quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Os vários ângulos de Belém: Por entre sons, telas e desconstruções

Universidade Federal do Pará
Instituto de Letras e Comunicação
Faculdade de Letras
Disciplina Recursos Tecnológicos
Professora Ivânia Neves
Junho/2014

Ana Carla Costa Castilho
Lidiana Oliveira de Almeida
Robert Leandro Silva Freitas


Introdução

A cidade de Belém do Pará arraiga olhares clichês e na maioria ufanistas por parte dos próprios paraenses e dos turistas que visitam a cidade, diante disso a mídia a partir dos adventos da contemporaneidade se destaca como um dos principais meios de construção de diversas realidades que perpassam o cotidiano das pessoas, com suas entrevistas, aspas, notícias etc. remodelam identidades e projetam a imagem de diversos locais a partir que ela noticia. O discurso proferido pelas mídias nem sempre é de exaltação e furor, ele também pode desvelar temáticas não tão comuns sobre uma determinada região ou espaço como, denuncias sociais, saberes sobre determinados locais periféricos, entre outros que serão enunciados e discutidos na presente pesquisa.

Principiemos nossa pesquisa sob o olhar dos telejornais, nacionais e regionais. Para Cunha (2011) apud Davallon (2007) Os jornais com suas entrevistas, imagens, depoimentos, etc. são formatos que direcionam o leitor /telespectador ao real. Porém essas categorias edificam diante das práticas de agenciamento realidades que são enunciadas à medida que outras são negligenciadas ou embargadas. Deste modo, a mídia ou o noticiário nacional ao falar da cidade de Belém dentro do “telejornal Hoje” se posiciona a partir da voz de um jornalista de fora do estado, este se depara com um enorme estoque de especiarias presente na metrópole da Amazônia.




Observa-se diante da reportagem uma Belém que na voz da jornalista é cercada por águas e muito semelhante com a capital portuguesa Lisboa, com sua arquitetura, e sua construção urbana... As imagens que deslizam sobre a reportagem servem de sustentação para uma narratologia histórica sobre o período do 1º reinado, em que Belém seria uma forte cidade a ser capital do reino. Pois possuía porto, áreas de preservação florestal etc. Belém não foi capital do reino, mas a partir da década de 70 vieram os imigrantes japoneses e trouxeram especiarias que marcaram e de uma forma bem acentuada a cultura e a economia da cidade... Note que o jornalismo de fora se destaca dentro desse ponto como noticiador de uma espécie de vislumbramento de uma redenção, em outras palavras, as especiarias japonesas poderiam alavancar ainda mais a economia da cidade, contribuindo dessa forma para que Belém se tornasse capital do império. A mídia se posiciona como transmissora de uma redenção para o povo de Belém do Pará. Ou seja, vamos mostrar que Belém poderia ser a capital da coroa, mas não foi e nem por isso ficou a margem...

A mídia local a partir do Jornal O liberal 1º edição vem mostrar Belém a partir de um olhar de cima, especificamente sobre um determinado ponto da cidade, ponto no qual se fez bem presente no noticiário nacional mostrado na reportagem acima, ou seja, a zona portuária da cidade. A mídia local mostra uma Belém que padece pela falta de condições de moradia e habitação, evidenciando a presença constante de palafitas e barracos para evidenciar uma cidade que sofre pelo abandono e descaso.




Tanto a mídia nacional quanto a mídia local noticiaram a zona portuária da cidade de Belém, no entanto os aspectos de visualidades se contrastaram nas duas reportagens, em que diante do noticiário nacional a região portuária de Belém é foco de emprego, turismo, renda, chegando próxima a ser capital da coroa no século XVIII. Todavia o noticiário local mostra que essa mesma zona carece de condições melhores de moradia, emprego, oportunidades, evidenciando com isso uma Belém da calamidade. Vimos então que a mídia local dissocia-se do que foi exposto pela mídia nacional para tomar outro lugar, o lugar daquilo que é silenciado/negligenciado pela mídia nacional.

A imagem da cidade de Belém também é repercutida em músicas, e assim como nos telejornais também há visões sobre a cidade. No primeiro olhar temos músicas com teor ufanista, que exaltam a cidade e demonstram todas as características e belezas da cidade, em um segundo momento temos músicas que por um lado exaltam e por outro deixam implícitos críticas sobre a cidade. É caso da música escrita pelo humorista paraense Murilo Couto ( irônico).


A cidade de Belém foi, em meados do século XVIII, um pequeno lugarejo que se tornou morada habitada por índios. A vasta quantidade de tribos ainda existentes fez a cidade ser percebida como ainda não “civilizada”.

O vídeo foi produzido para o programa “The noite” (SBT) e mesmo inicia com a fala do humorista Danilo Gentilli sobre a cidade de Belém, o apresentador brinca com o humorista Murilo Couto que é paraense. Danilo pergunta a Murilo como está no nordeste, pois lá tem seca, Murilo indignado (irônico) o xinga de burro e diz que está cansado, que Belém fica no norte. No entanto Danilo faz diversas outras afirmativas estereotipando os paraenses como: Índio Selvagem, Você tem Jacaré de estimação?, Belém não é no meio do mato? Murilo Couto cansado desses estereótipos canta um rap defendendo a cidade.

Aparentemente o rap é ufanista, pois o humorista começa desmistificar aspectos que não são próprios da cidade, porém no minuto 1:46 ele começa a dizer o que realmente há na cidade, na tentativa (deboche) de dizer que a cidade é metrópole ele afirma que “temos farmácia e até é possível andar de carro, tem a tecnologia do shampoo e jujuba” ele gagueja em algumas partes intencionalmente mostrando que não há muitas coisas na cidade. Quando é questionado pelo apresentador se há Metrô ele fica sem argumentos. Percebemos então diante do vídeo que a tentativa de defender a cidade só afirma ainda mais a visão preconceituosa e estereotipada de Belém.

Já no videoclipe da banda Calypso a imagem estereotipada de Belém é acentuada diante da música e das imagens lançadas no produto do clipe. Deste modo no vídeo “Belém, Pará, Brasil” da Banda Calypso é possível conhecer um pouco da beleza de Belém, escutar e apreciar o carimbo, sendo uma dança típica da cultura paraense e conhecer umas das comidas típicas da nossa Belém. Verificamos o quanto o vídeo é compartilhado e curtido, sendo assim fica claro o quanto é possível trabalhar em sala de aula com esse gênero digital. E analisar o que podemos extrair de importante.

Na melodia a banda Calypso faz um convite aos fãs e para o Brasil inteiro, pois é uma banda conhecida mundialmente, provocando assim um convite para conhecer o estado do Pará e apreciar a beleza paraense e seus encantos, promovendo assim o conhecimento da mistura de raças: índio, loiro, moreno, existente em Belém e de pessoas quentes, divertidas, encantadoras e trabalhadoras e que tudo sempre acaba em festa, ou seja, em carimbo uma dança cheia de charme e sacudida que não deixa ninguém parado e é um mistura de raça. Porque nós temos os nossos encantos,  o videoclipe mostra um dos grandes pontos turísticos de Belém “o mangal das garças”. Nele nós conhecemos um pouco da nossa fauna e flora paraense.

E claro não podemos esquecer-nos das nossas comidas típicas que dão água na boca e ninguém resiste. Hoje se ver que sempre os turistas ao sair de Belém levam o açaí, muito conhecido no Japão e Estado Unidos para muitos fins, falam muito do tacacá uma mistura de goma, camarão seco, folha de jambu e tucupi. Logo, fica impossível resistir a esse convite magnífico de vir para nossa Belém, mesmo com essa grande facilidade que temos hoje, de conhecer o mundo sem sair de casa e compartilhando desta era digital.        

Usando as plataformas midiáticas do telejornal, vídeo clip e música, discorremos sobre os diversos olhares da cidade de Belém em âmbito regional e nacional para isso usamos os preceitos de convergência dos meios de comunicação proferido por  Jenkins (2008), o autor afirma que o fluxo de conteúdos através de múltiplas plataformas de mídias, à cooperação dos públicos pelos meios de comunicação, que vão a quase qualquer parte em busca de experiências de entretenimento. Sendo assim percebemos o quanto se fala Cidade, seja bem ou mal, ainda sim nos envolvemos com as mídias e somos capazes de emitir juízo acerca do assunto.

REFERÊNCIAS

CUNHA, TÃO LONGE, TÃO PERTO: A identidade paraense construída no discurso da mídia do Sudeste brasileiro, Araraquara, UNESP, 2011
FOUCAULT, M. A Arqueologia do Saber. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008a.
_____. A Ordem do discurso. 17. ed. São Paulo: Ed. Loyola, 1999.
_____. Microfísica do Poder. 24. ed. São Paulo: Ed. Graal, 2007.
GREGOLIN, M. R.. A mídia e a espetacularização da cultura. In: GREGOLIN, M. do R. (org.). Discurso e Mídia: a cultura do espetáculo. São Carlos: Claraluz, 2003. p. 9-17.
JENKINS, Henry, "Cultura da Convergência". São Paulo: Aleph, 2008.
KELLNER, Douglas; SHARE, Jeff. "Educação para a leitura crítica da mídia, democracia radical e a reconstrução da educação". Educ. Soc., Campinas, vol. 29 - n. 104 - 2008. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-73302008000300004
http://adamazonia2013.blogspot.com.br/search?updated-max=2013-05-02T14:48:00-07:00&max-results=7&start=7&by-date=false


Plano de Aula 


1. IDENTIFICAÇÃO

Título: Os Vários Ângulos de Belém: Por entre Sons, Telas e Desconstruções
Proponentes:
Ana Carla Costa Castilho
Lidiana Oliveira de Almeida
Robert Leandro Silva Freitas

2. OBJETIVOS

OBJETIVO GERAL

 Investigar e analisar como a cidade de Belém aparece diante de diversos recursos midiáticos.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

  • Mostrar diante dos recursos midiáticos como: música e o telejornal  edificam  imagens acerca da cidade de Belém do Pará.
  •  Analisar a música, o vídeo Belém (Murilo Couto feat Fafá de Belém) e o clipe “Belém, Pará Brasil” da banda calypso.
  • Analisar telejornais locais e nacionais.
3. JUSTIFICATIVA

O presente Plano de Ensino justifica-se com fim de realizar uma leitura crítica de como o tema a cidade de Belém é retratada por jornais paraenses de grande circulação local e por Jornais de circulação nacional, e concomitantemente nas músicas. Pretende-se verificar a contribuição dessas informações no incentivo da imagem e da desconstrução das imagens da cidade de Belém para o paraense e para o turista que chega a metrópole. Não se trata de avaliar se a mídia é benéfica ou prejudicial na difusão da informação sobre a cidade, mas sim mostrar como a cidade é vista e catalogar isso para fins de pesquisa. Compreender e avaliar sua função como produtora de uma realidade específica da cidade. A mídia local e nacional, tanto digitais, impressas ou sob o viés do audiovisual, tem se revelado porta-voz de uma pluralidade de discursos que mobiliza e materializa o enorme arquivo que vem sendo construído nas últimas décadas. 

4. CONTEÚDO

Convergência dos meios, musicais, telejornalísticos e audiovisuais em mostrar a cidade de Belém.

5. RECURSOS DIDÁTICOS

Música, Telejornal e Vídeoclipe , assim como Data-show, computador e caixa de som.

6. METODOLOGIA

1° MOMENTO: Será feito uma leitura de um texto publicado no jornal O comunicado da professora Dra. Ivânia dos Santos Neves, que possui como foco central as sociedades amazônicas dentro de olhares de globalização em que estamos vivendo, em seus corpo vemos a presença da cidade de Belém, como um espaço de construção de saber.  No interior do texto há um debate de como Belém do Pará e o espaço amazônico se situam e se dialogam na perspectiva de dizer e imprimir valor ao ser nortista. Presente no link: (http://adamazonia2013.blogspot.com.br/search?updated-max=2013-05-02T14:48:00-07:00&max-results=7&start=7&by-date=false)

2° MOMENTO: Será mostrado aos alunos os passos a passos da aula que será ministrada apontando para o que será discutido e fomentado nos debates acerca da cidade de Belém.

3° MOMENTO: É o momento em que iremos aguçar o conhecimento prévio do aluno acerca da cidade de Belém... Direcionando para as seguintes indagações:
           Vocês já ouviram falar sobre a cidade de Belém?
           Vocês conhecem essa cidade?
           Vocês sabem a localização dela?
           Vocês conseguem entender a importância da cidade de Belém para  o processo de consolidação e valorização da cultura nortista?
          Quando vocês ouvem sobre a cidade de Belém, quais imagens da cidade lhe vêm a mente?
          Essas cidades contribuem para a instauração de uma identidade da metrópole? Se sim, de que forma?
Professor faz-se necessário fazer anotações no quadro das possíveis respostas que surgirão dos alunos

4°  MOMENTO: Percebemos que  de uma enorme relevância trazer o questionamento para sala de aula sobre  mídia, discurso e Poder, sempre levando em consideração o que o aluno tem de conhecimento sobre essas instâncias, e lhe provocando pensar de diferentes modos a partir da voz de teóricos sobre a aula que está sendo ministrada. Diante disso será feito um debate sobre mídia, discurso e poder, primeiramente perguntando aos alunos sobre o que eles possuem de conhecimento sobre esses temas:
·         O que vocês entendem por Mídia?
·         Do que elas se constituem?
·         Quais são seus tipos?
·         O que elas repassam com maior frequência?
·         Sobre discurso, quando vocês ouvem essa palavra o que lhe vem a mente?
·         Vocês tem noção da sua constituição?
·         Cite exemplos de discursos que chegam ate você de alguma forma.
·         Sobre os diferentes poderes que atuam sobre a sociedade, vocês sabem o que eles representam?
·         O que vem a ser o poder?
·         O que vocês entendem sobre ele (poder)?

5° MOMENTO: Achamos interessante passar nesse momento imagens sobre a cidade de Belém, achamos interessante o professor se utilizar das imagens trazidas no blog: Expat Blog (http://www.expat-blog.com/pt/imagens/america-do-sul/brasil/belem/2) e perguntar aos alunos o que eles observam de interessantes nas fotografias que firmam identidades sobre a metrópole.

6° MOMENTO: Iremos entrar na análise dos dados coletados sobre a cidade de Belém, primeiramente analisaremos a musica “Belém” de Murilo Couto e Fafá de Belém, apontando sempre para o que a musica evidencia sobre a cidade e levando em consideração o que pouco foi abordado sobre a cidade.

7° MOMENTO: Faremos nesse momento analise sobre como o telejornalismo nacional e local noticiam a cidade de Belém. Mostraremos dois vídeos, primeiramente uma reportagem advinda no Jornal Hoje e posteriormente o noticiário local se fará presente a partir de uma reportagem do jornal Liberal 1° edição.  A partir desses dois vídeos investigaremos e ao mesmo tempo faremos os alunos identificarem até onde a mídia paraense reproduz aquilo que está sendo enunciado pela mídia nacional a respeito da cidade de Belém e até que ponto ela rompe com aquilo que é exposto pela mídia de fora do estado. Ela estabelecerá uma relação de reprodução ou de ruptura? No caso o Jornal O liberal repetirá os dizeres mais visualizados pela mídia nacional ou irá romper com o que foi exposto?

8° MOMENTO: faremos uma análise do clipe da banda Calypso: “Belém, Pará, Brasil” investigando as características musicais e imagéticas presente no produto audiovisual da banda.
9° MOMENTO: Faremos um apanhado geral do que foi exposto diante da aula ministrada e socializaremos com os alunos os possíveis efeitos e proveitos que eles tiraram da aula ministrada. A partir das seguintes perguntas:
  • Antes dessa aula como vocês observavam a cidade de Belém?
  • Como voes observam agora, diante das explanações desta aula?
  • Foi modificada a visão de vocês? De que forma?

7. AVALIAÇÃO

Elaborar um pequeno questionário e a partir daí fazermos uma roda de discussão.
Questionário:

1)      Antes dessa aula como vocês observavam a cidade de Belém?
2)      Como voes observam agora, diante das explanações desta aula?
3)      Foi modificada a visão de vocês? De que forma?

8. REFERÊNCIAS

CUNHA, TÃO LONGE, TÃO PERTO: A identidade paraense construída no discurso da mídia do Sudeste brasileiro, Araraquara, UNESP, 2011
FOUCAULT, M. A Arqueologia do Saber. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008a.
_____. A Ordem do discurso. 17. ed. São Paulo: Ed. Loyola, 1999.
_____. Microfísica do Poder. 24. ed. São Paulo: Ed. Graal, 2007.
GREGOLIN, M. R.. A mídia e a espetacularização da cultura. In: GREGOLIN, M. do R. (org.). Discurso e Mídia: a cultura do espetáculo. São Carlos: Claraluz, 2003. p. 9-17.
JENKINS, Henry, "Cultura da Convergência". São Paulo: Aleph, 2008.
KELLNER, Douglas; SHARE, Jeff. "Educação para a leitura crítica da mídia, democracia radical e a reconstrução da educação". Educ. Soc., Campinas, vol. 29 - n. 104 - 2008. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-73302008000300004


Para saber mais:


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