terça-feira, 23 de agosto de 2011

O SILÊNCIO DAS VOZES QUE LUTAM

“Quando uma árvore está sendo cortada a seiva lembra sangue”

(Em sua última entrevista a Felipe Milanez, José Cláudio, morto dia 24 de maio suspira)

 
   Mais vidas foram retiradas, o clamor por justiça está cada vez mais ensurdecedor, não é de hoje que sindicalistas são, brutalmente, mortos por pistoleiros. A verdade é que existe uma lista, nomes de pessoas que lutam contra extração ilegal de madeira na região amazônica, essa pessoas estão “marcadas” para serem executadas por entrar em conflito com os interesses das empresas madeireiras. O casal que lutava a favor da preservação ambiental, já não luta mais. O caso da irmã Dorothy Stang pode servir como exemplo.
Assim como o caso da religiosa norte-americana, a luta dos sindicalistas também ganhou grande repercussão. José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo, considerados sucessores de Chico Mendes, foram executados a tiros em uma estrada vicinal que leva ao projeto de assentamento agroextrativista, na Praia Alta Piranheira, área rural de Nova Ipixuna, no Pará.
     Silva era considerado sucessor de Chico Mendes, em referência ao líder dos seringueiros do Acre que foi morto em 1988 por sua defesa da Amazônia. O crime ocorreu na terça-feira (24/05) por volta das 4h30 da manhã, o casal de ambientalistas morreu na hora.
Tudo foi bem planejado, os pistoleiros ficaram aguardando o casal perto de uma ponte que fica no caminho da sede do Município. Para atravessa lá é necessário estar alerta, pois além de ser perigosa a travessia, já foram registradas várias ocorrências de crime. No final dessa ponte, uma ladeira encobre a visão de quem a atravessa, local perfeito para uma emboscada, eles se camuflaram no mato, em um ponto de onde era possível enxergar até o topo da ladeira e não ser visto. Perto da ponte, José reduziu ao mínimo a velocidade e conduziu a motocicleta com os pés. Assim que cruzaram o igarapé, foram surpreendidos pelos bandidos. O casal levou tiros de escopeta e de um revólver calibre 38, um dos bandidos puxou uma faca andou até José Cláudio que dava seus últimos suspiros e cortou um pedaço de sua orelha direita como prova do serviço realizado.
     Os seringueiros eram líderes do assentamento e combatiam a exploração ilegal de madeira na região. A Polícia Civil de Nova Ipixuna do Pará faz buscas na região atrás de pistas dos assassinos. Tanto José Cláudio e Maria tinham 54 anos, sentiam medo, pois sabiam que estavam jurados de morte. “as coisas estavam ainda piores”, declaração de Maria em uma conversa telefônica captada no início de maio, onde ela fala estar com muito medo das coisas piorarem. O apelo de Maria fica conhecido nacionalmente em outubro de 2010, quando a revista Vice divulgou trechos de uma entrevista feita por Felipe Milanez, “Eu sozinha eles não me pegam. Mataram a irmã Dorothy (Stang), mas não é o caso. Era uma freira, não tinha marido. Eu tenho um marido de personalidade forte. Que já teve momento de discutir com pistoleiro. Se pegar pega os dois”.
     A luta do casal se caracteriza pelo amor a Amazônia, o desejo de preservação da floresta está evidente em seus princípios. Assim que eles chegaram à região, tornaram-se a voz-ativa contra a concentração de terras, o contrabando de madeira e a produção ilegal de carvão. Acumularam muitos e poderosos inimigos: madeireiras, donos de carvoaria, grileiros, pecuaristas, industriais da siderurgia e até mesmo assentados como eles que se dedicam a extrair madeira de forma ilegal. Mas essas vozes foram caladas por pistoleiros que não temeram em nenhum momento qualquer que seja a punição, durante anos pessoas que lutam pela terra, pela preservação e reconstrução ambiental, são mortos diariamente.

Alunos do curso de jornalismo (UNAMA): Aline Seabra, Fernanda Brabo, Roberta Damasceno, Valquíria Lima, Mauro Tavernard e Renan Rollo

Nenhum comentário:

Postar um comentário