais
telenovelas da Rede Globo, geralmente as atrizes negras interpretam a mulher de
vida fácil, a “gostosona” ou a amante. Em 2004, a primeira trama protagonizada
por uma atriz negra (Tais Araújo) trazia o tendencioso título de “A Cor do
Pecado”. Não obstante, o polêmico seriado “Sexo e as Nêga”, que estreou
recentemente, ao exibir várias cenas de mulheres negras em situações
libidinosas, só confirmam a tese de que, em pleno século 21, a grande mídia
brasileira ainda continua sendo norteada por um sexismo racista herdado do
período escravocrata.
Além da estigmatização
em telenovelas, os negros também são ridicularizados nos programas de humor, tratados
de maneira humilhante nos programas policiais e encontram em publicações da
imprensa conservadora, um importante obstáculo para as suas principais causas e
reivindicações. Em suma, mais de trezentos anos após a sua morte, a luta de
Zumbi dos Palmares pela verdadeira libertação do negro continua atual.
Existe uma ação
deliberada para além de sub-representar, colocar os negros e negros em patamar
de desigualdade, de inferioridade. E isso é prejudicial para quem assiste. Para
o jovem negro ou para a criança que está em período de formação da sua
identidade isso é extremamente nocivo, pois exerce forte influência na forma de
viver e de se relacionar com o mundo. Precisamos de mais negros jornalistas,
repórteres, atores, atrizes, políticos, apresentadores ocupando o seu merecido
espaço na mídia brasileira.
Chegou o momento de
exercemos o nosso direito à comunicação e para isso necessitamos de veículos de
comunicação feitos por negros, por afros descendentes, que exista uma mídia
negra efetivamente no Brasil. Esta mídia vai ter nosso ponto de vista sobre temas
atuais do nosso cotidiano. Somente com a democratização da comunicação
poderemos apresentar os fatos com veracidade, e libertar o Brasil da
ignorância.
O filme a seguir faz referência a esta discussão: A negação do Brasil
REFERÊNCIAS
ARAÚJO,
Joel Zito. A negação do Brasil. Editora Senac, 2000. https://www.youtube.com/watch?v=gVnxFvMaLSw
JENKINS,
Henry. Cultura da Convergência. São Paulo: Aleph, 2009.
Planejamento da Oficina
Público – alvo: alunos do 3º ano do ensino médio
Duração: 20h.
JUSTIFICATIVA
O presente plano de ensino surgiu como pré-requisito para aprovação na disciplina Recursos Tecnológicos, ministrada pela professora Ivânia Neves na Universidade Federal do Pará para os alunos do 7º semestre do Curso de Letras com habilitação em Língua Portuguesa. Este projeto visa mostrar como o negro é apresentado nas mídias, sobretudo a televisiva, a qual a maioria dos alunos tem acesso. Tal projeto assume grande importância para compreensão da inserção do negro na mídia televisiva, “se o público não tiver ideia das discussões que estão ocorrendo, terá pouco ou nada a dizer a respeito de discussões que estão ocorrendo, terá pouco ou nada a dizer a respeito de decisões que mudarão drasticamente sua relação com os meios de comunicação” (JENKINS, 2009)
Com o título “A representação do negro na mídia televisiva” pretendemos ilustrar como o negro é configurado no espaço da TV, e a partir disso, explorar o que Jenkins afirma: “a convergência envolve uma transformação tanto na forma de produzir quanto na forma de consumir os meios de comunicação”, dessa maneira, construiremos uma visão mais crítica do verdadeiro lugar do negro na mídia televisiva.
OBJETIVOS
GERAL
Mostrar como o negro é
apresentado diante dos recursos midiáticos.
ESPECÍFICOS
ü Identificar
como o negro é apresentado em diferentes épocas na mídia televisiva;
ü Estabelecer
a relação entre o negro e a sua caracterização no espaço midiático;
ü Relatar
quais tipos de ações preconceituosas aparece na televisão;
ü Desmistificar
a imagem produzida pelas redes televisivas relacionadas ao negro;
ü Desenvolver
um posicionamento crítico sobre o lugar do negro na sociedade.
METODOLOGIA
A oficina se
dará no período de 20h, que será dividido em cinco aulas, ou seja, quatro horas
por aula. As aulas serão na forma de discussão do tema com produções transmidiáticas
e avaliação de forma contínua.
Aula
1
1°momento
No início da aula, será apresentado
o tema da oficina e realizado um breve diálogo acerca do que os discentes sabem
e o que observam na televisão sobre a presença do negro em diversas
programações.
2°
momento
Vamos exibir um
trecho em vídeo de uma cena da novela “Escrava Isaura” escrita por Bernardo
Guimarães, e contextualizar a história da realidade do negro naquela época e
criar uma roda de conversa com alunos sobre o que conhecem da história dos
negros na época da escravidão.
3°
momento
Mostraremos
algumas imagens que retratem o negro na televisão nos dias atuais e fazer uma
roda de perguntas referentes às diferenças observadas do papel no negro nas
novelas de época e nas de hoje.
Aula
2
Negros
na publicidade
1°
momento
A
aula terá seu início com uma indagação sobre o que os alunos já observaram como
o negro aparece em propagandas.
2°momento
Serão mostradas imagens para que os
alunos possam atentar para o negro em propagandas televisivas.
3°
momento
Como atividade,
será proposto que os alunos produzam propagandas em cartazes que possam colocar
um negro em espaços que normalmente só podemos notar a presença do branco.
Aula
3
1º
momento
Os alunos
deverão procurar na internet, quais as situações de preconceitos divulgadas nos
telejornais que mais repercutiram recentemente.
2º
momento
Com base nesses vídeos apresentados,
os alunos deverão produzir um vídeo de cunho jornalístico, relatando algum caso
referente ao racismo na sua realidade.
Aula
4
Negros
e a visão sensualizada
1°
momento
Será apresentado
o vídeo de abertura da novela Da cor do
pecado, disponível em: https://globoplay.globo.com/v/2168372/
e
um vídeo da série da Rede Globo Sexo e as
Negas disponível em http://gshow.globo.com/programas/sexo-e-as-negas/videos/t/episodios/v/cozinheira-em-casa-de-familia-soraia-e-surpreendida-por-patrao/3634403/,
por fim, será mostrada uma imagem da maneira como a mulher negra é vista.
2°
momento
Como modo de
reflexão, será proposto uma discussão do verdadeiro lugar da mulher negra na
mídia televisiva.
3°
momento
Como meio de facilitar o andamento
da próxima aula, proporemos a criação de um grupo no Facebook direcionado a
oficina.
Aula
5
Reflexão
sobre o preconceito
1°
momento
Será apresentado o vídeo “Alunos da
UNB usam cartazes na internet para denunciar o racismo”:
2°
momento
Como demonstrado
no vídeo, os alunos deverão se fotografar de forma que possam passar a imagem
tanto de denúncia contra o racismo, quanto de uma maneira que chame a atenção
para a superação da visão preconceituosa na qual os negros são vistos.
3°
momento
Para finalizar a oficina, os alunos
poderão compartilhar essas fotografias no grupo criado no Facebook.
AVALIAÇÃO
A
avaliação será realizada em diversos momentos: círculo de conversa, debate,
elaboração de cartazes publicitários, criação de um grupo no Facebook e
postagens nesse grupo.
RECURSOS
MATERIAIS (TECNOLÓGICOS)
·
Computador;
·
Data-show;
·
Caixa de som;
·
Câmera
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