terça-feira, 27 de setembro de 2016

PRECONCEITO LINGUÍSTICO EM MÍDIAS SOCIAIS

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
INSTITUTO DE LETRAS E COMUNICAÇÃO
FACULDADE DE LETRAS
DISCIPLINA: RECURSOS TECNOLÓGICOS
PROFESSORA: Drª. IVÂNIA NEVES


OFICINA

Prhyscilla Rodrigues
Merissa Ribeiro
Carolina Abdon


PRECONCEITO LINGUÍSTICO EM MÍDIAS SOCIAIS




Preconceito linguístico nas mídias sociais de Carolina Abdon




INTRODUÇÃO
O Brasil, como uma democracia jovem, tem passado por diversas mudanças sociais em um curto período. Conseguimos perceber que tais mudanças se tornaram evidentes na última década, com a inegável inclusão digital e econômica de classes outrora esquecidas. No entanto, a diferença histórica educacional comum a toda América Latina ainda prevalece e, mais ainda, torna-se evidente com os meios de comunicação e tecnologia. 
Podemos dizer então que somos frutos da desigualdade social e econômica daqueles que nos colonizaram e nos vetaram a possibilidade de pleno crescimento e aprendizado. O marginalizado busca desde então um modo de adentrar onde, primeiramente, não havia sido convidado, onde não era desejado. Na era digital, a demanda faz e produz aquilo que deseja em um processo veloz de circulação de conteúdos e informações de variados tipos, ao que damos o nome, segundo Jenkins (2009), de cultura participativa. 
 É a partir deste ponto de encontro entre o marginal e o que está no centro cultural e intelectual que está o preconceito linguístico, há anos sendo objeto de estudo de sociolinguística e outras áreas da linguística em uma perspectiva social. Dentro desta perspectiva, encontramos o conceito de variação linguística como o modo em que podemos nos expressar de acordo com a nossa realidade social, cultural, e também dependendo do meio em que estamos inseridos. Nesse sentido, é notável em nossa sociedade a forte presença de marginalização daqueles que não se enquadram no padrão culto de fala ou escrita, não importando classe social ou econômica que ocupe. É notável, então que tal marginalização cultural e social tenha migrado no mundo real, onde tal conduta se perpetua através de séculos de exclusão, para a realidade virtual, onde o usuário é o próprio regulador daquilo que está sendo veiculado e demandado.  
          A chacota com os diferentes falares de um país com dimensões continentais migraram também para o mundo online, ficando, por vezes, evidenciada a falta de conscientização do nosso próprio sistema educacional em reverter um processo que tem como objetivo "hermetizar" a língua em imutável e fechada a qualquer tipo de variação, priorizando aquilo que chamamos de "norma curta", a língua estudada, por meio de regras sem preocupação com uso ou os falantes de maneira geral, vedando a palavra geradora que Paulo Freire se apoia para construir uma pedagogia que liberte o aluno (e também o professor) para uma visão de mundo ampla e crítica.


REFERÊNCIAS
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 2015. 

JENKIS, Henry. Cultura da Convergência. São Paulo: Editora Aleph. Disponível em: http://lelivros.online/book/baixar-livro-cultura-da-convergencia-henry-jenkins-em-pdf-epub-e-mobi-ou-ler-online/

MARTIN-BARBERO, Jesus. A comunicação na educação. São Paulo: Editora Contexto, 2014. 

BAGNO, Marcos. Preconceito Lingüístico: o que é, como se faz. São Paulo: edições Loyola, 1999.

CALVET Louis-Jean. Sociolinguística: uma introdução crítica. São Paulo: Parábola, 2002.




PLANO DE AULA

Público-alvo: Alunos do 2º ano do Ensino Médio.
Duração: 20h, divididas em 5 aulas de 4h.

OBJETIVOS
Objetivo geral
  • Ampliar o conceito de certo e errado que rodeia a Língua Portuguesa.

Objetivos específicos
  • Apresentar as variedades linguísticas presentes no país. 
  • Debater acerca do preconceito linguístico, tanto no campo oral como no campo escrito.
  • Exercitar um posicionamento crítico no aluno.

RECURSOS DIDÁTICOS
Datashow, computador, recursos audiovisuais, material impresso, celulares, câmera digital.

JUSTIFICATIVA
Nunca a informação foi tão massivamente compartilhada e nunca tantas camadas da sociedade tiveram acesso ao que é veiculado. Porém, o acesso à informação que está nas mídias sociais não quer dizer que haja o mesmo acesso à educação e conscientização acerca da linguagem que utilizamos no nosso dia a dia, em ambientes escolares ou mais formais. O preconceito com o modo de falar migrou do cotidiano real para o cotidiano virtual, onde percebemos que esta prática vem acompanhada de chacotas e imagens em tom cômico para diminuir enquanto língua o uso da linguagem coloquial. É nesse sentido que notamos a importância do debate e conscientização por parte das próximas gerações que utilizaram mais ainda esses meios de comunicação, para que o preconceito com o falar do interior, o falar regional, as marcas da oralidade não sejam silenciadas pela língua hermética e cheia de regras.

METODOLOGIA
A metodologia utilizada está dividida na carga horária de 20h, utilizaremos como como ferramentas principais as redes sociais e tipologias/gêneros textuais diversos, com o intuito de oferecer ao aluno um panorama do quanto o preconceito linguístico está presente e sua consequente naturalização.

1ª aula:
  • ·         1º momento (30 minutos): Introdução a respeito do tema “Preconceito linguístico”. Haverá uma discussão sobre o assunto, abordando um conceito teórico que explicará as causas do mesmo. 
  • ·          2º momento (1 hora): O grupo irá induzir os alunos a pensar sobre o que pode motivar um indivíduo a cometer tal preconceito, mostrando as diferentes variações linguísticas existentes.
  • ·         3º momento (10 minutos): A matéria televisiva intitulada “Sotaques do Brasil”, que foi transmitida pelo “Jornal Hoje”, na Rede Globo, será usada para evidenciar a discussão que ocorreu a respeito de variações linguísticas.
  • ·         4º momento (1 hora): Os alunos, após assistirem a matéria, participarão de uma espécie de “roda de conversa” e irão contar seus relatos pessoais: se já presenciaram casos de pessoas que falam/falavam “diferente” das demais em nossa região, assim como algum tipo de preconceito linguístico com as mesmas.
  • ·         5º momento (1 hora): Depois de alcançada a intenção do grupo com os alunos, será discutida a percepção sobre a diversidade linguística existente em nossa região.
2ª aula:
  • ·         1º momento (30 minutos):  A continuação da oficina terá como marco inicial duas imagens: um cartaz que surgiu nas manifestações de 2013 e um “print” de uma conversa em rede social (Facebook). A primeira imagem mostra um cartaz com os dizeres escritos propositalmente errados, onde um indivíduo cobra uma melhor educação no país, já a segunda contém erros de grafia e interpretação que acabou ganhando fins humorísticos devido a conversa inusitada das duas crianças.
  • ·         2º momento (1 hora): O grupo tem como objetivo fazer com que os alunos discutam entre si a intenção de cada imagem citada anteriormente, assim como os “erros de português” encontrados nas mesmas.
  • ·         3º momento (30 minutos): Posteriormente, será mostrada uma paródia de “Canção do Exílio”, famoso poema do autor brasileiro Gonçalves Dias. A paródia, intitulada “Outra Canção do Exílio”, de Eduardo Alves da Costa, tem a intenção de despertar nos alunos o humor e a crítica contidos no poema.
  • ·         4º momento (40 minutos): Os alunos irão visualizar duas (2) matérias de jornais paraenses (“O Liberal” e “Diário do Pará”) de grande circulação na capital, apontando no decorrer da leitura o que mais chamou a atenção dos mesmos.
  • ·         5º momento (1 hora): Após a leitura das duas (2) matérias, o grupo fará com que eles discutam quem produz cada tipo de matéria e onde esses jornais mais circulam, assim como sua “acessibilidade” e linguagem.

3ª aula:
  • ·         1º momento (45 minutos): Debate sobre o discurso de Dilma Rousseff sobre o Zika vírus, apresentando parte de uma transcrição do discurso, feito pela ex-presidente Dilma Rousseff, que demonstra o quanto suas colocações são alvos de preconceito. Em determinado trecho, o autor da transcrição ressalta a pronúncia da ex-presidente em relação ao nome do mosquito vetor do vírus, sugerindo um erro.

    2º momento (30 minutos): Debate sobre a sátira relativa aos pronunciamentos da ex-presidente, utilizando como ponto de partida um meme, que nos permite observar a resistência, de parte da população, aos pronunciamentos de Dilma Rousseff, tidos como incompreensíveis por não utilizar uma linguagem formal.

    3º momento (30 minutos): Explanação sobre o posicionamento do político Eduardo Jorge sobre a legalização da maconha, por meio de trecho de uma entrevista em que o cadidato se posiciona a favor da legalização da maconha, associada a um meme que sugere que o mesmo faz uso da substância, evidenciando, assim, o poder da linguagem midiática em vincular ideias.

    4º momento (30 minutos): Exposição de uma postagem da página Divas Depressão, que demonstra o preconceito das pessoas com determinados discursos políticos.

    5º momento (45 minutos): Leitura de trecho de reportagem do jornal O Globo, que deixa claro um pensamento hierárquico entre a linguagem formal/erudita e a linguagem coloquial/popular.

    6º momento (2 horas): Discussão dirigida sobre os memes apresentados, seguido de atividade de verificação de aprendizagem.

4ª aula:
  • ·         1º momento (30 minutos): Haverá a retomada de conceitos linguísticos ligados à variação e uso em determinados ambientes, iniciando a discussão acerca de como a juventude se comunica e quais marcas de linguísticas mais se utiliza, se é formal ou informal.
  • ·         2º momento (30 minutos): Exibição de vídeos sobre jovens e protestos. O primeiro vídeo a ser discutido é “Protesto contra o GOVERNO Versão Baile de Favela”, disponível em https://www.youtube.com/watch?v=RemC1NFUkTA. Adiante, haverá a exibição do vídeo “Jovens e trabalhadores relatam motivações em protesto ‘Fora Temer’”, disponível em https://www.youtube.com/watch?v=NGi2ego7B5Y. Por fim, a exibição do documentário “Escolas ocupadas – A verdadeira reorganização”, de Jimmy Bro, disponível em https://www.youtube.com/watch?v=UxpwFW62i7M.
  • ·         3º momento (30 minutos): Discussão acerca dos vídeos exibidos sobre a linguagem dos jovens, o que os diferencia enquanto jovens, o que está sendo reivindicado. Mais adiante, haverá a exibição de imagens de protestos 1964 x 2016, seguindo de questionário oral sobre a história democrática e educacional de nosso país.
  • ·         4º momento (30 minutos): Leitura do texto “Resistir e persistir”, de Vitória J. Monteiro Leite, aluna de uma escola ocupada em São Paulo, a partir de seu próprio ponto de vista de como aquela experiência estava sendo e como estavam fazendo a diferença, disponível em http://brasil.elpais.com/brasil/2015/12/11/opinion/1449840924_860395.html.
  • ·         5º momento (2 horas): Produção em grupos de vídeo, música, texto ou memes de protesto que leve em consideração o sistema político e educacional atual e a linguagem típica do falar jovem, com piadas e trocadilhos. De acordo com a mídia selecionada, haverá acompanhamento com cada grupo formado.
  • ·         6º momento (1 hora): Apresentação da produção para a turma e finalização do dia de aula.
5ª aula:

  • ·         1º momento (1 hora): Retomada dos principais pontos que foram tratados ao longa da oficina.
  • ·         2º momento (30 minutos): Momento destinado para dúvidas dos alunos e outras colocações.
  • ·         3º momento (2 horas): Leitura do comando das atividades e momento para a realização individual do mesmo.
  • ·         4º momento (30 minutos): Resolução conjunta da atividade, utilizando a técnica da tempestade cerebral (brainstorming), em que os alunos possam expor suas respostas.

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