quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Os vários ângulos de Belém: Por entre sons, telas e desconstruções

Universidade Federal do Pará
Instituto de Letras e Comunicação
Faculdade de Letras
Disciplina Recursos Tecnológicos
Professora Ivânia Neves
Junho/2014

Ana Carla Costa Castilho
Lidiana Oliveira de Almeida
Robert Leandro Silva Freitas


Introdução

A cidade de Belém do Pará arraiga olhares clichês e na maioria ufanistas por parte dos próprios paraenses e dos turistas que visitam a cidade, diante disso a mídia a partir dos adventos da contemporaneidade se destaca como um dos principais meios de construção de diversas realidades que perpassam o cotidiano das pessoas, com suas entrevistas, aspas, notícias etc. remodelam identidades e projetam a imagem de diversos locais a partir que ela noticia. O discurso proferido pelas mídias nem sempre é de exaltação e furor, ele também pode desvelar temáticas não tão comuns sobre uma determinada região ou espaço como, denuncias sociais, saberes sobre determinados locais periféricos, entre outros que serão enunciados e discutidos na presente pesquisa.

Principiemos nossa pesquisa sob o olhar dos telejornais, nacionais e regionais. Para Cunha (2011) apud Davallon (2007) Os jornais com suas entrevistas, imagens, depoimentos, etc. são formatos que direcionam o leitor /telespectador ao real. Porém essas categorias edificam diante das práticas de agenciamento realidades que são enunciadas à medida que outras são negligenciadas ou embargadas. Deste modo, a mídia ou o noticiário nacional ao falar da cidade de Belém dentro do “telejornal Hoje” se posiciona a partir da voz de um jornalista de fora do estado, este se depara com um enorme estoque de especiarias presente na metrópole da Amazônia.




Observa-se diante da reportagem uma Belém que na voz da jornalista é cercada por águas e muito semelhante com a capital portuguesa Lisboa, com sua arquitetura, e sua construção urbana... As imagens que deslizam sobre a reportagem servem de sustentação para uma narratologia histórica sobre o período do 1º reinado, em que Belém seria uma forte cidade a ser capital do reino. Pois possuía porto, áreas de preservação florestal etc. Belém não foi capital do reino, mas a partir da década de 70 vieram os imigrantes japoneses e trouxeram especiarias que marcaram e de uma forma bem acentuada a cultura e a economia da cidade... Note que o jornalismo de fora se destaca dentro desse ponto como noticiador de uma espécie de vislumbramento de uma redenção, em outras palavras, as especiarias japonesas poderiam alavancar ainda mais a economia da cidade, contribuindo dessa forma para que Belém se tornasse capital do império. A mídia se posiciona como transmissora de uma redenção para o povo de Belém do Pará. Ou seja, vamos mostrar que Belém poderia ser a capital da coroa, mas não foi e nem por isso ficou a margem...

A mídia local a partir do Jornal O liberal 1º edição vem mostrar Belém a partir de um olhar de cima, especificamente sobre um determinado ponto da cidade, ponto no qual se fez bem presente no noticiário nacional mostrado na reportagem acima, ou seja, a zona portuária da cidade. A mídia local mostra uma Belém que padece pela falta de condições de moradia e habitação, evidenciando a presença constante de palafitas e barracos para evidenciar uma cidade que sofre pelo abandono e descaso.




Tanto a mídia nacional quanto a mídia local noticiaram a zona portuária da cidade de Belém, no entanto os aspectos de visualidades se contrastaram nas duas reportagens, em que diante do noticiário nacional a região portuária de Belém é foco de emprego, turismo, renda, chegando próxima a ser capital da coroa no século XVIII. Todavia o noticiário local mostra que essa mesma zona carece de condições melhores de moradia, emprego, oportunidades, evidenciando com isso uma Belém da calamidade. Vimos então que a mídia local dissocia-se do que foi exposto pela mídia nacional para tomar outro lugar, o lugar daquilo que é silenciado/negligenciado pela mídia nacional.

A imagem da cidade de Belém também é repercutida em músicas, e assim como nos telejornais também há visões sobre a cidade. No primeiro olhar temos músicas com teor ufanista, que exaltam a cidade e demonstram todas as características e belezas da cidade, em um segundo momento temos músicas que por um lado exaltam e por outro deixam implícitos críticas sobre a cidade. É caso da música escrita pelo humorista paraense Murilo Couto ( irônico).


A cidade de Belém foi, em meados do século XVIII, um pequeno lugarejo que se tornou morada habitada por índios. A vasta quantidade de tribos ainda existentes fez a cidade ser percebida como ainda não “civilizada”.

O vídeo foi produzido para o programa “The noite” (SBT) e mesmo inicia com a fala do humorista Danilo Gentilli sobre a cidade de Belém, o apresentador brinca com o humorista Murilo Couto que é paraense. Danilo pergunta a Murilo como está no nordeste, pois lá tem seca, Murilo indignado (irônico) o xinga de burro e diz que está cansado, que Belém fica no norte. No entanto Danilo faz diversas outras afirmativas estereotipando os paraenses como: Índio Selvagem, Você tem Jacaré de estimação?, Belém não é no meio do mato? Murilo Couto cansado desses estereótipos canta um rap defendendo a cidade.

Aparentemente o rap é ufanista, pois o humorista começa desmistificar aspectos que não são próprios da cidade, porém no minuto 1:46 ele começa a dizer o que realmente há na cidade, na tentativa (deboche) de dizer que a cidade é metrópole ele afirma que “temos farmácia e até é possível andar de carro, tem a tecnologia do shampoo e jujuba” ele gagueja em algumas partes intencionalmente mostrando que não há muitas coisas na cidade. Quando é questionado pelo apresentador se há Metrô ele fica sem argumentos. Percebemos então diante do vídeo que a tentativa de defender a cidade só afirma ainda mais a visão preconceituosa e estereotipada de Belém.

Já no videoclipe da banda Calypso a imagem estereotipada de Belém é acentuada diante da música e das imagens lançadas no produto do clipe. Deste modo no vídeo “Belém, Pará, Brasil” da Banda Calypso é possível conhecer um pouco da beleza de Belém, escutar e apreciar o carimbo, sendo uma dança típica da cultura paraense e conhecer umas das comidas típicas da nossa Belém. Verificamos o quanto o vídeo é compartilhado e curtido, sendo assim fica claro o quanto é possível trabalhar em sala de aula com esse gênero digital. E analisar o que podemos extrair de importante.

Na melodia a banda Calypso faz um convite aos fãs e para o Brasil inteiro, pois é uma banda conhecida mundialmente, provocando assim um convite para conhecer o estado do Pará e apreciar a beleza paraense e seus encantos, promovendo assim o conhecimento da mistura de raças: índio, loiro, moreno, existente em Belém e de pessoas quentes, divertidas, encantadoras e trabalhadoras e que tudo sempre acaba em festa, ou seja, em carimbo uma dança cheia de charme e sacudida que não deixa ninguém parado e é um mistura de raça. Porque nós temos os nossos encantos,  o videoclipe mostra um dos grandes pontos turísticos de Belém “o mangal das garças”. Nele nós conhecemos um pouco da nossa fauna e flora paraense.

E claro não podemos esquecer-nos das nossas comidas típicas que dão água na boca e ninguém resiste. Hoje se ver que sempre os turistas ao sair de Belém levam o açaí, muito conhecido no Japão e Estado Unidos para muitos fins, falam muito do tacacá uma mistura de goma, camarão seco, folha de jambu e tucupi. Logo, fica impossível resistir a esse convite magnífico de vir para nossa Belém, mesmo com essa grande facilidade que temos hoje, de conhecer o mundo sem sair de casa e compartilhando desta era digital.        

Usando as plataformas midiáticas do telejornal, vídeo clip e música, discorremos sobre os diversos olhares da cidade de Belém em âmbito regional e nacional para isso usamos os preceitos de convergência dos meios de comunicação proferido por  Jenkins (2008), o autor afirma que o fluxo de conteúdos através de múltiplas plataformas de mídias, à cooperação dos públicos pelos meios de comunicação, que vão a quase qualquer parte em busca de experiências de entretenimento. Sendo assim percebemos o quanto se fala Cidade, seja bem ou mal, ainda sim nos envolvemos com as mídias e somos capazes de emitir juízo acerca do assunto.

REFERÊNCIAS

CUNHA, TÃO LONGE, TÃO PERTO: A identidade paraense construída no discurso da mídia do Sudeste brasileiro, Araraquara, UNESP, 2011
FOUCAULT, M. A Arqueologia do Saber. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008a.
_____. A Ordem do discurso. 17. ed. São Paulo: Ed. Loyola, 1999.
_____. Microfísica do Poder. 24. ed. São Paulo: Ed. Graal, 2007.
GREGOLIN, M. R.. A mídia e a espetacularização da cultura. In: GREGOLIN, M. do R. (org.). Discurso e Mídia: a cultura do espetáculo. São Carlos: Claraluz, 2003. p. 9-17.
JENKINS, Henry, "Cultura da Convergência". São Paulo: Aleph, 2008.
KELLNER, Douglas; SHARE, Jeff. "Educação para a leitura crítica da mídia, democracia radical e a reconstrução da educação". Educ. Soc., Campinas, vol. 29 - n. 104 - 2008. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-73302008000300004
http://adamazonia2013.blogspot.com.br/search?updated-max=2013-05-02T14:48:00-07:00&max-results=7&start=7&by-date=false


Plano de Aula 


1. IDENTIFICAÇÃO

Título: Os Vários Ângulos de Belém: Por entre Sons, Telas e Desconstruções
Proponentes:
Ana Carla Costa Castilho
Lidiana Oliveira de Almeida
Robert Leandro Silva Freitas

2. OBJETIVOS

OBJETIVO GERAL

 Investigar e analisar como a cidade de Belém aparece diante de diversos recursos midiáticos.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

  • Mostrar diante dos recursos midiáticos como: música e o telejornal  edificam  imagens acerca da cidade de Belém do Pará.
  •  Analisar a música, o vídeo Belém (Murilo Couto feat Fafá de Belém) e o clipe “Belém, Pará Brasil” da banda calypso.
  • Analisar telejornais locais e nacionais.
3. JUSTIFICATIVA

O presente Plano de Ensino justifica-se com fim de realizar uma leitura crítica de como o tema a cidade de Belém é retratada por jornais paraenses de grande circulação local e por Jornais de circulação nacional, e concomitantemente nas músicas. Pretende-se verificar a contribuição dessas informações no incentivo da imagem e da desconstrução das imagens da cidade de Belém para o paraense e para o turista que chega a metrópole. Não se trata de avaliar se a mídia é benéfica ou prejudicial na difusão da informação sobre a cidade, mas sim mostrar como a cidade é vista e catalogar isso para fins de pesquisa. Compreender e avaliar sua função como produtora de uma realidade específica da cidade. A mídia local e nacional, tanto digitais, impressas ou sob o viés do audiovisual, tem se revelado porta-voz de uma pluralidade de discursos que mobiliza e materializa o enorme arquivo que vem sendo construído nas últimas décadas. 

4. CONTEÚDO

Convergência dos meios, musicais, telejornalísticos e audiovisuais em mostrar a cidade de Belém.

5. RECURSOS DIDÁTICOS

Música, Telejornal e Vídeoclipe , assim como Data-show, computador e caixa de som.

6. METODOLOGIA

1° MOMENTO: Será feito uma leitura de um texto publicado no jornal O comunicado da professora Dra. Ivânia dos Santos Neves, que possui como foco central as sociedades amazônicas dentro de olhares de globalização em que estamos vivendo, em seus corpo vemos a presença da cidade de Belém, como um espaço de construção de saber.  No interior do texto há um debate de como Belém do Pará e o espaço amazônico se situam e se dialogam na perspectiva de dizer e imprimir valor ao ser nortista. Presente no link: (http://adamazonia2013.blogspot.com.br/search?updated-max=2013-05-02T14:48:00-07:00&max-results=7&start=7&by-date=false)

2° MOMENTO: Será mostrado aos alunos os passos a passos da aula que será ministrada apontando para o que será discutido e fomentado nos debates acerca da cidade de Belém.

3° MOMENTO: É o momento em que iremos aguçar o conhecimento prévio do aluno acerca da cidade de Belém... Direcionando para as seguintes indagações:
           Vocês já ouviram falar sobre a cidade de Belém?
           Vocês conhecem essa cidade?
           Vocês sabem a localização dela?
           Vocês conseguem entender a importância da cidade de Belém para  o processo de consolidação e valorização da cultura nortista?
          Quando vocês ouvem sobre a cidade de Belém, quais imagens da cidade lhe vêm a mente?
          Essas cidades contribuem para a instauração de uma identidade da metrópole? Se sim, de que forma?
Professor faz-se necessário fazer anotações no quadro das possíveis respostas que surgirão dos alunos

4°  MOMENTO: Percebemos que  de uma enorme relevância trazer o questionamento para sala de aula sobre  mídia, discurso e Poder, sempre levando em consideração o que o aluno tem de conhecimento sobre essas instâncias, e lhe provocando pensar de diferentes modos a partir da voz de teóricos sobre a aula que está sendo ministrada. Diante disso será feito um debate sobre mídia, discurso e poder, primeiramente perguntando aos alunos sobre o que eles possuem de conhecimento sobre esses temas:
·         O que vocês entendem por Mídia?
·         Do que elas se constituem?
·         Quais são seus tipos?
·         O que elas repassam com maior frequência?
·         Sobre discurso, quando vocês ouvem essa palavra o que lhe vem a mente?
·         Vocês tem noção da sua constituição?
·         Cite exemplos de discursos que chegam ate você de alguma forma.
·         Sobre os diferentes poderes que atuam sobre a sociedade, vocês sabem o que eles representam?
·         O que vem a ser o poder?
·         O que vocês entendem sobre ele (poder)?

5° MOMENTO: Achamos interessante passar nesse momento imagens sobre a cidade de Belém, achamos interessante o professor se utilizar das imagens trazidas no blog: Expat Blog (http://www.expat-blog.com/pt/imagens/america-do-sul/brasil/belem/2) e perguntar aos alunos o que eles observam de interessantes nas fotografias que firmam identidades sobre a metrópole.

6° MOMENTO: Iremos entrar na análise dos dados coletados sobre a cidade de Belém, primeiramente analisaremos a musica “Belém” de Murilo Couto e Fafá de Belém, apontando sempre para o que a musica evidencia sobre a cidade e levando em consideração o que pouco foi abordado sobre a cidade.

7° MOMENTO: Faremos nesse momento analise sobre como o telejornalismo nacional e local noticiam a cidade de Belém. Mostraremos dois vídeos, primeiramente uma reportagem advinda no Jornal Hoje e posteriormente o noticiário local se fará presente a partir de uma reportagem do jornal Liberal 1° edição.  A partir desses dois vídeos investigaremos e ao mesmo tempo faremos os alunos identificarem até onde a mídia paraense reproduz aquilo que está sendo enunciado pela mídia nacional a respeito da cidade de Belém e até que ponto ela rompe com aquilo que é exposto pela mídia de fora do estado. Ela estabelecerá uma relação de reprodução ou de ruptura? No caso o Jornal O liberal repetirá os dizeres mais visualizados pela mídia nacional ou irá romper com o que foi exposto?

8° MOMENTO: faremos uma análise do clipe da banda Calypso: “Belém, Pará, Brasil” investigando as características musicais e imagéticas presente no produto audiovisual da banda.
9° MOMENTO: Faremos um apanhado geral do que foi exposto diante da aula ministrada e socializaremos com os alunos os possíveis efeitos e proveitos que eles tiraram da aula ministrada. A partir das seguintes perguntas:
  • Antes dessa aula como vocês observavam a cidade de Belém?
  • Como voes observam agora, diante das explanações desta aula?
  • Foi modificada a visão de vocês? De que forma?

7. AVALIAÇÃO

Elaborar um pequeno questionário e a partir daí fazermos uma roda de discussão.
Questionário:

1)      Antes dessa aula como vocês observavam a cidade de Belém?
2)      Como voes observam agora, diante das explanações desta aula?
3)      Foi modificada a visão de vocês? De que forma?

8. REFERÊNCIAS

CUNHA, TÃO LONGE, TÃO PERTO: A identidade paraense construída no discurso da mídia do Sudeste brasileiro, Araraquara, UNESP, 2011
FOUCAULT, M. A Arqueologia do Saber. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008a.
_____. A Ordem do discurso. 17. ed. São Paulo: Ed. Loyola, 1999.
_____. Microfísica do Poder. 24. ed. São Paulo: Ed. Graal, 2007.
GREGOLIN, M. R.. A mídia e a espetacularização da cultura. In: GREGOLIN, M. do R. (org.). Discurso e Mídia: a cultura do espetáculo. São Carlos: Claraluz, 2003. p. 9-17.
JENKINS, Henry, "Cultura da Convergência". São Paulo: Aleph, 2008.
KELLNER, Douglas; SHARE, Jeff. "Educação para a leitura crítica da mídia, democracia radical e a reconstrução da educação". Educ. Soc., Campinas, vol. 29 - n. 104 - 2008. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-73302008000300004


Para saber mais:


terça-feira, 19 de agosto de 2014

O diálogo de identidades na música Olhando Belém

Universidade Federal do Pará
Instituto de Letras e Comunicação
Faculdade de Letras
Disciplina Recursos Tecnológicos
Professora Ivânia Neves
Junho/2014


Flávio Torres
Ivania Melo
Hiraldo Lameira

Introdução

Este trabalho apresenta uma leitura voltada para o diálogo de identidades na música Olhando Belém, de Celso Viáfora e interpretação de Nilson Chaves. O diálogo se estabelece a partir da rejeição que o individuo mostra em relação a própria identidade e passa a desejar a do outro. Ele reconhece os problemas sociais de sua cidade, mas prefere ignorar os problemas da cultura do outro desejando também fazer parte dessa nova “realidade” vista por um olhar turístico, breve, sonhador. Mas para entender esse diálogo que a música Olhando Belém nos oferece é preciso compreender o que é identidade e cultura.

Identidade, para Ferreira (2000), são: “Os caracteres próprios e exclusivos duma pessoa: nome, idade, estado, profissão, sexo, etc.”. Com relação a cultura, ele defini como


Ato, efeito ou modo de cultivar. O complexo dos padrões de comportamento, das crenças, das instituições, das manifestações artísticas, intelectuais, etc., transmitidos coletivamente, e típicos de uma sociedade. O conjunto dos conhecimentos adquiridos em determinado campo. (FERREIRA, 2000, p. 197)

Então, Identidade cultural é a reunião das características de uma sociedade que tem origem na interação dos indivíduos com fatores externos, o que resulta em uma identidade mutável.



A mídia tem um papel importante nessa (des)construção de ideias. Quem da região Amazônica nunca ouviu comentários sobre o bom relacionamento entre pessoas e animais selvagens pelas ruas das capitais? Como se diariamente fosse comum encontrar faixa inteligente para onças atravessarem a rua ou “jacarovias” para os nossos crocodilianos circularem tranquilamente por nossa cidade. Ou ainda a surpresa de alguns estrangeiros ao perceberem que não andamos nus em nossa aldeia de um pouco mais de 1,4 milhão de habitantes.

Para Patriota (2002, p. 12), essa identidade é o “sentimento de pertencimento a uma cultura nacional”. Hall, em A identidade cultural na pós-modernidade (1999 apud PATRIOTA, 2002) afirma que “uma cultura nacional é um discurso – um modo de construir sentidos que influencia e organiza tanto nossas ações, quanto a concepção que temos de nós mesmos”. Prado (2010, p. 124), com base também nas ideias de Stuart Hall, diz que “as velhas identidades [...] estão em declínio, fazendo com que o sujeito moderno tenha uma identidade fragmentada”. São por influencias externas que a (des)construção da identidade ocorre naquele que observa maravilhado a cultura, o espaço, a região, as características do outro que parecem melhores que a dele (do observador). Vamos observar a música e prestar atenção à letra.


O sol da manha rasga o céu da Amazônia
Eu olho Belém da janela do hotel
As aves que passam fazendo uma zona
Mostrando pra mim que a Amazônia sou eu
E tudo é muito lindo
É branco, é negro, é índio
No rio Tietê mora a minha verdade
Sou caipira, sede urbana dos matos
Um caipora que nasceu na cidade
Um curupira de gravata e sapatos
Sem nome e sem dinheiro
Sou mais um brasileiro
Olhando Belém enquanto uma canoa desce um rio
E o curumim assiste da canoa um Boeing riscando o vazio
Eu posso acreditar que ainda da pra gente viver numa boa
Os rios da minha aldeia são maiores do que os de Fernando Pessoa
(e o sol da manha rasga o céu da Amazônia)
Olhando os meus olhos de verde e floresta
Sentindo na pele o que disse o poeta
Eu olho o futuro e pergunto pra insônia
Será que o Brasil nunca viu a Amazônia
E vou dormir com isso
Será que e tão difícil.



A música descreve a visão de um turista contemplando o cenário amazônico da janela de um hotel localizado as margens do rio. Mas ele vê duas realidades: a Belém que tem rio, aves, sol, branco, negro, índio; e a sua região, poluída, destruída, sem oportunidades. Ao lançar o olhar maravilhado para a paisagem ele não percebe que acaba desviando um pouco a vista de uma Belém das águas. Mas águas dos canais que cortam a cidade e são os nossos “Tietês”. De costas para a realidade, nada romântica, ele já sente que é parte da Amazônia. E justifica que pode ser aceito porque esta é uma terra de todos, onde “tudo é muito lindo, é branco, é negro, é índio”, então, pode ser dele também.


Figura 1 – A identidade em questão


Enquanto o olhar turístico contempla “Belém da janela do hotel”, ele deixa de ver a Belém das ruas, onde não desce apenas a canoa de um curumim, mas uma tribo tinteira. Talvez evite a nossa verdade de propósito, bastando a sua realidade: “No rio Tietê mora a minha verdade. Uma verdade suja, poluída, de caos urbano. Sua declaração afirma que ele é mais de cá do que de lá quando afirma: “Sou caipira / sede urbana dos matos / Um caipora que nasceu na cidade / Um curupira de gravata e sapatos.

O antagonismo é muito presente nesta letra. O autor utiliza um jogo perfeito com as palavras que sempre revelam oposição, sentido contrario. Além de afirmar neste fragmento do texto a sua condição de “ninguém”. Ao usar o termo “caipora” ele revela sua identidade fragmentada, pois, “caipora” é um personagem folclórico representado de diversas formas pelas regiões do país e não apenas uma. Também significa pessoa que dá ou tem má sorte. Também admite que nasceu e mora fora de onde pertence deseja estar. Outra afirmação de perda de identidade é a expressão “sem nome e sem dinheiro” só “mais um brasileiro”. Aqui, confirma não existe identidade. Sem nome é não ter identidade.

Ele não quer ser apenas um brasileiro. Quer pertencer a esta região que junta o curumim e o Boeing no mesmo cenário. O passado e o presente. Embora tenha uma visão apaixonada ele também aponta uma questão de ordem política-social ao sentir que a Amazônia é excluída do Brasil. Mas ainda tem esperança “de que ainda dá pra viver numa boa” porque os rios da sua aldeia “são maiores do que os de Fernando Pessoa”, ou seja, são melhores, são mais belos, são maiores porque são “seus”.

REFERÊNCIAS

A IDENTIDADE em questão.  Imagem do livro A identidade em questão. Rio de Janeiro, 2006. Disponível em: . Acesso em: 20 jun. 2014.

FERREIRA, A. B. H. Miniaurélio Século XXI: o minidicionário da língua portuguesa. 4. ed. rev. ampliada, – Rio de Janeiro : Nova Fronteira, 2000, p. 371.

IDENTIDADE. Produção: Vanessa Pereira e Thuany Brasil. Interpretes: Alessandra Duarte; Danilo Carvalho; João; Vinicius. Narração: Natalia Ferreira. Áudio: Paula Pascutti. Imagens: Renato Archangelo. Edição: Thamiris Macedo. Filme de Fernando Meirelles e Nando Olival. Adaptação do Grupo Multiplicidade. Disponível em: . Acesso em: 26 jun. 2014.

JENKINS, Henry. Introdução: “venere no altar da convergência”. In: ______. Cultura da convergência. Tradução Susana Alexandria. 2. ed. – São Paulo : Aleph, 2009, p. 25 – 51.

KELLNER, Douglas; SHARE, Jeff. Educação para a leitura crítica da mídia, democracia radical e a reconstrução da educação. Disponível em: <WWW.scielo.br/pdf/es/v29n104/a0429104.pdf>. Acesso em: 12 de abril de014.

PATRIOTA, Lucia Maria. Cultura, identidade cultural e globalização. Qualitas – Revista Eletrônica do Centro de Ciências Sociais Aplicadas da UEPB, v. 1, n. 1, 2002. Disponível em: < http://revista.uepb.edu.br/index.php/qualitas/article/view/8/1>. Acesso em: 16 jun. 2014.

PRADO, Juliana do. Culto ao corpo na telenovela: apropriações, consumo e identidades sociais. In: CASTRO, Ana Lúcia de (Org.). Cultura contemporânea, identidades e sociabilidades : olhares sobre corpo, mídia e novas tecnologias. – São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010. p. 113-150. Disponível em: . Acesso em: 16 jun. 2014.

VIÁFORA, Celso. Olhando Belém. Intérprete: Nilson Chaves. You Tube. Disponível em: . Acesso em: 20 jun. 2014.



Plano de Aula

1.    IDENTIFICAÇÃO

-     Tema: O DISCURSO DE IDENTIDADES NA MÚSICA OLHANDO BELÉM
-     Público alvo: Alunos do Curso de Letras – Língua Portuguesa
-     Período: 25/06/2014
-     Duração: 50 minutos

2.    OBJETIVOS

-     Geral: Reconhecer e criticar o diálogo de identidades presente na música.
-     Específicos: Pesquisar assuntos relacionados com identidade cultural da região; produzir textos argumentativos para defender sua opinião; questionar os problemas de sua cidade; apresentar de forma clara e objetiva sua pesquisa.

3.    METODOLOGIA

Aula expositiva:

-     Reprodução da música (apenas o áudio).
-     Perguntar o que os alunos identificaram na letra da música.
-     Reproduzir o vídeo com a música.
-     Perguntar novamente a impressão que eles tiveram sobre a música.
-     Interpretação da música utilizando fotos conforme a letra.
-     Explicar a atividade que o aluno apresentada na próxima aula.

4.    MATERIAL

-     Computador.
-     Projetor multimídia.
-     Caixas multimídia.

5.    AVALIAÇÃO

-     O aluno escolherá uma das três propostas (comprovar com fotos; escrever um texto em prosa; ou compor um poema) para mostrar os problemas da cidade e argumentar contra a imagem ufanista que a música apresenta sobre Belém.


O diálogo de identidades na música Olhando Belém

Atividade em Sala de Aula

Diante do assunto apresentado em sala e as discussões a respeito do tema, escolha uma das três propostas abaixo para mostrar os problemas da cidade e argumentar contra a imagem ufanista que a música apresenta sobre Belém.

1          Comprovar com fotos.
2     Escreva um texto em prosa.

3     Compor um poema.


6.    REFERÊNCIAS

FERREIRA, A. B. H. Miniaurélio Século XXI: o minidicionário da língua portuguesa. 4. ed. rev. ampliada, – Rio de Janeiro : Nova Fronteira, 2000, p. 371.

JENKINS, Henry. Introdução: “venere no altar da convergência”. In: ______. Cultura da convergência. Tradução Susana Alexandria. 2. ed. – São Paulo : Aleph, 2009, p. 25 – 51.
KELLNER, Douglas; SHARE, Jeff. Educação para a leitura crítica da mídia, democracia radical e a reconstrução da educação. Disponível em: <WWW.scielo.br/pdf/es/v29n104/a0429104.pdf>. Acesso em: 12 de abril de014.

PATRIOTA, Lucia Maria. Cultura, identidade cultural e globalização. Qualitas – Revista Eletrônica do Centro de Ciências Sociais Aplicadas da UEPB, v. 1, n. 1, 2002. Disponível em: < http://revista.uepb.edu.br/index.php/qualitas/article/view/8/1>. Acesso em: 16 jun. 2014.

PRADO, Juliana do. Culto ao corpo na telenovela: apropriações, consumo e identidades sociais. In: CASTRO, Ana Lúcia de (Org.). Cultura contemporânea, identidades e sociabilidades : olhares sobre corpo, mídia e novas tecnologias. – São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010. p. 113-150. Disponível em: . Acesso em: 16 jun. 2014.


Para saber mais: