Jaqueline Ferreira
Figura 1: Bufalos do Marajó dos Campos, Diário do Pará, 2011 |
Por várias razões, os habitantes da ilha do Marajó, mais conhecidos como marajoaras, decidem deixar suas comunidades e migram paras as grandes cidades de outras regiões do Pará, principalmente Belém. Professor e Historiador da Universidade Federal do Pará (UFPA), Agenor Sarraf destaca que no cenário amazônico as populações locais, em momentos de necessidades especificas, fazem os “movimentos campo-cidade, floresta-cidade, cidade-capital”.
O historiador explica que essa prática resulta em um complexo processo de deslocamentos por fatores de ordem econômica, como a busca de melhores empregos, social, como a formação educacional, o acesso a serviços médicos mais dignos, além de outras políticas sociais. Para ele, também contam fatores como a questão cultural (participar dos circuitos artísticos da cidade e suas produções populares), religiosa (estar mais próximos de seus santos de devoção ou tempos religiosos, com destaque para os evangélicos, kardecistas e praticantes de religiões africanas) e afetivas (reencontrar-se com parentes, amigos antigos amores).
“Os marajoaras migram com suas bagagens culturais e vivenciam perdas, ganhos, apropriações, traduções em seus novos espaços de moradia, sem, contudo, esquecerem heranças, raízes e roteiros de vida, apreendidos em terreno natal”, afirma o professor.
A ligação dos povos marajoaras com a formação de identidades paraenses, de acordo com Sarraf, tem origens históricas no período colonial. “É preciso lembrar das inúmeras nações indígenas, africanos e os descendentes dos cruzamentos desses grupos étnico-raciais com os colonizadores, que sustentaram, com sua força de trabalho, as fronteiras coloniais e o desenvolvimento econômico do Pará em seus vários ciclos econômicos”, analisa o historiador.
Outra forma de contribuição dos marajoaras, segundo o pesquisador, é o rico vocabulário que migra com essas populações a acaba se misturando com a linguagem do novo local. Ele ainda destaca ainda o importante papel de disseminadores da prática em lidar com bovinos e bubalinos, a criação e domesticação de outros animais selvagens, os saberes da floresta e dos rios, além da rica gastronomia e das festas religiosas, que também circulam pelos espaços urbanos de Belém. “Há muitas Beléns na Amazônia. Uma delas é a Belém Marajoara”, brinca o professor.
Nesse emaranhado de mútuas influências, o historiador destaca ainda o rico acervo de patrimônio material e imaterial com os quais a região do Marajó e o Estado do Pará ficam conhecidos no Brasil e no mundo. “Sítios arqueológicos, urnas funerárias, instrumentos de usos domésticos e de celebração, embarcações e saberes náuticos, ritos, ritmos, diferentes expressões religiosas são exemplos da influência e força da cultura e economia marajoara na afirmação de suas identidades paraenses e reconhecimento do Estado frente a outras regiões”, defende Sarraf.
FONTE: Cultura Marajoara se espalha. Diário do Pará, Belém, 05 junho 2011. Regional, p. A – 16.
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