terça-feira, 4 de abril de 2017

Da conscientização ao empoderamento negro nas mídias sociais

Universidade Federal do Pará
Faculdade de Letras
Disciplina: Recursos Tecnológicos no Ensino de Português
Docente: Ivânia Neves
Discentes: Fernanda Ribeiro Vasconcelos
Raissa Maciel Javan da Silva


     O Brasil é conhecido mundialmente por sua miscigenação etnocultural. Apesar disso, em função da nossa herança colonizadora, o etnocentrismo ainda persiste na sociedade brasileira, alimentando o preconceito e a exclusão social. Nesse cenário, criou-se a luta pelo empoderamento negro, a fim de desmistificar ideologias dominantes. 
   
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Além disso, é recorrente nas mídias é o grande número de ataques racista praticado por internautas, seja pela intolerância às características físicas das pessoas negras seja pelo próprio preconceito a religiões afro-brasileiras. 
    Temos conhecimento que com acesso mais rápido às informações e, principalmente, com a crença do anonimato na internet essas problemáticas vem aumentando. Contudo, como Jenkins (2009) afirma, acerca da cultura participativa, as informações atualmente são manifestadas em diferentes veículos de comunicação; assim toda e qualquer pessoa pode manifestar sua opinião, permitindo aos movimentos negros em redes sociais, como as páginas de empoderamento negro, discutirem esses ataques raciais, proporcionando o esclarecimento e o engajamento cada vez maior. 

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     Dessa forma, é possível compreender a importância de discutir a temática no âmbito escolar utilizando como ferramenta as mídias sociais, visto que, como afirma Oliveira (2008), nas escolas há ainda uma falta de discussão e materiais didáticos que contemplem parte da cultura negra para os alunos. A afirmação de Oliveira encontra na perspectiva de Martin-Barbero (2014) plena consonância, visto que o pesquisador defende que a escola ainda continua apresentando a visão histórica a partir do olhar da minoria dominante, distanciando a maioria das suas ânsias e lutas.
     Em suma, a escola é um espaço de aproximação de toda forma de pluralidade e, para Freire (2015), essa diversidade deve ser respeitada. Ademais, para combater o preconceito racial na sociedade a escola é um agente fundamental, assim outro saber repassado por Freire é fundamental: o pensar certo ou pensar crítico, para isso, o educador precisa ser um problematizador, formando, a partir disso, educandos críticos.         

Planejamento da Oficina
Tema: Da conscientização ao empoderamento negro nas mídias sociais
Objetivo geral
ü  Discutir a importância da cultura negra para história e para pluralidade do Brasil usando as mídias sociais.
Objetivos específicos
ü  Compreender, por meio de pesquisa na internet, as causas e as consequências do preconceito com religiões de matrizes africanas.
ü  Diferenciar os conceitos de empoderamento e apropriação cultural circulantes nas mídias sociais e seus sentidos literais.
ü  Reconhecer na literatura a presença dos povos afro-brasileiros.
ü  Elaborar textos informativos para o Facebook acerca da pluralidade cultural no Brasil.
ü  Produzir propagandas conscientizadoras para o Facebook acerca da herança cultural negra no Brasil.

Justificativa


A sociedade brasileira tem sido destaque, nos últimos tempos, nas mídias pelo grande número de ataques racistas, principalmente na internet. Entretanto, observamos, também, a mobilização de movimentos negros que se empoderam diante dos diversos preconceitos existentes. A internet tem sido uma ferramenta muito necessária para promover discussões, bem como propiciar uma interação acerca da determinada questão. Nesse viés, vale ressaltar um dos objetivos existentes nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs):
[...] conhecer características importantes do Brasil nas dimensões sociais, materiais e culturais como meio para construir progressivamente a noção de identidade nacional e pessoal e o sentimento de pertinência ao País; conhecer e valorizar a pluralidade do patrimônio sociocultural brasileiro, bem como aspectos socioculturais de outros povos e nações posicionando-se contra qualquer discriminação baseada em diferenças culturais, de classe social, de crenças, de sexo, de etnia ou outras características individuais e sociais [...]. (Parâmetros Curriculares Nacionais. p. 07).
            Além disso, em 2008 foi aderida às escolas a Lei 11.645, que tem como objetivo proporcionar aos estudantes um estudo da história e da cultura afro-brasileira e indígena. Mas, esse assunto ainda tem sido um tabu dentro da escola, uma vez que faltam informação e debate acerca do tema. Com base na necessidade de debater a questão, propomos uma oficina em que o educando identifique, a partir do seu cotidiano, tanto a persistência do preconceito quanto a importância cultural da herança deixada pelos povos afro-brasileiros. Ademais, considerando a ampla repercussão de informações nas redes sociais, escolhemos esta ferramenta como um recurso didático e destacamos a importância de trabalhar com vários recursos transmidiáticos a fim de expandir o conhecimento para além da sala de aula.


Metodologia

      A partir de uma oficina de 20 horas, pretende-se discutir com os alunos do terceiro ano a importância cultural das heranças de matrizes africanas para a pluralidade cultural do Brasil. Para isso, utilizaremos como base informações constantemente vinculadas às mídias, seja para identificar o preconceito, seja para discutir importantes conceitos das lutas do povo afro-brasileiro. Além disso, é parte importante desta metodologia a ferramenta de comunicação “Facebook”, pois, como objetivo final e avaliação para os alunos, pediremos a criação de propagandas acerca das heranças culturais deixada pelos povos africanos: culinária, música e afins, as quais serão publicadas em uma página criada para a aplicação da oficina.
Recursos didáticos: Datashow, computador, celular, recursos audiovisuais e material impresso.
Público alvo: 3ª ano do ensino médio.
Duração: 20 horas, divididas em 5 aulas de 4 horas.


Planos de aula:
Aula 1:

1º momento (1 hora): inicialmente relembraremos o processo de colonização do país, fato importante para tratar a miscigenação no Brasil, utilizaremos um poema falado de “O navio negreiro”

 
      

Focaremos, então, na vinda dos africanos escravizados e seus traços culturais, para podermos iniciar a conversa sobre as religiões de herança africana.
2 º momento (30 min): a partir deste momento, conduziremos uma roda de conversa, na qual questionaremos o que os alunos conhecem e como se sentem em relação às religiões Umbanda e Candomblé.
3º momento (1 hora): exibiremos um vídeo veiculado no Facebook, no qual uma diretora manifesta-se de forma preconceituosa sobre uma entidade do candomblé (disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=8Fi7kveEItU.), a fim de discutirmos com os alunos o olhar negativo que carregam algumas religiões em decorrência da falta de informação do senso comum.
4º momento (1 hora): pediremos aos alunos que pesquisem na internet textos que abordem a temática do preconceito acerca das religiões de matrizes africanas para serem postados em uma página do Facebook criada para realização da oficina, na qual a temática central será a conscientização social acerca da importância cultural dos povos afro-brasileiros para a pluralidade do país.
5º momento (30 min): auxiliaremos os alunos nas publicações dos textos escolhidos na página do Facebook.

Aula 2:

1º momento (30 min):  introduziremos a aula com a conceituação de apropriação cultural e empoderamento negro, a fim de mostrar aos estudantes o sentido real destas ideias.
2 º momento (1h30): Em seguida, mostraremos um caso repercutido no Facebook sobre apropriação para discutir o uso inadequado do conceito. Para contrapor esse comportamento, exibiremos um vídeo explicando o conceito real.


3º momento (1hora): Por fim, exibiremos um vídeo (disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=gSk4egmHZYM) para discutiremos como as mulheres negras têm utilizado o cabelo black como forma de empoderamento negro e como isso tem repercutido na sociedade de forma positiva e negativa.
4º momento (1 hora): conduziremos uma roda de conversa para discutir os conceitos expostos nos vídeos.

Aula 3:

1º momento (30min):  introduziremos a aula com o depoimento da professora Tereza de Moraes, docente de Letras da PUC, no qual ela narra algumas aparições dos afrodescendentes em diferentes períodos da literatura


2 º momento (1h30): mostraremos como alguns escritores brasileiros retomaram o negro na literatura, introduzindo com o poema “Vozes d’África” de Castro Alves (disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=xuIzV7zpvPw&t=58s).
3º momento (1hora): pediremos que eles pesquisem na internet poesias e músicas que retratem a luta do povo negro.
4º momento (1hora): auxiliaremos na elaboração de publicações para o Facebook com as poesias e músicas encontradas dialogadas com artes visuais.

Aula 4:

1º momento (1 hora): iniciaremos a aula mostrando aos alunos o que é um artigo de opinião. Esse tipo de texto está sempre presente nas mídias, por isso explicaremos a importância de expor ideais pessoais por meio da escrita e qual a linguagem adequada eles devem utilizar para apresentar ao leitor.
2 º momento (30 min): utilizaremos o texto da Djamila Ribeiro, publicado no site Carta Capital, como exemplo de artigo de opinião. Esse texto pode ser encontrado em: https://www.cartacapital.com.br/blogs/escritorio-feminista/racismo-reverso-e-a-existencia-de-unicornios-205.html.
3º momento (1 hora): a partir da leitura do texto iremos propor uma pequena discussão a cerca do tema e da estrutura do texto.
4º momento (1h30 min): mostraremos o vídeo “Apropriação cultural existe? Pode branca usar turbante?”, de Nátaly Neri. Pediremos que a partir desse vídeo os alunos façam um pequeno artigo de opinião e postem na página do Facebook.

Aula 5:

1º momento (1h30min): nessa última aula explicaremos acerca do gênero propaganda como um meio de frequente nas mídias. Abordaremos os textos e as imagens que são utilizadas nas propagandas.
2 º momento (30 min): traremos exemplos de tipos de propagandas que circulam com mais frequência nas mídias.
3º momento (1 hora): apontaremos a propaganda informativa como um meio para conscientizar e trazer novos conhecimentos para o interlocutor. Traremos como exemplo a propaganda da Unicef, “Campanha por uma infância sem racismo”.
4º momento (1 hora): pediremos que os alunos produzam memes de cunho informativo para ser exposto na página do Facebook.
Avaliação

A tarefa avaliativa consistirá na seguinte produção: os alunos irão propor propagandas de conscientização acerca da cultura afro-brasileira. Eles devem fazer anúncios por meio de memes, GIF’s ou até mesmo vídeos de pouca duração que retratem a influência da cultura negra na sociedade brasileira. Essas propagandas serão postas na página do Facebook que foi criada pela classe.


Referências Bibliográficas

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 2015. 
JENKIS, Henry. Cultura da Convergência. São Paulo: Editora Aleph. Disponível em:http://lelivros.online/book/baixar-livro-cultura-da-convergencia-henry-jenkins-em-pdf-epub-e-mobi-ou-ler-online/
MARTIN-BARBERO, Jesus. A comunicação na educação. São Paulo: Editora Contexto, 2014. 
OLIVEIRA, Kiusam Regina de. Candomblé de Ketu e educação: estratégias para o empoderamento da mulher negra. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo, 2008.


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