quarta-feira, 6 de julho de 2011

MADEIRA DE SANGUE
(Guinga)
Tem cigarra nova no oco, pica-pau dá troco no toco... Todo esse povinho vai ficar sem ninho se a matança continuar.
Ah, Tupã, protege a caoba ! Pena Branca o maogani ! Deus salve a floresta
e o acajú que resta, a araputanga taguá.
Se há cabra safado é guru que ao se ver diante de um fato faz mais glu-glu-glu
que peru-de-roda e encobre o assassinato. Figurão de araque, banzai!
Eu assopro em cima e tu cai. Não vem com cascata : eu sou vira-lata, o anonimato é meu pai.
Cuspo em quem tem rei na barriga, morei no sereno, vivo ao léu.
Eu não procuro quem me siga, meu bloco sou eu e o povaréu.
Lá no Pará é que eu nasci, eu sou de mogno e de luz. E quando ferem minha arvre,
meu sangue é que escorre pela Cruz.
Eu vou rezar em Nazaré e crio caso, grito, insisto: torturar madeira santa
é que nem tacar fogo em Jesus Cristo.
no fuá , no forró , sou mais eu , sou maió.

(Para se obter 1m³ de mogno, são derrubadas 28 árvores de espécies diferentes. Para cada árvore abatida, cerca de 1450 m² de floresta são danificados e os danos são irreversíveis.)

MADEIRAS E VIDAS NA AMAZÔNIA PARAENSE

A preocupação com a Amazônia paraense tem sido tema de muitas canções da música popular brasileira. Na composição Madeira de Sangue, do compositor Guinga, interpretada por Leila Pinheiro, no CD Catavento e Girassol (1996 EMI MUSIC LTDA), percebe-se na força da interpretação de Leila e na energia dos versos de Guinga o tom de denuncia sobre o que vem acontecendo à floresta amazônica e toda sua biodiversidade que tem sido alvo de pessoas que buscam o enriquecimento irresponsável e assassino.
 As árvores cujas madeiras são consideradas nobres, tem sido fonte de enriquecimento ilícito e motivo para assassinatos de pessoas com o compromisso de defender o meio ambiente. Em maio deste ano foi noticiado pelos meios de comunicação a notícia do assassinato do casal Maria do Espírito Santo da Silva e José Claudio Ribeiro da Silva, líderes do Projeto Agroextrativista Praialta-Piranheira, na comunidade de Maçaranduba, a 50 quilômetros do município de Nova Ipixuna, no sudeste do Pará. Maria e José Claudio eram filhos da região e integravam o Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), organização não governamental (ONG) fundada por Chico Mendes.
De acordo com Atanagildo Matos, diretor da Regional Belém do CNS, o casal já havia sido ameaçado de morte diversas vezes por sua intensa atuação em questões referentes à associação de moradores da comunidade da qual foram líderes e também, segundo o diretor da Regional Belém, pelas inúmeras denúncias feitas na Polícia Federal, no Ministério Público e em órgãos como o Ibama e o Incra sobre as irregularidades ambientais cometidas na região, como extração ilegal de madeira.
Em junho deste mesmo ano, a Comissão Pastoral da Terra informou à imprensa o assassinato de mais um trabalhador rural no Pará, após supostamente ter discutido com representantes de grandes madeireiros que estavam extraindo madeira de forma ilegal na região. Obede Loyola Souza, de 31 anos, foi morto na quinta-feira no Acampamento Esperança, em Pacajá, aparentemente com um tiro de espingarda dentro do ouvido, a 500 metros de sua casa. Souza, casado e pai de três filhos, teria se manifestado contra a extração da madeira e o fato de a atividade deixar as estradas de acesso ao acampamento e aos assentamentos da região intrafegáveis nesse período de chuvas.

“ASSASSINATOS EXPÕEM MAIS UMA VEZ VIOLÊNCIA CONTRA DEFENSORES DA FLORESTA AMAZÔNICA E OMISSÃO DO ESTADO”

"... E quando ferem minha árvore meu sangue é que escorre pela cruz"
 É com esse título que no dia 31 de maio de 2011, o Instituto Socioambiental relatou no seu site as atrocidades cometidas em terras amazônicas contra os defensores da terra. De acordo com o instituto, “desde 1985, Amazônia foi palco de mais de mil assassinatos de trabalhadores rurais e lideranças defensoras de direitos humanos. O Pará respondeu por mais de 600 casos. Ministério Público, movimentos sociais e organizações da sociedade civil cobram presença do Estado para atuar sobre as causas sociais do problema.”
Menos de uma semana após o assassinato do casal José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo, no dia 30 de maio de 2011, o portal ORM informa no seu site sob o título “Testemunha é morta em Nova Ipixuna” a notícia da morte daquele que de acordo com os colonos que residem no assentamento Praialta Piranheira era uma das principais testemunhas da morte do casal de sindicalistas, o agricultor Herenilton Pereira dos Santos, maranhense, 25 anos. O jovem agricultor e um cunhado, de identidade não revelada, encontravam-se trabalhando em sua roça às margens de uma estrada vicinal, quando presenciaram, a passagem, a poucos metros deles, de dois homens em uma moto modelo Bros de cor vermelha, vestidos com jaquetas e portando capacetes. Um deles carregava uma bolsa comprida no colo.
As descrições da moto e dos dois motoqueiros coincidem com informações prestadas à polícia por testemunhas que disseram ter visto dois pistoleiros horas antes do crime, trafegando pela estrada vicinal fugindo provavelmente momentos após o duplo homicídio no dia em que os sindicalistas foram mortos. Herenilton Pereira teria visto os pistoleiros e foi alvejado com um tiro de espingarda, a cerca de 50 metros de uma estrada vicinal que dá acesso ao Lago de Tucuruí.
A morte desse agricultor que testemunhou a favor da tentativa de justiça ao crime de José Claudio e Maria denota o desmando abusivo daqueles que através da violência covarde comandam um império de terror que move milhões e que através dos tempos tem se tornado os senhores em uma terra em que seus interesses valem mais do que qualquer vida.

ZÉ CLAUDIO E MARIA DO ESPÍRITO SANTO


O casal era empenhado na melhoria da vida daqueles que dependiam da natureza da região amazônica e em projeto de sustentabilidade ambiental. Estavam a frente do Projeto Agroextrativista que de acordo com o publicado pelo site do Instituto Sócioambiental “é uma modalidade especial de assentamento, onde as atividades econômicas estão baseadas na extração manejada dos recursos naturais da floresta aliada à agricultura de pequena escala. Na Amazônia, em especial devido à grande preocupação com a preservação da floresta, esse tipo de projeto é desenvolvido levando em consideração as características das populações tradicionais da região”.
Extremamente preocupados com a questão ambiental, o casal vivia em seu lote onde colhiam castanha, andiroba, copaíba e cupuaçu, entre outros. Fabricavam óleos e artesanato. Os dois desenvolviam atividades de educação popular e ambiental. Maria era recém formada em Pedagogia e coordenava o programa loca do CNS sobre saúde da mulher. Juntos eles trabalhavam na execução do plano de manejo comunitário e desenvolviam atividades de educação popular e ambiental, organizavam mobilizações, cursos, palestras e oficinas em comunidades rurais com o intuito de formar novas mentalidades em relação às praticas de manejo sustentável da terra.
Ainda de acordo com informações do Instituto Socioambiental os dois ajudaram a criar, em 1997, o PAE onde moravam, com 22,5 mil hectares e 500 famílias, às margens do lago da barragem de Tucuruí. Também foram responsáveis pela criação da associação dos pequenos produtores da área. A partir daí, passaram a denunciar derrubada e compra ilegais de madeira. Os dois líderes vinham lutando especialmente para salvar as castanheiras, espécie protegida por lei que passou a ser visada pelos madeireiros com o fim das outras espécies de interesse comercial na região.
No site de relacionamento Orkut, após o assassinato do casal estava um apelo escrito certamente por alguém próximo, revelando a “voz” do casal em relação ao triste acontecimento:

Sobre FLORESTA
José Claudio Ribeiro e Maria do Espírito Santo

Fomos assassinados por fazendeiros e políticos corruptos, por defender as florestas, peço a todos que não cruzem os braços e deixem as florestas nas mãos de políticos e fazendeiros, se vocês cruzarem os braços em breve nossos filhos e netos, não vão ter mais água para beber.



Vocês que estão lendo, façam movimentos contra os desmatamentos das florestas não fiquem calados. 


As florestas pedem socorro.
Velório de José Claudio Ribeiro e Maria do Espírito Santo

Raimundo de Araújo Tocantins
Aluno do Programa de Mestrado em Comunicação, Linguagens e Cultura da Universidade da Amazônia - UNAMA

FONTES:

CD Catavento e Girassol – Leila Pinheiro (1996 EMI MUSIC LTDA).







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